A iniciação de Kin e o despertar da mãe falecida
Por José Joacir dos Santos (*)
Fui convidado a dar o curso de Reiki II em Chicago por um aluno que veio a San Francisco fazer o nível-I. Sua história merece ser contada, salvaguardando, como sempre, a sua privacidade. Por isso, chamo-o de Kin. Logo depois da iniciação no nível-I, a comunicação com Kin aumentou tanto por telefone quanto por e-mail. Ele queria saber de tudo relativo a Reiki, apesar do curso ter sido exaustivo e de ter dado a change a todos os alunos para tirarem todas as suas dúvidas. Ele é chinês e aos 30 anos nunca tinha tido qualquer contato com as terapias energéticas porque a geração dele foi proibida, em seu país, de fazer qualquer contato com tudo aquilo que tivesse relacionado com a espiritualidade — embora o governo tenha mantido acesa a medicina tradicional porque, além da necessidade da saúde pública, é uma alta fonte de divisas estrangeiras através da exportação de ervas, agulhas, ferramentas, etc. E a Medicina Chinesa tem muito a ver com espiritualidade.
A sede de respostas e o acúmulo de perguntas tinham a ver com o impacto que a iniciação de Reiki teve em sua vida. Em um mês, Kin rompeu com um casamento de cinco anos, cheio de brigas, separações, voltas e mágoas. As mudanças na sua vida também ocorrerem no trabalho, onde foi promovido. É importante mencionar que o carma coletivo dos chineses passa necessariamente pela espiritualidade, de uma forma ou de outra. É como se houvesse um chamado natural do universo, o qual independe da força política, do sistema, etc. Kin viajou para a China e foi direto ao Tibete, de onde voltou carregado de imagens e pinturas. Antes, jamais tinha se interessado pelo Tibete, que é ocupado pelo seu país.
Convidado para visitar sua casa em Chicago, dei de cara com as tankas cheias de Kuan Yin, Tara e do Buda da Medicina trazidas do Tibete. Ele não fazia idéia do que aquelas pinturas significavam mas confessou que sentira-se atraído por elas no primeiro contato. Quando comecei a explicar o que cada uma significava, o meu aluno começou a andar de um lado para outro da casa, ansioso, inquieto, querendo apressar a data do nível II de Reiki, que seria dois dias depois. “Eu sinto tudo isso dentro de mim” – repetia, para depois me mostrar uma coleção de livros que havia comprado sobre Reiki, em seu idioma nativo, editados fora da China.
Finalmente a iniciação chegou. Outros alunos chineses se juntaram ao grupo. Fiquei impressionado com a ansiedade deles por aquele momento porque trata-se de resgatar um elo perdido. Tive diarréia na noite anterior e esse sinal me disse que a iniciação seria profunda – e foi. Um silêncio absoluto tomou conta do prédio inteiro onde estava sendo efetuada a iniciação. Tive que retirar os óculos da cara porque minha visão voltou ao natural completamente, como ocorre quando ministro cursos. O fluxo energético era intenso. Tudo brilhava ao redor. Os moveis ficam como se estivessem úmidos. Antes do Reiki eu não percebia esses brilhos.
Ao serem apresentados aos símbolos do nível II, os alunos chineses ficaram eufóricos e desenhavam todos com facilidade na primeira tentativa, inclusive o número 3, que os ocidentais levam tempo para aprender. Quando iniciei Kin, fiz contato intuitivo com a mãe dele que faleceu há cinco anos e que nunca a vi nesta vida. Na casa dele, objetos relativos ao ex-casamento caíram da parede. Depois do curso chamei ele para conversar. As imagens viam no meu campo mental com velocidade e a primeira coisa que desejei fazer foi enviar Reiki para a mãe dele falecida.
Naquela noite a mãe de Kin entrou no meu quarto e à sua maneira não desejou mostrar a sua imagem. Ouvia os passos de um lado para outro do quarto, mas nada via. Ele me passou imagens de uma mesa e de um armário na casa de Kin. No dia seguinte chamei o rapaz para perguntar sobre isso e ele, surpreso, mas feliz, disse que acima da mesa tinha as jóias de sua mãe e no armário as roupas que ele não desejou jogar fora. Excitado, curioso e com as mãos geladas, o meu aluno passou a falar da relação difícil com a mãe, que o tinha adotado desde bebê mas que ele a considerava mãe.
Decidi então fazer uma cerimônia xamânica para promover o perdão entre filho e mãe. O aluno se submeteu à cerimônia, que foi linda e emocionante. Ele sorria o tempo inteiro, repetindo que se sentia de volta para a sua cultura, de uma maneira que jamais havia imaginado. Naquela noite, logo que entrei no quarto de hóspedes a mim reservado, a mãe do meu aluno se mostrou por inteira no meu campo mental, agradecendo, sorrindo e me mostrando a imagem do filho quando pequeno. Conversamos por segundos, e lhe pedi para ir em busca da luz do Sol Central. Ela foi.
No dia seguinte, Kin ligou-me para dizer que estava mudando a posição de todos os móveis da casa de acordo com as orientações de um livro que havia comprado sobre Feng Shue, onde cada coisa tem seu lugar e seu espaço no tempo. Ele também passou a fazer Qiqong após a prática de Reiki e confessou que, pela primeira vez na vida, sentia a vida correr em suas veias de uma maneira inusitada.
Essa experiência veio confirmar, mais uma vez, que quando uma pessoa da família é iniciada em Reiki, todas as outras são afetadas de alguma maneira, isto é, recebem o chamado da luz. Para aqueles que partiram para o outro lado da vida sem a consciência da luz, a iniciação de um parente funciona como um despertar para a preciosidade da vida em outra dimensão, da qual independe de crenças e que ninguém pode evitar. (*) José Joacir dos Santos é mestre Reiki – www.joacir.com