Veja abaixo trecho do ¨Livro Vermelho¨ de Carl Gustav Jung onde ele narra uma visão que teve do dilúvio e do seu reencontro com a própria alma que ele pensava ser ficção científica. A tradução é minha. O livro foi proibido de ser publicado por algumas décadas. Segundo artigo de Rosane Pavan, publicado na Revista Carta Capital em março de 2010, sobre o Livro Vermelho,¨A família não queria dar ao conhecimento público esta faceta que considerava controversa do pensador. Temia as polêmicas que sempre seguiram o antepassado, deixando-o muitas vezes só, e injustamente, naquele limbo habitado por médiuns, espíritas e charlatães. O tempo se encarregou de mudar suas impressões¨. jjoacir@gmail.com
¨Quando eu tive a visão do dilúvio, em outubro de 1913, esta foi, de uma vez por todas, como homem, muito significativa. Naquela época, nos meus quarenta anos, tinha conseguido tudo o que sempre quis. Tinha alcançado a fama, o poder, a riqueza, o conhecimento e toda a felicidade humana. Então acabou o meu desejo de aumentar esses bens, o desejo retrocedeu em mim, e eu fiquei aterrorizado. A visão do dilúvio me pegou, e eu senti o espírito da profundidade, mas não entendi. No entanto, fui acometido de uma enorme saudade interior, e disse:
Minha alma, onde está você? Me escutas? Eu falo contigo, eu te chamo, você está aí? Estou de volta, estou de volta aqui, sacudi a poeira dos meus pés, a poeira de todos os lugares, e eu vim para você, eu estou com você, depois de anos e de uma longa caminhada, voltei para você. Eu tenho que lhe dizer tudo o que eu vi, vivi e bebi em mim. Ou não quero ouvir nada dos cheiros e ruídos da vida e do mundo? Algo, no entanto, tens que saber: uma coisa eu aprendi, é que a gente tem que viver esta vida. Esta vida é o caminho, o caminho em direção a algo tão procurado e indescritível que chamamos de divino. Não há outro caminho. Todos os outros caminhos são vagos caminhos. Eu encontrei o caminho certo, ele me levou a você, a minha alma. Retornei temperado e purificado. Você ainda me conhece? A separação durou tanto assim? Voltei tão diferente? E como te encontrei? Essa foi a minha viagem maravilhosa! Tudo tornou-se tão diferente! E eu achei que você? Isso foi me maravilhosa viagem! Com que palavras devo descrever os caminhos tortos pelo qual uma estrela da sorte me orientou até você? Dê-me sua mão, minha alma quase esquecida. A vida me levou de volta para você. Quero agradecer à vida que eu vivi, agradecer a todos os momentos felizes e tristes, todos, obrigado pela alegria e pela dor. Minha alma, você tem que continuar minha jornada. Com você quero andar e ascender na minha solidão.
O espírito das profundezas me obrigou a dizer isso e ao mesmo tempo a vivenciar em mim, o que eu não esperava. Naquela época eu ainda estava completamente preso no espírito deste tempo e pensava diferente sobre a alma humana. Pensava e falava muito da alma, com palavras eruditas sobre ela, julgava e fazia dele objeto da ciência. Não pensei que a minha alma não poderia ser objeto da ciência. Não pensei que a minha alma não poderia ser objeto de meu juízo e do meu conhecimento. É por isso que o espírito da profundidade que eu me forçou a falar com a minha alma, chamo ela agora de ser vivente. auto-existente. Eu tinha que perceber que eu tinha perdido a minha alma¨.