Por José Joacir dos Santos
A expressão bode expiatório é utilizada em várias línguas porque a origem dela vem no Antigo Testamento, isto é, das crenças dos judeus, antes da vinda de Jesus. É uma expressão copiada pelo cristianismo. Grande parte dos pastores evangélicos brasileiros confunde o velho testamento (que Jesus criticava e reprovava) e o novo testamento, que estariam incluído os evangelhos dos seguidores de Jesus, embora seja tudo versão que alguém disse que foi escrito por alguém. Cristãos homofóbicos (não sei se podemos usar essa expressão porque Jesus não condenou ninguém pelo gênero) e apoiadores da ideologia direitista tendem a citar Levíticos quando não têm álibi nas discussões sobre o direito de todo ser humano de livremente ser o que é. Infelizmente, na história brasileira há muitos bodes expiatórios criados e condenados pela sociedade que prefere os caminhos desumanos, cheios de ódio, aos humanos, amorosos.
Pois bem, se você insiste em dar crédito a tudo que está na bíblia, especialmente em Levíticos 16:8, ao se referir àquela expressão, o autor diz: “E Arão lançará sortes sobre os dois bodes: uma sorte para o Senhor, e a outra sorte para Azazel”. Como nas diferentes épocas que os textos bíblicos foram escritos (e muitos deles mal traduzidos) não tinha Google nem eles sabiam o que era referência bibliográfica, o autor de Levíticos deixou de anotar que a expressão fazia parte da cultura judia antes dele. Se fosse hoje seria julgado pelos direitos autorais. Naquela cultura (que seguia a ideologia do conservador e analfabeto Moisés), a expressão bode expiatório já existia há séculos, inclusive era usada entre os escravos judeus no Egito. Naquela época, religiosos e líderes tribais costumavam reunir a comunidade para celebrações e uma delas tinha o objetivo de botar a culpa em alguém por todos os “pecados” cometidos. Era uma espécie de terapia negacionista.
O líder ou a comunidade apresentava um bote e diante dele toda a comunidade jogava seus pecados, suas culpas e malfazejos. Quando todo mundo estava satisfeito e tinha jogado para fora do peito tudo aquilo que incomodava, o desafortunado bode era levado ao topo de um precipício e jogado para morrer, da mesma forma que o famigerado “estado islâmico” fez com supostos rapazes gays, jogando-os de prédios altos, enquanto a comunidade aplaudia na rua…
Não foi à-toa que o mestre Jesus teve uma grande missão depositada sobre os seus ombros: espalhar o amor, ensinar sobre o amor, tentar repelir todo o ódio amplamente assentado no antigo testamento e repetido de geração em geração até os dias atuais. Muitos judeus se afastaram desse fanatismo religioso brutal, mas, pasmem, parte dos evangélicos repetem tudo como se fosse uma cultura cristã – e não é. O anjo Azazel, citado por Levíticos, “é um Demônio Maior, também conhecido como Armeiro e Tenente do Inferno, apenas abaixo de Lúcifer. Azazel estava entre os anjos que seguiram Lúcifer e foram expulsos do Céu por sua insubordinação”. Dito isso, fica clara mais uma contradição da bíblia, quando diz que não se pode servir a dois senhores, mas a oferta do bode expiatório era feita exatamente ao anjo Azazel, seguidor do anjo Maior…
Ao longo da história pós-Jesus, o leitor mais atento vai perceber que havia figuras que se diziam pró-Jesus, inclusive se tornavam padres e até papas, mas nunca estiveram no time de Jesus. A história não censurada de Lutero não fica atrás. A quem ele servia mesmo? Seja lá a quem foi, quem condena um ser humano ao fogo do inferno está repetindo e confirmando os interesses do anjo Maior. Assim fizeram tanto a igreja católica como comunidades inteiras chamadas de protestantes, na Europa e até no Brasil, durante o sombrio tempo da inquisição. A indústria cinematográfica tem tentado explorar esse lado sujo da história em filmes como “Priest”, onde um jovem padre é preso, condenado e humilhado por ter se relacionado com outro jovem da sua idade, na Irlanda, nos anos 1980, onde havia uma guerra religiosa entre protestantes e católicos. Se matavam em nome de um Jesus, que não condenou ninguém à morte e nem ao fogo do inferno. Veja meu livro “Prazer entre homens”, disponível na amazon.com.br.