A baia de San Francisco, Califonia, EUA, tem de tudo: terremoto, maremoto, incêndios, ventos a 60 km por hora, chuva que derruba tudo, deslizamento de terra e um vento constante que é desagradável. Mas a população é multicultural, sempre está na frente dos outros estados em tudo, por exemplo, em energia solar – que o Brasil pouco despertou para essa energia abundante. Aqui, a natureza é arredia, como citei acima, mas é também generosa: há uma imensa quantidade de pássaros, animais e peixes que só existem aqui e são livres, por exemplo patos selvagens. Há grupos organizados em “sociedades protetoras de animais”, e tão bem organizados, que o serviço de adoção de todo tipo de animal e ave é gratuito. Esses serviços recolhem animais na rua, tratam deles e preparam eles para nova adoção. O candidato é investigado e a venda de filhotes é desencorajada. O questionário para o candidato tem mais de 20 perguntas, entre elas: quanto tempo você terá para o animal que pretende adotar? Qual é o telefone do seu veterinário? Há formas eficientes de ter um animal de estimação. Não precisa ser exótico nem muito menos aqueles em extinção. A Amazônia ainda é uma porta escancarada.
Para se ter uma ideia da seriedade da proteção aos animais nesta parte dos EUA, esta semana um pato selvagem foi encontrado com uma espécie de agulha grande de pescar atravessada no pescoço. Foi o segundo em um mês. Ambos foram tratados e adotados por voluntários. Em seguida, um dos grupos de proteção aos animais e aves colocou um anúncio nos principais jornais de San Francisco oferecendo 20 mil dólares por informação sobre o autor do “tiro com agulhas” contra patos selvagens. É só ligar para um desses telefones de denúncia anônima. O caso é investigado e acusado é levado para a justiça e, se declarado culpado, cumprirá pena em prisão para crimes comuns – ou, dependendo da gravidade, é obrigado a prestar serviços à comunidade. Só existe mercado para animais porque há comprador. Isso é como o narcotráfico. Se não houvesse clientela não haveria tráfico.
Embora o governo norte-americano tenha feito de tudo para impedir a importação de animais selvagens e aves da América Latina, esse mercado desonesto é ativo e vez por outra cobras, araras e outros bichos brasileiros contrabandeados aparecem abandonados, feridos e até mortos em vários estados. Eu também já vi animais brasileiros até na Indonésia, do outro lado do mundo. Quem é essa gente que compra e quem é essa gente que vende? Quem incentiva esse mercado? Quem ignora? Quem não denuncia? São estrangeiros ou são brasileiros sem um pingo de amor pelo país? Do ponto de vista espiritual, amais e aves estão no mesmo processo evolutivo que humanos, até para cobrir as necessidades humanas. Tudo no Planeta faz parte do mesmo projeto e todos nós somos responsáveis.
Esta semana um dos jornais brasileiros mostrou a ação da Polícia Federal no combate ao tráfico de animais e aves no Brasil, especialmente animais e aves raros, mas uma coisa me chamou a atenção: falta o envolvimento da população na proteção dos animais e aves brasileiros. O país é muito grande e com certeza a Polícia Federal não tem condições de combater mais esse desonesto tráfico. Até quando a sociedade brasileira vai pensar que a rica diversidade biológica brasileira é para sempre? Até quando pensaremos que a polícia é quem tem que se preocupar com tudo? Há muita coisa na cultura norte-americana que não serve para brasileiros e vice-versa. Mas, o cuidado com os animais é um excelente exemplo. Eles já sabem o que perderam e não há condições de voltar atrás. E você, o que faz? jjoacir@gmail.com (este texto foi publicado em 2006)
Por José Joacir dos Santos