Por José Joacir dos Santos
A história do Rei David é uma das mais trágicas do Antigo Testamento ou da bíblia judia. Se você fizer uma comparação com as notícias de jornais dos dias atuais, é mais sangrenta e cheia de ódio que as batalhas entre palestinos e judeus nos dias atuais. O que se sabe sobre a censura dos textos antigos é que a Igreja Católica, e depois os protestantes, o fizeram por interesses políticos próprios, não do povo nem de Jesus (por exemplo, a Bíblia Sagrada, que diz trazer o Antigo e o Novo Testamento, publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil em 1969, suprime totalmente a história de amor entre David e Jonathan). Tanto nos livros apócrifos (livros excluídos) quanto nos originais dos livros permitidos nas línguas hebraica e grega a história sem censura é muito mais interessante, esclarecedora e realista.
Infelizmente, no Brasil e em toda a América de língua espanhola, a população não tem condições nem acesso à verdade sobre aquelas histórias apresentadas nas bíblias originais. O grande exemplo da censura é a história do relacionamento afetivo entre o futuro Rei David e Jonathan, filho do Reiki Saul.
A Bíblia de Jerusalém, publicada em Bilbao, Espanha, pela Editora Desclée de Brouwer, em 2009, e incrivelmente aprovada pela Comisión Permanente de la Conferencia Episcopal Española, totalmente revisada, deixou passar tesouros da história do povo judeu. Nela, o 1º. Livro de Samuel, capítulo 18, detalha a história do Rei Saul, percussor do Reik David e conta a história de amor entre o filho do Rei Saul, Jonathan, e cuidador de ovelhas David. Conta que o Rei conversava com seus soldados em certo lugar e viu um pastor de ovelhas do cabelo loiro, alto e forte, muito jovem e perguntou quem era ele. Trouxeram o jovem até o Rei Saul, que o interrogou sobre sua procedência (quem era o pai, onde morava, como era o costume judeu da época).
Enquanto o Rei falava com David, seu filho Jonathan se aproximou e imediatamente se apaixonou por David. Sim, amor à primeira vista, e foi recíproco. Daquele momento em diante, um usava a roupa do outro e a felicidade se instalou em suas vidas, com declarações públicas de amor. David cresceu e demonstrou todos os seus talentos, inclusive para a arte da guerra. Todas as missões de guerra que o Rei lhe mandava eram um sucesso absoluto. Figura simpática, todos gostavam dele, desde os colegas soldados aos escravos do Rei. A popularidade de David cresceu tanto que o próprio Rei começou a ficar enciumado e apagado. O ciúme passou a perseguição quando o Rei descobriu que os dois não eram só amigos.
Para se livrar de David, o Rei lhe encarregou as mais difíceis e cruéis missões na esperança dele ser assassinado e ele não ter que matá-lo. Numa daquelas missões, o Rei mandou David dizimar um grupo inimigo e trazer 100 prepúcios. Aplicado, David trouxe 200. A circuncisão, assim como a procriação, tinha um efeito religioso poderoso perante os judeus. Quando queriam se referir a alguém inferior chamavam de incircuncisos (os que não eram circuncidados). Arrancar o prepúcio de um homem era humilhação das piores. Imagine como isso deve ter sido feito… Aquelas batalhas eram as mais sangrentas possíveis e depois delas havia saques de bens e sequestros de mulheres iguais aos que hoje fazem os islâmicos no Oriente Médio.
O Rei prometeu uma filha a David e nunca cumpriu a promessa. Em vez disso, tentou matar o futuro Rei de Israel, que saiu de casa foragido e teve que se esconder com os soldados que lhe seguiam. Jonathan também escondeu o amado nos lugares mais difíceis para o pai não o encontrar mas o poder do Rei comprava espiões em todas as partes.
David teve a oportunidade de matar o Rei, chegou bem perto dele, arrancou um pedaço de suas vestes, mas não o fez porque aquele homem era tido como o protegido de Yahveh (Deus). David também o respeitava por ser o pai do seu amado Jonathan e o homem que lhe tirou da pobreza. Em vez de matá-lo, David se ajoelhou aos seus pés e lhe perdoou por toda a perseguição que ele desenvolvia. Covarde, o Rei voltou a lhe chamar de filho querido, mas depois disso ainda tentou matar David até que ele mesmo foi morto junto com seu filho Jonathan e dois de seus irmãos em uma batalha. O ato de perdoar cortou a energia e ela, negativa, voltou para a origem. David recebeu a notícia da morte do amado e disse:
Cheio de angústia por ti, Jonathan, irmão meu, extremadamente querido. Teu amor foi para mim mais delicioso que o amor das mulheres. (Samuel, 1º. Livro, Capítulo 18, Versículo 26).
A vida de David segue em frente. Será coroado Rei. Arrasará todos os seus inimigos e os da derrotada casa do Rei que lhe odiou tanto. Terá cerca de 20 filhos, reconhecidos, fora os não reconhecidos e casará oficialmente com duas mulheres assim como aceitará de presente outras mulheres para agradar a seus comparsas e cidadãos comuns em busca da proteção do Rei. Descobrirá que Jonathan deixou um filho, que já é pai, e mandará buscá-lo para viver com sua família e almoçar todos os dias com o Rei. Nunca amará uma mulher como amou a Jonathan e isso era o costume naquela cultura, assim como ainda hoje é em muitas culturas daquela região do Oriente Médio como os muçulmanos, que casam com quatro esposas para parecem bem diante da sociedade… mas se divertem entre homens.
A cultura antigay, cheia de proibições é fruto exclusivo da Igreja Católica, assinado em baixo pelos protestantes e não tem nada a ver com os ensinamentos de Jesus. Não há registro de uma só palavra de Jesus contra gays, ainda mais ele que escolheu somente homens entre seus seguidores, como era o costume da época e a própria Igreja tenta retirar as futuras participações das mulheres na história do próprio Jesus, como Maria Madalena, descrita apenas como uma prostituta (hoje se sabe que não foi bem assim, Madalena teve uma grande participação junto aos primeiros cristãos).
Isso tudo é política, não é religião. Foi fortalecida pela intelectualidade exacerbada de um franciscano que tinha uma amante e com ela teve um filho que jamais reconheceu: Santo Agostinho. Outro que alimentou proibições e trouxe a sexualidade como tema político para a igreja foi Lutero, no qual Hitler se inspirou para matar 6 milhões de pessoas, judias e não judias, inclusive gays, católicos, ciganos, cadeirantes e toda pessoa que tivesse um defeito físico. Foi Lutero quem escreveu o livro ¨Sobre os judeus e suas mentiras¨, o qual diz que os judeus devem ser mortos, seus bens confiscados e as sinagogas incendiadas, publicado em 1543, quando o Brasil acabava de ser descoberto pelos portugueses.
Quanto ódio implantado em milhares de seres humanos desde mais de dois mil anos atrás e repetido pelas pessoas mais inocentes que sequer sabem a divisão entre novo e velho testamentos. Que seguem fielmente as inverdades e falsificações de publicações bíblicas censurados, mal traduzidas e implantadas em corações e mentes que, como ovelhas, seguem os falsos pastores das igrejas.
Que o amor de David e Jonathan possam inspirar aqueles que se libertam da opressão, do ódio e da escravidão dessas igrejas.