Por José Joacir dos Santos
Há uma velha canção de Chico Buarque em que ele diz: ¨tem dia que a gente se sente como quem partiu ou morreu…¨. Sim, é verdade, todo ser humano tem seus momentos de desesperança, de jogar tudo para cima por qualquer besteira, independente do meio-ambiente onde vive. Claro, nos días de hoje é só abrir o jornal para se ver como o desespero anda pelo mundo, cheio de guerras, violência e essa chega a nossa casa pela televisão e pode contaminar os mais sensíveis. Alguns de nós enfrenta a violência na porta da própria casa. Outros, dentro de casa e até nos próprios pensamentos. Então, naqueles días em que, consciente ou não, a gente quer jogar tudo pelos ares, quer cortar relações com o resto do mundo, jogar amizades pela janela, de descartar pessoas ou mergulhar nas cobertas e nunca mais sair são os días em que não se deve tomar nenhuma atitude que possa danificar e ferir a nós mesmos ou a outras pessoas.
Quando a gente se sente ¨como quem partiu ou morreu¨ deve buscar a causa interior sem jogar pedras no resto do mundo porque a gente precisa do mundo para viver e viver de bem. Se o motivo é doença, todo mundo adoece e tem que buscar a cura, de qualquer jeito. Não podemos pumir ou culpar outras pessoas porque ficamos doentes. Quantas pessoas existem nos hospitais, sem esperança alguma, lutando para viver? A gente pode também tomar atitudes desesperadas para chantagear os outros e isso parece com aqueles casos em que pessoas cortam os pulsos dizendo que querem morrer – mas só querem chantagear.
Há outros aspectos desse tema, por exemplo, as crises da idade que ocorrem entre 40 e 50 causadas pela falta de elementos químicos no corpo. O corpo humano não consegue repor nem extrair dos alimenos a grande maioria das vitaminas e minerais partir dos 40 anos de idade. Também não consegue processar certos alimentos da mesma forma de quando era mais jovem. Quando se tem menos de 40 a gente come um ou dois bifes grandes com facilidade e o corpo processa. Depois dos 40 isso não acontece mais, a gente tem que diminuir os bifes pela metade e corrigir grande parte da nossa dieta para evitar os problemas intestinais, do fígado e do baço. Quase sempre necessitamos, nessa fase, de complementos vitamínicos de calcio, ferro ou zinco que o corpo não consegue mais sacar dos alimentos – e pouca gente sabe disso.
Pessoas que se trancam na juventude por uma decepção amorosa, de trabalho ou um trauma de família podem querer voltar ao tempo na casa dos 40, quando a madurez física chega à força. A madurez emocional não é automática e não depende da idade. Há pessoas que tentam se comportar iguais aos netos e nem percebem o ridículo. Pelos acessórios que as pessoas usam nas ruas é fácil ver esse comportamento. A gente ver vovozinhas andando de pochete de adolescente e homens já velhos querendo andar de skates. O proceso de envelhecimento é natural e não significa entregar os pontos nem se render a nada, mas é preciso se olhar e se ver o tempo todo. Quando a gente se olha e não se vê tem que buscar ajuda externa para poder se adapar á idade.
Isso não significa que a gente deve sair por aí apontando o dedo para quem sabe envelhecer ou não. Cada ser humano é um universo criado por Deus, com diferenças e peculiaridades. Mas, a própria história da humanidade ensina que é preciso aprender a conviver com os altos e baixos da vida, do desequilibrio hormonal, da falta de afeto e de muitas outras faltas desde o nascimento — porque todo mundo passa por isso. Nascemos para sermos felizes, não importa que situação a gente tenha que lidar no dia-a-dia. Aquilo que parece um monstro na minha vida pode nada representar na de outra pessoa. Assim, temos que ter a humildade de perceber que precisamos de ajuda externa. Nos países europeus, esse processo de reconhecimento das incapacidades e necessidades que aparecem no envelhecimento é mais fácil porque as gerações de hoje passaram por guerras sangrentas – aprenderam a valorizar o pão de cada dia! No Brasil, além da falha na educação sobre o envelhecimento – a tv ensina que ser jovem é para sempre –, o país nunca viveu uma guerra e a grande maioria das pessoas vive infeliz por não ter experiência profunda de sofrimento coletivo. Veja o que está acontecendo com as camadas mais pobres da população, assistidas pelos programas sociais como Bolsa-Família. Elas estão indo para as ruas protestar depois de eleições livres e diretas, pedindo a volta da ditadura militar — imaturidade emocional! Enquanto isso, os ricos compram casas em Miami porque acham que o país é horrível – e o americanos riem deles! Faltam em todos a experiência de lidar com momentos difíceis sem se desesperar. Falta a maturidade pelo sofrimento e a comprensão de que há días em que a ¨gente se sente como quem partiu ou morreu¨ mas isso não significa jogar tudo pela janela.