Fui convidado a dar o curso de Reiki II em Chicago por um aluno que veio a San Francisco fazer o nível-I. Aqui chamo-o de Kin. Sua história merece ser contada, salvaguardando, como sempre, a sua privacidade. Logo depois da iniciação no nível-I, a comunicação com Kin aumentou tanto por telefone quanto por e-mail. Ele queria saber de tudo relativo a Reiki, apesar do curso ter sido exaustivo e de ter dado a change a todos os alunos para tirarem todas as suas dúvidas. Ele é chinês e aos 30 anos nunca tinha tido qualquer contato com as terapias energéticas porque a geração dele foi proibida, em seu país, de fazer qualquer contato com tudo aquilo que tivesse relacionado com a espiritualidade — embora o governo tenha mantido acesa a Medicina Tradicional Chines (MTC) porque, além da necessidade da saúde pública, é uma alta fonte de divisas estrageiras através da exportação de ervas, agulhas, ferramentas, etc. Na MTC o espírito não pode ser ignorado.
A sede de respostas e o acúmulo de perguntas tinham a ver com o impacto que a iniciação de Reiki teve em sua vida. Em um mês, Kin rompeu com um casamento de cinco anos, cheio de brigas, separações, voltas e máguas. As mudanças na sua vida também ocorrerem no trabalho, onde foi promovido. É importante mencionar que o carma coletivo dos chineses passa necessariamente pela espiritualidade, de uma forma ou de outra. É como se houvesse um chamado natural do universo, o qual independe da força política, do sistema, etc. Kin viajou para a China e foi direto ao Tibete, de onde voltou carregado de imagens e pinturas.
Convidado para visitar sua casa em Chicago, dei de cara com as tankas cheias de Kuan Yin, Tara e do Buda da Medicina trazidas do Tibete. Ele não fazia idéia do que aquelas pinturas significavam mas confessou que sentira-se atraído por elas no primeiro contato. Quando comecei a explicar o que cada uma significava, o meu aluno começou a andar de um lado para outro da casa, ansioso, inquieto, querendo apressar a data do nível II de Reiki, que seria dois dias depois. “Eu sinto tudo isso dentro de mim” – repetia, para depois me mostrar uma coleção de livros que havia comprado sobre Reiki, em seu idioma nativo.
Finalmente a iniciação chegou. Outros alunos chineses se juntaram ao grupo. Fiquei impressionado com a ansiedade deles por aquele momento. Tive diarréia na noite anterior e esse sinal me disse que a iniciação seria profunda – e foi. Um silêncio absoluto tomou conta do prédio inteiro onde estava sendo efetuada a iniciação. Tive que retirar os óculos da cara porque minha visão voltou ao natural completamente. O fluxo energético era intenso. Tudo brilhava ao redor.
Ao serem apresentados aos símbolos do nível II, os alunos chineses ficaram eufóricos e desenhavam todos com facilidade na primeira tentativa, inclusive o número 3, que os ocidentais levam tempo para aprender. Quando iniciei Kin, fiz contato intuitivo com a mãe dele que faleceu há cinco anos e que nunca a vi nesta vida. Na casa dele, objetos relativos ao ex-casamento caíram da parede. Depois do curso chamei ele para conversar. As imagens viam no meu campo mental com velocidade e a primeira coisa que desejei fazer foi enviar Reiki para a mãe dele falecida.
Naquela noite a mãe de Kin entrou no meu quarto e à sua maneira não desejou mostrar a sua imagem. Ouvia os passos de um lado para outro do quarto, mas nada via. Ele me passou imagens de uma mesa e de um armário na casa de Kin. No dia seguinte chamei o rapaz para perguntar sobre isso e ele, surpreso, mas feliz, disse que acima da mesa tinha as jóias de sua mãe e no armário as roupas que ele não desejou jogar fora. Excitado, curioso e com as mãos geladas, o meu aluno passou a falar da relação difícil com a mãe, que o tinha adotado desde bebê mas que ele a considerava mãe original.
Decidi então fazer uma cerimônia xamânica para promover o perdão entre filho e mãe. O aluno se submeteu à cerimônia, que foi linda e emocionante. Ele sorria o tempo inteiro, repetindo que se sentia de volta para a sua cultura, de uma maneira que jamais havia imaginado. Naquela noite, logo que entrei no quarto de hóspedes a mim reservado, a mãe do meu aluno se mostrou por inteira no meu campo mental, agradecendo, sorrindo e me mostrando a imagem do filho quando pequeno. Conversamos por segundos, e lhe pedi para ir em busca da luz do Sol Central. Ela foi.
No dia seguinte, Kin ligou-me para dizer que estava mudando a posição de todos os móveis da casa de acordo com as orientações de um livro que havia comprado sobre Feng Shue, onde cada coisa tem seu lugar e seu espaço no tempo. Ele também passou a fazer Qiqong após a prática de Reiki e confessou que, pela primeira vez na vida, sentia a vida correr em suas veias de uma maneira inusitada.
Essa experiência veio confirmar, mais uma vez, que, quando uma pessoa da família é iniciada em Reiki, todas as outras são afetadas de alguma maneira, isto é, recebem o chamado da luz. Para aqueles que partiram para o outro lado da vida sem a consciência da luz, a iniciação de um parente funciona como um despertar para a preciosidade da vida em outra dimensão, da qual independe de crenças e que ninguém pode evitar. Por José Joacir dos Santos, jjoacir@gmail.com