Por José Joacir dos Santos, jornalista e psicoterapeuta
Um os mais antigos debates entre cristãos é sobre comer ou não comer carne, seja vermelha ou branca. O centro das discussões é basicamente espiritualista ou simplesmente crendice aprendida e repassada como as fakes news. Por falta de argumento e claridade espiritual, as pessoas também tentam colocar na espiritualidade histórias de pecado e condenação sexuais, como se sexo tivesse alguma coisa a ver com deus. Do ponto de vista da medicina chinesa, a carne tem a energia fria. Quando a energia vital sai do ser vivo, seja animal ou humano, o corpo esfria. Há vários motivos pelos quais a carne é assada, entre eles a crença de que a carne fica mais saborosa para a ingestão. Mas essa ideia pode ser igual àquela de que café com açúcar é melhor e todos nós sabemos que a açúcar tira o sabor do café, do chá, das frutas naturais etc. No polo norte, ursos adoram um salmão pego com as mãos e nem sabem que poderiam assá-lo antes de comer.
Para que se tenha uma digestão sabia é importante que o alimento seja ingerido com equilíbrio e isso depende muito da temperatura dele e da época em que é ingerido porque o corpo humano vive dentro do ciclo dos cinco elementos. O sistema digestivo processa melhor os alimentos quentes, seja no frio do inverno ou no calor do verão. O calor do alimento tem um papel fundamental em toda a temperatura do ser humano. Por essa razão é que água gelada desequilibra o ciclo intestinal e estomacal mesmo no verão. A carne consegue segurar a temperatura quente até momentos depois da ingestão, mas, em seguida, esfria. Quando ela esfria os órgãos digestivos tem dificuldade de processá-la. Mesmo quente, um pedaço de bife dá mais trabalho para ser digerido, de forma que o organismo dá prioridade ao que é mais fácil. Não tendo outra opção, vai demorar no processamento da carne.
Quanto maior o pedaço de carne ingerido, mais tempo o organismo demora para digerir. Aquele sono depois de um churrasco gostoso retrata bem o cansaço que o sistema digestivo está tendo para processar toda carne recebida. Certas pessoas demoram para evacuar depois de um churrasco ou da ingestão de um bife assado. Com o tempo a carne fria não processada apodrece nos intestinos, o mal hálito sobe, o odor aparece nas axilas e nas partes mais sensíveis. Ao abrir espaço para processar o mais fácil, o organismo vai largando a carne fria nas paredes laterais dos canais intestinais. Algumas pessoas têm diarreia depois de um churrasco.
O consumidor frequente de carne engorda facilmente, mas não se trata de uma gordura sadia. Aparecem os famosos pneus laterais e a barriga. Pode ser, apenas, o acúmulo de alimentos enganchados nas paredes intestinais. Na região sul do Brasil e nos estados estadunidenses onde as pessoas comem muita carne, a obesidade é frequente. A parte negativa da carne não parece estar na culpa de quem ingeriu, mas, sim, na dificuldade digestiva que ela apresenta por ser constituída de energia fria. Grande parte do calor vital que o ser humano apresenta tem a ver com o fogo do espírito. Quando esse fogo se separa, o corpo esfria de forma irreversível, morto.
Embora a proteína que o corpo humano necessita possa ser adquirida em frutas, por exemplo, a carne é uma excelente fonte de proteína. Desde a antiguidade humana que a carne é utilizada como alimento, especialmente em regiões da terra onde havia dificuldade de produção de outros alimentos. Continentes como a Europa só vieram a diversificar sua alimentação depois do descobrimento das américas, quando os navios voltaram com milho, batata, macaxeira e frutos do novo mundo. Por não possuir animas de grande porte em quantidade, a Ásia se especializou no consumo de frutos do mar e até os dias de hoje a carne de vaca é uma iguaria cara e importada na China e Japão, por exemplo. Dessa forma, o ser humano daquelas regiões desenvolveu seu corpo de forma menos agressiva, o que ainda é possível ver nas peles macias, rostos suaves, olhos apertados, charmosos e inteligência acurada.
A decisão de comer ou não carne deveria levar em consideração a saúde e não a espiritualidade ou a crença religiosa. Quando o universo criou a terra sabia que seus habitantes tentariam comer uns aos outros e esse processo de canibalismo faria parte do crescimento espiritual de cada espécie. Em algumas culturas come-se carne de cachorro, de gato e esse hábito se torna repugnante em outras culturas. O polvo é uma iguaria rara e cara em certas culturas e em outras há a consciência ativa de que o polvo é um ser altamente evoluído, com sentimento e pensamento ativo, capaz de interagir com o ser humano e ser afetivo. O que conta em cada situação é a consciência espiritual ativa e desenvolvida. É a capacidade de olhar, ver e enxergar. A grande maioria da população viva na terra não consegue olhar, ver e enxergar. Navega como um barco de madeira morta que precisa de comando e impulso externo, nada mais. 20/09/2020