Por José Joacir dos Santos
No início dos anos 1970 chegavam aos estudantes de segundo grau na Paraíba vários tipos de influência, não se sabe, ao certo, quem espalhava elas. Tentei me aproximar de uma delas porque a apelação era bem sedutora e todos os meus colegas falavam disso: anarquismo. Ninguém sabia muito o que seria isso, mas o famoso A (de anarquia) aparecia nas paredes das escolas. Claro, o Brasil vivia no auge da ditatura militar e o Nordeste sentia esse clima do mesmo jeito que o sol nas praias de Recife. A escassez de livros sobre anarquismo era um fato real. A biblioteca da minha escola, uma das mais conceituadas da região, vivia fechada. O diretor tinha outros objetivos, todos particulares. Instruir jovens é um perigo… Então, eles deixavam que a gente aprendesse o básico de matemática, química e física, tudo teoricamente, nada de laboratório. A cidade tinha uma das mais conceituadas universidades federais do país, mas a universidade e as escolas de primeiro e segundo graus não se comunicavam, como acontece até hoje – talvez isso fosse orquestrado. Então, a imprensa centralizada no Rio de Janeiro vivia espalhando os seus devaneios. Nada era gerado no estado. A cultura local não existia. Tudo vinha do Rio de Janeiro, com forte carga de preconceito e ignorância carioca – o Rio era tudo. O resto do país, nada. O Rio vivia de frente para o mar e de costa para o país. Mulheres cariocas saíram às duas do Rio de Janeiro para apoiar a ditadura militar de 1964. Jovens brasileiros participaram, em plena pandemia da Covid-19, de manifestações antidemocráticas, sem máscara e contra a vacina que ainda sequer existia.
Entre os meus colegas de escola havia pequenos debates e alguns se definiam como anarquistas, sem saber o que estavam fazendo. A gente deixava o cabelo crescer porque o cantor Roberto Carlos deixava. Ninguém sabia ao certo o que acontecia na Europa com o nome de Beatles. A maioria dos estudantes daquela escola era filha de endinheirados e políticos, cujos grupos só se preocupavam, mesmo, com seus bolsos, nada mais. Uma revista carioca que tive acesso falava do cinema norte-americano e elogiava o comportamento anarquista de James Dean. A primeira cada das grandes revistas da época era quase sempre com a foto de uma miss universo. O coitado do ator James Dean mal se sustentava com seu cigarro na boca, suas calças frouxas, sua exagerada preocupação com o cabelo e com sua sexualidade mal resolvida. Para nós, adolescentes, sim, era um excelente ídolo, o centro da rebeldia. Mas, Dean nem abria a boca. Toda sua fama era fabricada pela imprensa norte-americana, ávida de propagar a ideologia capitalista daquele país, reforçando sua superioridade sobre toda a América Latina, conhecida com o quintal da América. Posters de James Dean e de Che Guevara eram perseguidos. Todos nós queríamos ter um deles na parede do quarto, mesmo sem saber de verdade quem era quem. A propaganda de Che Guevara era também delirante. Pintavam ele como um ídolo, quase um santo. As Forças Armadas da época facilmente taxavam de comunista quem fosse pego com um poste de Che Guevara. E o que era mesmo comunismo? Ninguém sabia. Ouvia-se falar que a pobre ilha de Cuba era um perigo iminente para o resto do mundo. Hoje em dia Cuba não consegue nem abastecer seus postos de gasolina. A União Soviética, acusada de manter Cuba, é apenas um nome desastroso da história universal, apenar do presidente russo querer, a todo custo, voltar no tempo e reimplantar a ditadura da época soviética, começando com a destruição da Ucrânia. Pistoleiros internacionais, armados por oligarquias russas, estão hoje criando guerras em grande pare da África e matando gente na Ucrânia. A suspeita é a de que Cuba apenas servia como cabide de emprego para os milicos soviéticos, alimentados pela neurose anticomunista dos evangélicos dos Estados Unidos. E assim continua caminhando a humanidade! O comunismo fracassou em todos os lugares onde foi imposto no mundo, exceto na cabeça de alguns políticos brasileiros da extrema direita.
Voltando à anarquia, o seu autodenominado fundador foi o francês Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865). Nascido de família pobre, com dificuldade de comprar sapatos para ele ir à escola, com o dom de escrever, não foi difícil para ele começar a analisar a vida com base na sua própria pobre família. Quando suas opiniões começaram a se espalhar, no pequeno círculo francês intelectual da época, o russo Karl Max, que se escondia em Paris, viu nele um grande potencial para propagar as ideias revolucionárias comunistas porque o anarquista Proudhon pregava que a propriedade privada era um assalto, um roubo, algo que deveria ser combatido. As privações que foi obrigado a aguentar deste a infância marcava como ferro e fogo em seu corpo emocional, como alguém que foi estuprado e não fez terapia. Desfrutava dos melhores ambientes que tinha acesso, mas deplorava a propriedade. No Brasil atual há quem ainda acredita que invadir propriedades é honesto.
Chegou a publicar livros e artigos reforçando suas teorias fora da realidade: “o governo de cada um por si mesmo”. Segundo as ideias de Proudhon, “ser governado é ser vigiado, inspecionado, espionado, dirigido, guiado pela lei, numerado, regulado, registrado, doutrinado, pregado, controlado, verificado, estimado, valorizado, censurado, comandado por criaturas que não têm nem o direito nem a sabedoria nem a virtude para fazê-lo”. Como seria possível o mundo existir se não houvesse países estruturados com governos, organizações governamentais, eleições, democracias? Só na cabeça de quem passou fome na infância! Essas ideias toscas se assemelham muito às daqueles brasileiros que acreditam que os países não devem ter uma suprema corte. Haja efeito de morfina!
No final da vida, sem ter conseguido convencer a humanidade, o anarquista Proudhon tentou suavisar suas ideias. Quanto mais ele mexia mais piorava. Imagine se o mundo tivesse comprado aquelas ideias de invasão de propriedades! A Amazônia já teria desaparecido do mapa. Ao longo de sua curta vida, Proudhon serviu de alvo de chacotas da extrema esquerda e da extrema direita francesas, cada uma mais perdida que a outra. A principal líder da extrema-direita francesa atual não consegue ganhar nenhuma eleição porque suas palavras já não explicam mais nada. Ninguém esqueceu que Proudhon defendia que o lugar de mulher era na cozinha. Até os dias de hoje os franceses sofrem do excesso de arrogância. A Torre Eiffel está, hoje em dia, infestada de ratos. Desde 2020, os francesas saíram às ruas para protestar contra a vacina para Covid-19. Ignoraram completamente a quantidade de pessoas que faleceram na própria França. Médicos diziam para as pessoas não se vacinarem. Milhares de pessoas morreram de Covid-19 no mundo inteiro, inclusive na França e nos países de língua francesa.
Com todo um pacote predisposto ao fracasso, o anarquismo chegou a incomodar na Europa. Seguidores de Proudhon fundaram várias correntes anarquistas, inclusive o anarquismo terrorista. Segundo essa falange, a revolução popular deveria ser implantada através da violência popular, pela força, por manifestações populares violentas como a que aconteceu em Brasília em 8 de janeiro de 2023. Nos dias atuais, há quem pegue trechos de textos tóxicos para fomentar teorias anarquistas ou nazistas. Obviamente que o interesse é pessoal, nada mais. A segunda guerra mundial provou, até?w para quem tem não tem a massa cefálica equilibrada, que a guerra é sempre um desastre humano e os motivos que geram as guerras são sempre contra a humanidade. É triste ver na tv, todas as noites, manifestações nas ruas de Paris, por qualquer motivo, sempre com a destruição de patrimônio público. O que me chama a atenção nas imagens daquelas manifestações francesas é a cor do cabelo das pessoas que levantam antigas bandeiras: branca! É o que também aparece na maioria das imagens de tv dos acontecimentos de 8 de janeiro de 2023 em Brasília.
Qual a contribuição do movimento anárquico para a humanidade? Nenhuma. Liberdade sem responsabilidade não é liberdade. Qual a relação entre anarquia e democracia? Nenhuma. Todos os sistemas militares autoritários usaram as manifestações antidemocráticas e anárquica para fortalecer a ditadura e os regimes militares fechados. Qual a relação entre anarquia e liberdade de expressão? Nenhuma. Liberdade de expressão exige respeito por todas as partes envolvidas e a anarquia não respeita ninguém.