Por José Joacir dos Santos, psicossomatista e psicoterapeuta
O vírus da covid-19 chacoalhou todo o nosso sistema imunológico e isso inclui a nossa memória ativa e inativa. As vacinas enfrentaram uma terrível batalha e conseguiram diminuir a agressão da virose nos vacinados. Quem teve a doença depois da terceira ou da quarta dose foram afortunados e agraciados com sintomas leves, que desapareceram rapidamente da superfície do corpo. Centenas de pessoas faleceram sem conhecer a vacina. Como o vírus é inteligente, mais que aqueles humanos que diziam que a pandemia era uma gripezinha, a grande maioria das pessoas sofre de sequelas, em níveis diferentes. Isso não é uma novidade exclusiva da covid-19. Muitas outras viroses deixaram sequelas, muitos vezes imperceptíveis e pouco investigadas.
Antigamente as pessoas pensavam que o fato de lavar as mãos com água era suficiente. Com o tempo e a evolução dos microscópios ficou claro que a água, sozinha, não basta. É preciso usar também o sabão. A covid-19 trouxe nova versão: lavar as mãos com água, sabão e passar álcool várias vezes, dependendo do contato físico. Mesmo assim é, ainda, preciso usar máscara e manter distanciamento. As sequelas variam de pessoa para pessoa, dependendo da imunidade de cada um e de quantas doses da vacina foram tomadas. Quem não se vacinou, para agradar aos incautos, pereceu ou está pagamento alto preço com as sequelas. No continente africano, milhares de pessoas ainda não conhecem o hábito benevolente de se lavar as mãos, por falta de água ou de estrutura social.
Nesse contexto, vale à pena lembrar que não é só isso. Quem tomou todas as quatro doses, usou máscara, fez o distanciamento e mesmo assim contraiu o vírus não se livrou das sequelas. Mais do que nunca sabemos agora que cada indivíduo é único e reage diferentemente a um ataque virótico. Aquele pensamento da alopatia de que todos éramos iguais ficou no passado. Acrescente agora o fato de que todo ser humano guarda, em todas as células, sangue e tecidos, seu próprio banco de memórias, mesclado com experiências genéticas de seus antepassados e das próprias vivência na vida presente. A violência do vírus penetrou em tudo, inclusive no nosso banco de memórias. Cientistas comprovaram que o vírus da covid-19 rapidamente se aloja no cérebro, os ovários e nos testículos. Uma das sequelas que muita gente sofre é da instabilidade da memória. Não é só o esquecimento que preocupa, os demais corpos que todos nós temos, como o corpo emocional, o corpo mental e o corpo espiritual, também sofrem com as sequelas. As vítimas não percebem essa invasão sozinhas.
Pessoas que sofreram de depressão e não curaram ou que sofrem desse mal por força da hereditariedade estão percebendo a tristeza voltar, aquela tristeza antiga que lembra muito bem o estado emocional da depressão. O isolamento da pandemia deu um golpe no emocional fragilizado das pessoas: a solidão é uma faca afiada, de dois gumes. Em se falando de memória, nada desaparece dos nossos corpos sutis, incluindo o mental e o emocional, sem que a gente trabalhe, com consciência, o desgarramento. Traumas obedecem comandos mentais, conscientes ou inconscientes. Soltar o passado sofrido ou o sofrimento herdado ou vivenciado não é fácil para ninguém e nem ocorre do dia para a noite. Há pessoas que tiveram covid e que sentem dores pelo corpo, como por exemplo, nos ombros. Mas, há os que sentem dores na alma, as dores do corpo emocional e mental. Tudo se intensifica se houve perda de pessoas próximas, amigos ou parentes e se a estrutura emocional-mental do indivíduo já acumulava sofrimento e dor, consciente ou inconsciente, antes da pandemia. O remédio não vem em cápsulas.
A emoção precisa ser trabalhada com a consciência ativa, o desejo, a vontade da pessoa de se curar e o ambiente propício para isso acontecer: terapia. A tristeza envolve a pessoa numa velocidade alta e desemboca em estados depressivos. É preciso reagir logo nos primeiros sintomas. Há pessoas que não percebem, por si mesmas, que estão entrando em estado depressivo. Precisam ser vistas de fora, por pessoas da convivência que possam encaminhar para um tratamento profissional. Mesmo assim, a negação pode aparecer como uma arma, traiçoeira, de defesa. Ninguém precisa dessa defesa. Negar é se matar.
A saúde mental foi brutalmente afetada pela convid-19, mesmo para os afortunados que não tiveram a doença porque aquele tempo em que as coisas aconteciam longe e não nos afetava já acabou. Não fique sozinho nisso, busque ajuda terapêutica profissional. O tempo urge. A covid-19 não acabou e nem vai acabar tão cedo. Novas e perigosas variantes virão. Esse é o tempo em que estamos vivendo e muitas outras gerações já viveram momentos parecidos. Somos humanos e vivemos em um planeta frágil, com diferentes matizes de humanos, que vão de anjos a demônios. É preciso se equilibrar nisso tudo e lutar pela saúde. A vida, no momento presente, é uma graça do altíssimo deus do universo. Lembre-se que deus não faz tudo sozinho (a). Temos que fazer a nossa parte! jjoacir@gmail.com
06 de agosto de 2022