Por Jose Joacir dos Santos. Fotografia do acervo do autor
Levante o dedo quem conseguir controlar a mente, totalmente. Claro, somente pessoas muito raras e bem treinadas conseguem. Focar nos projetos e na vida tem sido um desafio desde as civilizações mais desenvolvidas da humanidade: persa, árabe e grega. Muitos pensam que o Egito era a civilização mais evoluída, mas não era. Com toda ajuda que possam ter tido, o mundo dos faraós era limitado. A cultura deles era direcionada para o pós-morte em vez de viver o presente momento. Mesmo assim, viviam em um mundo de intrigas e fofocas, onde os casamentos consanguíneos eram quase uma norma. Todos sabemos que aqueles casamentos são prejudiciais para quem nascer deles. Muito antes dos descobrimentos portugueses, seguidos dos espanhóis, já existia um mundo pensante que lutava para focalizar no que era necessário aos seus projetos. Mas, era difícil.
Nas classes dominantes, especialmente aquelas que se auto coroavam e viravam reis e rainhas, a preocupação com as vestes e as coroas era maior do que o que realmente interessava no momento presente. Pessoas eram escravizadas e assassinadas gratuitamente. Viraram péssimos governantes. Alguns deles, assassinos. Tudo valia para manter o poder. Sem o foco, objetivo de seus projetos, o sangue rolava pelos caminhos e muita gente inocente perdeu suas vidas. Na verdade, ninguém perde a vida, deixa de realizar os projetos que concordaram em materializá-los antes de nascer. E aí vira carma para ambos os lados. São ciclos de ódio eternos que se perpetuam sem solução. Veja o Oriente Médio de hoje, uma guerra após outra, mortes todos os dias no seu jornal da televisão. Naquelas terras, séculos atrás, a água que alimentava as plantas era sangue humano. A roda do carma continua rolando.
Focalizar no que realmente interessa, que é o momento presente, é um desafio e tanto. Civilizações inteiras se perderam na escuridão da noite. Não precisamos ir muito longe para comprovar isso. Basta ver o que aconteceu com os portugueses que aportaram nas terras hoje brasileiras. Encheram seus navios de preciosidades adquiridas facilmente para trocá-las por favores na corte portuguesa. Cristóvão Colombo morreu em uma pequena vila indiana ao lado de baús cheios de tudo o que não podiam salvar a sua própria vida. Pedro Álvares Cabral gozou de pequena fama ao voltar a Portugal dizendo que tinha descoberto uma “pequena ilha”, ao custo de muitas vidas, e caiu no esquecimento, ao ponto de ninguém saber, ao certo, onde morreu.
Os religiosos que ocupavam as embarcações portuguesas, com o objetivo de expandir a fé católica, também sofreram muito. A maioria não conseguiu focalizar nos objetivos da missão. O chefe deles, o primeiro bispo do Brasil, Pero Fernandes Sardinha, tipo como egocêntrico e racista, odiava índios, teria morrido como uma sardinha. Índios do litoral brasileiro teriam literalmente comido o bisco Sardinha assado em um ritual canibalista, em resposta aos insultos racistas dele. Muitos outros religiosos, sem vocação alguma, usaram suas posições na Igreja para enriquecer à custa de pobres índios despidos. Poucos e verdadeiros, como alguns jesuítas, conseguiram ser o que deveriam ser. Focalizar na vida, em um ideal ou em algum projeto é muito difícil.
A grande maioria das pessoas vive às custas de outras. Não têm foco, não sabem lidar com a dureza que é perseguir um projeto, um ideal próprio. No meu trabalho atual, vejo jovens de 19 a 25 anos completamente perdidos. Dependem dos pais para tudo. Tornam-se, facilmente, vítimas das drogas e do narcotráfico, com a facilidade de se envolver no crime através das redes sociais, sem a capacidade de discernir o que é certo ou errado, o que é valor ou inversão de valores.
No ano 435 do século V, faleceu o monge John Cassian, responsável pelo movimento cultural conhecido como monasticismo ocidental. Inúmeras ordens religiosas europeias foram fundadas com base nos ensinamentos desse monge cristão, que preferia viver no deserto. John conseguiu colocar no papel dicas de como focalizar. Inúmeras editoras publicaram, em diversas línguas, resumos do pensamento de John sobre focalizar. Um desses livros se encontra na Amazon, sob o título “How do focus” (Como focalizar). Nesse livro, o leitor precisa ser persistente porque o linguajar filosófico de séculos atrás tinha a preocupação de ser cordial, não era direta como queremos hoje.
Depois de ler o livro inteiro, lentamente, você vai concluir que a receita de John é bem simples: reze o tempo inteiro; não deixe a sua mente lhe controlar. Controle ela pela oração. Interrompa seus pensamentos com orações e imagens sagradas. Quase no final do livro ele repassa um mantra e diz para repeti-lo a qualquer dia, a qualquer hora, mesmo no banheiro, no meio da noite: colocando a sua mente na imagem de Jesus, você repete, com o coração cheio: ajude-me senhor! Sim, ele testou tudo que ensina e os testes dele refletem muito bem o que eu e você podemos verificar hoje, neste momento. Quantas vezes estamos no meio de orações e a mente deixa de focalizar nelas para lembrar a você que aquela conta de luz tem que ser paga amanhã? E aí você se esforça para desviar o pensamento e entra outra imagem empurrada pela mente, aquela que eu não posso falar aqui, mas que seu corpo, inesperadamente, demonstra no que você está pensando…
Ele cita o drama de monges religiosos que precisam cumprir a promessa de castidade e que, no meio das orações e cânticos sagrados o corpo reage como se estivesse na praia, naquele calor de verão… Não é que a mente seja traiçoeira como alguns de seus colegas de trabalho ou pessoas de sua família. É que a mente não tem filtro. Ela é como uma antena parabólica aberta, captando todos os sinais que passam com as estrelas e você que se vire para selecionar o que e no que deseja focalizar. Essa é uma tarefa muito difícil, que exige disciplina, treinamento, força de vontade e autocontrole. Ninguém consegue isso sem treinamentos especiais, que nem a família nem a sua igreja podem oferecer.
Quando eu li aquele mantra sugerido por John, fiquei meio duvidoso. Como ocupar o Mestre Jesus, dia e noite, com uma súplica, um pedido de ajuda? Logo eu que aprendi com a psicologia que não devemos colocar nada da nossa vida nas mãos de ninguém, nem de Jesus, mas, sim, assumir nossa vida, nossa cruz! Coloquei o mantra em prática e fui surpreendido com uma suavização na minha mente e no meu coração. Ajude-me Jesus! Analisando sob o olhar budista, que é uma das origens dos mantras, percebi que fazia sentido. Não é que estejamos colocando nossos problemas nas mãos do Mestre Jesus. Ao verbalizar aquele mantra, a gente vai acessar um portal, em algum momento, tudo o que a nossa mente não pode compreender, mas que está por trás do mantra ajude-me Jesus!
Então, você visualiza a imagem de uma pessoa doente da família e ajusta essa imagem à do Mestre Jesus e repete, várias vezes: ajude-me Jesus. Esse ensinamento vai muito além e não pertence nem posiciona você no enquadramento de nenhuma seita cristã. Religiosidade não tem nada a ver com religião. Jesus era religioso, mas não tinha uma religião. Observe que pessoas que não tiveram uma orientação religiosa na infância jamais serão bons crentes. Não adianta os assédios de pastores ou padres. Ela pode ir à igreja, mas algum diz decide não voltar nunca mais, especialmente idosos.
A orientação religiosa deve estar de acordo com o exemplo de vida de quem orienta. Por isso que muitas das seitas cristãs atuais repetem: façam o que eu digo, mas não faça o que eu faço. E isso é muito difícil de cumprir. Como você consegue dar exemplo de bondade se sua comunidade é carente até de alimentos e você passa férias em Miami? Como ser bom se sua mãe está internada em um asilo, solitária, e você mora na mesma cidade, mas nunca vai lá dar um abraço nela… Como ser um exemplo de vida se você mente para conseguir o que deseja… na política, na família, na igreja, no trabalho, na padaria…
Ajuda-me senhor Jesus a ser uma boa pessoa neste momento da vida!