É proibida a reprodução, mesmo que parcial, desta monografia, sem a autorização por escrito do autor.
JOSÉ JOACIR DOS SANTOS
FITOTERAPIA: DOS SENHORES E DAS ERVAS MEDICINAIS
DELTA/Faculdade de Filosofia São Miguel Arcanjo
Anápolis-Goiás – 2006
Monografia apresentada à DELTA/Faculdade de Filosofia São Miguel Arcanjo como requisito para a obtenção do título de especialista em Fitoterapia
AGRADECIMENTOS
Muitas pessoas contribuíram para a concretização deste trabalho. Agradeço à bisavó, Mãe Caboca, índia nativa das montanhas que separam o Rio Grande do Norte da Paraíba, construiu a família em bases holísticas, no mundo das ervas medicinais; ao meu avô Chico, autodidata e pesquisador, que olhava o céu e lia as estrelas; a empregada chinesa Ahi, que me forçou a tomar os chás chineses e comer as ervas; aos professores chineses de Pequim, que sacrificavam suas noites e desafiaram o sistema político vigente para me ensinar a Medicina Chinesa; aos mentores espirituais, especialmente Odé, que me empurraram para o aprendizado das ervas; aos coordenadores do curso de fitoterapia da Delta pelo enorme carinho, dedicação e apoio, investindo na Fitoterapia em um momento em que o país estava cego e perdido.
SUMÁRIO
1 – Introdução …………………………………………………………. 06
2 – Contradições e paradigmas …………………………………… 07
3 – As tradições populares e os guardiães do oráculo …… 12
4 – A fitoterapia em países nas dimensões do Brasil ……. 15
5 – Dos fluidos e dos líquidos ……………………………………. 22
6 – Um caso com final feliz ………………………………………. 27
7 – Conclusão …………………………………………………………. 29
8 – Bibliografia ……………………………………………………….. 30
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo o estudo da fitoterapia como parte integrante da vida humana, cuja prática tem sido sucessiva e intencionamente fragmentada no Ocidente, e no Brasil especialmente, desde a colonização portuguesa, de forma silenciosa, constante, para acomodar os interesses econômicos das elites. Apresenta-se tópicos de sua inserção e interdependência na história dos povos orientais, das primeiras sociedades ocidentais e recentemente de nações do porte da brasileira.
Conclui-se que, apesar das recendentes iniciativas do governo federal em finalmente reconhecer a fitoterapia como de “interesse popular e institucional”, há um histórico de negligência no cumprimento das leis e de desrespeito aos fundamentos democráticos que norteiam os destinos do país. Parte desse desleixo credita-se à própria sociedade, ao permitir que os interesses econômicos de grupos nacionais e multinacionais se sobreponham à necessidade ao caminho holístico que deve nortear a saúde pública.
Com a rica biodiversidade que foi contemplado, o Brasil tem todas as condições de mudar drasticamente a sua política de saúde pública e adotar uma postura democrática, multidisciplinar, onde o povo possa escolher e canalizar o caminho de busca de sua própria cura, entre eles, o caminho das ervas medicinais.
1 – INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é indicar que fitoterapia não é um caminho novo que poderá salvar o Brasil. Pelo contrário, mostra que, como em outras culturas, a fitoterapia já estava presente na vida das populações brasileiras desde o início dos tempos e que mais do que nunca essa prática precisa ser incentivada, apoiada e resgatada. Por que só em 2006 o Ministério da Saúde reconhece, pela Portaria 971, que “…o Brasil possui grande potencial para o desenvolvimento dessa terapêutica…”?
Para refletir sobre essa e outras questões que envolvem o retardamento da iniciativa governamental, este trabalho está dividido em três capítulos, os quais foram desenvolvidos a partir da literatura sobre o assunto, ainda que não de forma exaustiva, e pela experiência clínica do autor. Assim, no primeiro capítulo, “Mentalidade filantrópica, contradições e paradigmas”, a questão principal é: as autoridades e legisladores têm agido de acordo com os interesses da saúde pública ou apenas acomodado os interesses dos grandes laboratórios internacionais e da elite médica? A prática da fitoterapia em vários países, inclusive aqueles com dimensões territoriais e biodiversidade semelhantes às do Brasil, é invocada no segundo capítulo, “As tradições xamânicas e os guardiães do oráculo”; A similitude entre a alma das plantas medicinais, sua missão voluntária, os fluidos do corpo humano e as diferenças de abordagem entre a medicina ocidental e a oriental são abordadas no terceiro capítulo, “Dos fluídos e dos líquidos – a alma das plantas”. “Um caso final feliz”, dentro os mais de 1200 casos registrados na prática clínica, é apresentado por envolver aspectos emocionais do cliente, as quais, no entendimento que norteia este trabalho e a atuação clínica do autor, fazem parte do olhar holístico, multidisciplinar, com o qual cada ser humano precisa ser visto e considerado — corpo, mente, emoção e espírito.
Quanto à metodologia, foram utilizados dados da empiria bibliografia, da prática clínica de das observações de viagens nacionais e internacionais do autor.
CAPÍTULO I
CONTRADIÇÕES E PARADIGMAS
A grande dificuldade no desenvolvimento dos fitoterápicos no Brasil reside na falta de visão da estrutura governamental federal e seus órgãos de assessoramento relacionados com a saúde pública e no distanciamento em relação às populações e à iniciativa privada. Falta engajamento, compromisso e, especialmente, recursos financeiros direcionados à construção e aparelhamento dos laboratórios universitários e das instituições públicas de pesquisas, bem como o insentivo à farmácia público nos moldes da China – que talvez tivéssemos hoje se o projeto chamado CEME não tivesse sido descontinuado. A saúde pública ainda é tratada com mentalidade filantrópica. Paralelamente, a ignorância de alguns legisladores faz o Congresso aprovar leis contraditórias e contrárias aos interesses da saúde pública, como a Lei de Patentes[1], “baseada no acordo TRIPS (Trade Related Intelectual Property Rights) da Organização Mundial do Comércio”, até recentemente acusada de ser dominada pelo interesses comerciais dos Estados Unidos da América como um “instrumento de manipulação do capitalismo internacional para a manutenção da dependência e do atraso do Brasil”. “Por não considerer a descoberta de um novo extrato uma invenção, não permite o patentiamento dos extratos de plantas e substâncias isoladas de plantas, mas permite o patentiamento dos processos de produção de um extrato e da molécula isolada de uma planta que tenha sido modificada quimicamente”. Apesar de existiram mais de cinquenta mil plantas medicinais brasileiras catalogadas[2], esssa lei também é acusada de frear a liberação, pela Agência Nacional Vigilância Sanitária (Anvisa), de fitoterápicos conhecidos e usados popularmente desde o descobrimento do Brasil e limitar a lista a menos de cem ervas. Nada disso impede que a fitopirataria cresça, assim como crescem nas farmácias norte-americanas a oferta, livre, de extratos de ervas brasileiras impedidos no Brasil. A saúde pública virou um negócio lucrativo e de péssima qualidade. Alguns setores, como o de cirurgias hospitalares, são hoje responsáveis pelo crescimento do patrimônio dessa “indústria”, porque o povo é impedido de exercer a liberdade de escolher os caminhos holísticos para os quais o país tem dado sinais de plena vocação. Apesar da Portaria 971, de 03 de maio de 2006[3], falta ser dado um passo ousado na direção das necessidades do povo brasileiro, multicultural e aberto à multidisciplinariedade, que é o reconhecimento e a regulamentação de inúmeras profissões, inclusive a de fitoterapeuta[4].
Enquanto o Brasil se esforça, a todo custo, para se enquadrar nos tratados internacionais notadamente manipulados, a fitoterapia é livre nos Estados Unidos. Cerca de 15 anos atrás os Estados Unidos iniciaram os debates públicos sobre as chamadas “terapias holísticas” ao mesmo tempo em que era questionado o modelo convencional de medicina ocidental. O chamado “paradigma étnico” tornou-se crucial entre as novas gerações de trabalhadores da saúde. Que modelo seguir? A Sociedade Norte-Americana de Medicina, equivalente ao brasileiro Conselho Federal de Medicina (CFM), fundada em 1848, sempre coexistiu com as demais práticas de saúde sem tentar impor suas condições com faz o brasileiro CFM. Com a democratização da sociedade e o trabalho intenso de pressão dos grupos sociais e étnicos, os legisladores foram obrigados a trabalhar e a modificar as leis em prol das minorias. Com isso, a palavra anti-etnico tomou corpo, força, poder e o país foi obrigado a reconhecer as práticas populares não só dos imigrantes de todas as origens mas também dos nativos índios norte-americanos, onde a fitoterapia é a base do sistema de crenças e de cura. Os principais defensores da democratização das práticas de saúde vieram do seio da população médica alopata, que se viu diante do seguinte paradigma: o nosso bem estar material vem da miséria humana nas unidades de tratamento intensivo. Segundo Robbie Davis-Floyd e Gloria St. John, autores de From Doctor to Healer, The Transformative Journey[5], os debates sobre saúde púclica nos Estados Unidos definiram claramente quem era quem e chegaram a seguinte conclusão: a medicina se divide em três modelos distintos – Tecnocrático, Humanistico e Holístico – e a população é quem escolhe o que quer para as suas vidas. Esse entendimento expandiu as possibilidades e deu direções à sociedade.
O modelo Tecnocrático separa mente e corpo; considera o corpo uma máquina; o paciente é o objeto; Não interessa quem é o paciente e muito menos as suas emoções; Diagnóstico e tratamento é feito de fora para dentro, curando doenças (supressão) e reparando disfunções; as organizações de saúde são hierarquizadas e os modelos de cura são padronizados; quem tem autoridade é o médico e não o paciente; supervalorização da ciência e da tecnologia (máquinas decidem e diagnosticam); intervenção agressiva visando resultados a curto prazo (cirurgias); a morte pode ser vencida; intolerância com outras modalidades de cura (alternativas, complementares); tipo de pensamento: linear; Maneira de pensar: lado esquerdo do cérebro;
O modelo Humanístico não separa mente e corpo; o corpo é um organismo vivo; interação com o paciente; diagnóstico e tratamento vem de fora para dentro e de dentro para fora; respeito pelas necessidades do paciente e em harmonia com as necessidades da instituição; responsabilidade dividida com o paciente; o foco é a prevenção; a morte é um fato natural; mente aberta com relação a outras possibilidade de cura (holísticas);
O modelo Holístico junta corpo, mente e espírito; o corpo é um sistema energético interligado com outros sistemas energéticos; o processo de cura é para toda a vida; unidade entre paciente e curador; a cura vem de dentro para fora; estabelece a necessidade de uma rede de amparo; cada indivíduo é responsável por si mesmo; a tecnologia está a serviço do homem e não sobrepondo o homem; a morte faz parte da vida; o foco é a autocura; maneira de pensar: lado direito do cérebro[6].
Com essas definições, a “indústria” da saúde se apressou em acomodar seus interesses. As escolas técnicas de herbologia se espalharam por todos os estados da federação que formam os Estados Unidos da América e podem funcionar no sistema de educação à distância (pelo correio). Não existem profissões passíveis de regulamentação como no Brasil porque, pelo entendimento norte-americano, a profissão é gerada na sociedade civil, livre e democrática. No Brasil, essa história de profissão não-regulamentada parece com aquela outra história, muito comum no Nordeste, onde as terras pertencem à Igreja Católica, como na época da colonização. A colonização e seus sistemas ainda não bastante visíveis na sociedade brasileira nos dias de hoje. Quem será o responsável pelo atraso desse trem? Até que ponto a sociedade é co-responsável?
Ligue agora para o “conselho” da sua profissão para ver o que acontece. Eles atendem sua ligação como se você fosse suspeiro até provar o contrário. Outra ligação interessante seria para o Ministério do Trabalho, que é lento e quase parando neste assunto. Eles ficam esperando que o Congresso Nacional, ocupado com seus salários, criem novas profissões. Alguém acha que algum legislador brasileiro se preocupa com isso? Sapateiro é no Brasil uma profissão chamada “regulamentada”, enquanto que homeopata, que existe há mais de um século, foi a maior briga jurídica para ser aceita porque alguns médicos no Brasil se acham autoridade para tudo, inclusive sobre outras profissões… Existe uma fila imensa de sindicatos esperando um registro e que, misteriosamente, o Ministério do Trabalho não resolve o assunto. Por exemplo, no caso da Terapia Floral, que eu tive o privilégio de encaminhar, protocolar e … nada!
Nos EUA, o Congresso trabalha diariamente buscando novas leis e regras para aperfeiçoar a educação no país e o único pré-requisito para o aluno ser aceito nas escolas técnicas pós-secundárias é o segundo grau completo (aqui você pode concluir o segundo grau sem ter estudado, por exemplo, química e fisica, matérias exigidas como pré-requisito nas escolas técnicas). Os únicos cursos de fitoterapia ligados a faculdades são os de fitoterapia chinesa, que aqui não se chama de oriental, que são matérias incluídas no mestrado de Medicina Oriental. Mesmo assim, as escolas de Medicina Oriental oferecem o curso de fitoterapia chinesa a curto prazo para que os alunos do mestrado possam ter uma fonte de renda durante o mestrado, trabalhando como fitoterapeuta.
Tudo o que as escolas precisam para funcionar é a aprovação de um órgão fiscalizado pelo Ministério da Educação chamado Bureau for Private Postsecondary and Vocational Education (Secretaria para Educação Pós-Segundo Grau e Profissionalizante Particular) — Education Code section 94915(b). A tradução fica complicada para a nossa língua mas é importante saber que as escolas técnicas são particulares, fiscalizadas pelo governo, e o aluno sai delas com a certificação profissional para abrir seu consultório.
Não há uma fiscalização em cima dos profissionais de saúde como foi implatada pelos chamados “conselhos” no Brasil. Quem fiscaliza o profissional é a população. Havendo reclamação sobre a conduta do profissional então há os diversos foruns de proteção do consumidor no formato do Procon do Brasil. A chave da fiscalização fica por conta da autorização de abertura do consultório, fornecida por um órgão estadual mais ou menos parecido com a Secretaria da Fazenda existente nos estados brasileiros que fornece o Alvará de Licença e Funcionamento dos estabelecimentos, inclusive consultórios. O essencial dessa história toda é que a democracia nos Estados Unidos é praticada e quando isso não ocorre os prejudicados entram na justiça e têm todo o apoio, inclusive de advogados pagos pelo governo – para trabalhar pelos interesses dos cidadãos. O currículo escolar dos cursos de fitoterapia é bastante diversificado e todos incluem estágio, que o aluno pode fazer em sua comunidade ou já na prática de seu consultório. A grande maioria das farmácias norte-americanas especializadas em fitoterápicos não comercializa produtos da indústria alopática e vice-versa.
No final dos estudos, o aluno faz uma prova. Sendo aprovado recebe a chamada “certificação” e está apto a trabalhar. As escolas recomendam que o aluno façam um seguro profissional, iguais aos outros seguros, como por exemplo seguro de carro, para eventuais problemas durante o exercício da profissão. Aqui nos Estados Unidos, qualquer cidadão pode entrar na justiça comum se se sentir lesado em qualquer serviço e fitoterapia aqui é apenas um serviço como é acupuntura, odontologia, veterinária. As chamadas Sociedades de classe, como a Sociedade Norte-Americana de Medicina Psicossomática, da qual sou membro, trabalham em função do progresso da ciência, na publicação de teses, estudos, pesquisas e não como as do Brasil que se preocupam em “fiscalizar” os profissionais. Para tornar-se membro, elas exigem apenas o seu currículo. Dependendo do seu currículo você é ou não enquadrado em um dos setores ou departamentos. Se você é qualificado profissionalmente porque tem um diploma no assunto, certamente você será posicionado na sociedade conforme suas qualificações. Você como cidadão escreve e a sua palavra tem validade. Elas são sociedades sem fins lucrativos, embora cobrem anuidades para a própria manutenção, aceitam doações e são formadas pelos próprios profissionais. No Brasil, tanto os sindicatos quanto sociedades se acham no direito de julgar outros profissionais como se eles fossem os únicos competentes e bons. Ao contrário do que a lei estabelece, em alguns sindicatos nem há eleições para a mudança da diretoria, como o Sindicato dos Terapeutas de São Paulo (Sinte). Sabe-se que alguns conselhos das profissões regulamentadas são formatados nos mesmos moldes da Academia Brasileira de Letras…
Ao contrário do Brasil onde existem universidades federais, estaduais e até municipais gratuitas, a educação universitária nos EUA é paga, cara, seletiva. O desconto fico pela liberdade em que os profissionais holísticos podem trabalhar em seus consultórios, graças às inúmeras escolas de ensino holístico espalhadas pelo país, até a nível de pós-graduação. O Congresso Norte-Americano tem criado condições para a ampliação das escolas de ensino à distância das novas profissões, inclusive aquelas com visão holística da saúde. As faculdades de Medicina Oriental e a Acupuntura (que aqui se chama colégio), consideradas líderes na medicina holística, exigem a presença no aluno em classe, mesmo que seja somente em finais-de-semana ou turno noturno, e estão listadas entre as faculdades da área de saúde mais bem preparadas, modernas e equipadas com novas tecnologias. O American College of Trational Chinese Medicine da cidade de San Francisco, estado da Califórnia, um dos mais antigos e respeitados nessa área nos EUA, tem uma das mais modernas e bem equipadas bibliotecas do país, com vasta gama de livros editados nos idiomas inglês e chinês, aberta ao público. Nessa faculdade, a seriedade da fitoterapia começa nos jardins, onde todas as plantas são medicinais, muitas delas importadas no Oriente e onde os alunos podem ter contato imediato com elas durante seus estudos e pesquisas. É de lá que sai o chá servido ao público e os ingredientes para as saladas dos alunos na hora do almoço.
Já imaginou as faculdades gratuitas do Brasil abrindo suas portas para as novas profissões, inclusive as holísticas? Quantas universidades brasileiras tem suas salas de aula fechadas no turno noturno? Por que o mundo acadêmico brasileiro é tão fechado, autoritário e sem iniciativas? Por que a sociedade brasileira não cobra dos seus deputados e senadores aquilo que todos temos direito pela constituição, de acordo com o parágrafo quinto (direito de exercer qualquer profissão)? Já pensou a quantidade de ervas que o Brasil produz e é ignorada, contrabandeada ou queimada simplesmente todos os anos? Quanto empregos poderiam surgir nesse setor se as amarras coloniais acima referidas fossem libertadas?
A Europa também tem dado passos gigantes e animadores com relação à fitoterapia. Entre os países mais avançados e que optaram por encampar o conhecimento popular em prol do sistema de saúde estão a Alemanha e a Inglaterra. A Alemanha possui hoje, talvez, o maior banco de conhecimento sobre ervas do mundo e não pára de investir. A Inglaterra, onde a maioria dos recursos fitoterápicos é importada, devido a perda dos territórios coloniais, aprovou, em abril de 1997, leis que ampliaram o leque da fitoterapia no país, dando poder ao consumidor de “adquirir ervas sem sequer ter contato com um farmacêutico…”[7]. A decisão inglesa teve como base as estatísticas de aprovação popular e o controle de venda das farmácias de todo o Reino, o qual mostrava claramente um grande e crescente volume de vendas dos produtos fitoterápicos no país, numa clara demonstração de escolha, que o brasileiro faz mas fica oficializado e passa “desapercebido” pelos órgãos públicos. Quando a Inglaterra declarou a independência da Índia, a primeira providência do novo país foi organizar a medicina praticada pelo povo. Direção semelhante tomou a China em 1948, após a se tornar um país comunista. A Medicina Tradicional Chinesa, criada pelo Imperador Amarelo na Dinastia Han (206 BC – 24 AD)[8], transbordou as fronteiras do Continente Comunista e hoje é incorporada nas sociedades dos mais desenvolvidos países ocidentais, inclusive o Brasil (com restrições oficiais), e a indústria de ervas medicinais chinesas já não mais suplica por espaço. Hoje ela compete com a ocidental em termos de oportunidades de emprego, pesquisa, eficiência e comprovação científica.
CAPITULO II
AS TRADIÇÕES POPULARES E OS GUARDIÃES DO ORÁCULO
Não fiquei muito surpreso quando li o paper da Professora Rosemary Gladstar Slick[9], fundadora da California School of Herbal Studies, em San Francisco, quando ela afirma que Albert Einstein era leitor assíduo da Doutrina Secreta [10], e que na biblioteca dele foram encontrados incontados livros sobre “ocultismo, misticismo, metafísica, fitoterapia (com o nome de herbalismo) e alquimia”. Sabemos que a ciência chegou ao patamar em que hoje se encontra porque seguiu os passos, direções e testou as conclusões dos ensinamentos xamânicos de todos os povos, guiados pela chama inspiradora do Sol Central, capaz de criar uma rede infinita de conexões com todos os reinos animal, vegetal, mineral, humano e espiritual. Nesse contexto, a fitoterapia encontra-se como o grande sustentáculo da história humana, apesar da tentativa sistemática dos grandes laboratórios internacionais, que se acham os senhores das plantas, em desinstitucionalizá-la como patrimônio cultural de todos os povos e tradições clássicas – com vestígios, embora fragmentados, por todos os continentes.
Comentando sobre Antiguedad Classica, José L. Fresquet [11] faz um levantamento do uso da fitoterapia que vai do Egito antigo, à Mesopotânea e fala do registro de unguentos no “terceiro milênio antes de Cristo” e cita a inspiradora Biblioteca de Alexandria, Egito, incenciada pelos invasores romanos, onde se fazia “dissecação de cadáveres, animais e plantas”. Alexandria era o “centro do mundo” e para lá convergiam todos os sábios, “loucos”, legendários e aqueles guiados pelas estrelas. Os gregos, assim como os essênios, já eram a grande referência da Medicina, vinda da tradição dos deuses, que viajaram pelas malas do Império Bizantino e nas sacolas da Roda da Seda, onde Este e Oeste se encontraram e se enriqueceram. Como explicar que os Maias e outros povos indígenas nas Américas “não descobertas” já cultivavam plantas desde o topo da Cordilheira dos Andes até as pradarias do peles vermelhas Cherokee, nos hoje chamado Estados Unidos? O que dizer dos índios da Floresta Amazônica que sobreviveram a tudo o que se possa imaginar no contexto dos interesses espanhóis de um lado e dos portugueses de outro? Guiados por algum oráculo?
“Os gregos acreditavam que o paraíso era acarpetado com asfódelos. Os chineses imaginavam que para cada mulher que nascia neste mundo uma flor nova era criada no outro”[12]. Os egípcios acreditavam que aveia era a emanação do corpo de Osiris. Para eles, as plantas em geral eram a emanação dos deuses, tanto pelas propriedades medicinais quanto pela “assinatura”, isto é, pelo mistério de cores e desenhos das flores, caules, folhas, raízes e frutos. As plantas representam o ciclo da vida: nascimento (fertilidade), crescimento, florescimento, produção de frutos, envelhecimento, morte e renascimento – e tem registro em todas as culturas humanas, sem exceção. Na costa Oeste do Canadá, próximo à cidade de Vancouver, cerca de floresta foi tragada por uma tsunami, que avançou pela praia e subiu a montanha. A montanha cedeu e caiu no mar, mas sobre as terras nasceram as mesmas plantas, banhadas por água salgada, e isso tem intrigado os cientistas. Xamãs asiáticos, siberianos, índios americanos (de todas as Américas) sabem o que é emanação. Os brasileiros trazem o espírito dos mortos para um tronco de árvore para que ele assista as danças, celebrações e seja lembrado das coisas boas que fez em vida para depois ser libertado e seguir a viagem estelar – para se juntar aos guardiães e ao oráculo. Quando o famoso Dr. Edward Bach (1886-1936) largou seu famoso consultório em Londres, e mudou-se para o interior da Inglaterra, conhecido como Mount Vernon, em 1934, para pesquisar sobre as 38 flores que vieram a formar o Sistema Floral de Bach[13], ele se guiou pela “assinatura” das flores. Essa direção intuitiva, ligado ao sagrado, é inerente ao ser humano. Faz parte de uma aliança e de um tratado oculto que a perversidade humana não consegue, felizmente, destruir.
A pesquisadora do conhecido Sistema Floral de Saint Germain, Neide Margonari, sabe quais as portas que o Dr. Bach passou. Pintora, ela, começou a receber mensagens das flores através dos quadros inspirados. A pressão aumentou e ela teve que largar tudo o que fazia para procurar as flores que vinham em sua mente. No sítio que adquiriu, em São Paulo, dentro do que ainda existe da Floresta Atlântica, ela conta que a Flor Branca, desconhecida, nasceu bem em frente à porta principal da casa. Ali cresceu e floriu. O floral feito delas se encaixava exatamente no momento emocional de sua vida e dos seus familiares. Os xamãs e guardiães do oráculo sabem disso muito bem. Há o ditado popular segundo o qual as ervas vem para onde há a necessidade delas. Se é assim, por que será que o Brasil tem uma das mais importantes biodiversidade do Planeta? Quanta planta ainda não foi catalogada? Quantas das catalogadas estão impedidas, pelos senhores das plantas, de chegar ao público necessitado?
Quando o Oeste se encontrou com o Este na Rota da Seda, não foi só para negociar tapetes, porcela, roupas, jóias e escravos. Não há registros conhecidos, mas sabe-se que pela Rota da Seda muitos monges (naquela época a medicina vinha dos templos) viajaram do Tibete ao Egito e vice-versa, em viagens que muitas vezes custaram vidas. Muitos dos viajantes daquelas trilhas eram pesquisadores anônimos que aproveitavam do caminho movimentado para ter companha, seguir direções segura, conhecidas, que lhes fizessem encontrar seus semelhantes em missão. Todos já sabiam de um princípio básico, registrado há milhares de anos no Tibete, assim como pelos gregos, romanos e xamãs de todos os continentes, ainda desconhecidos como povos: a energia das ervas tem a capacidade de esquentar, aquecer, aliviar e curar as malezas humanas, dos animais e até de outras ervas e plantas. A “assinatura” segue o princípio da similaridade (similimus). Se somos a imagem e semelhança de Deus, como Jesus dizia, então somos deuses e se as ervas e plantas se assemelham aos deuses, tudo é divino. Dessa similaridade desconfiava o Dr. Samuel Hahnemann (1755-1843), quando se estabeleceu em Hettsdadt, antiga Saxônia, no auge de uma crise emocional provocada pela sua “total” decepção com a medicina ortodoxa: Nos “oito anos de escrulosa prática médica, percebi a futilidade da medicina ortodoxa”[14]. Foi depois dessa crise, que ele decidiu largar de vez a prática médica para se dedicar às pesquisas, das quais resultaram verdadeiros tratados da homeopatia, que, em muitos aspectos, resgata a conexão com o divino. Há uma infinidade de histórias semelhantes, e a causa pode não ser propriamente da medicina ocidental, mas da forma como ele é direcionada.
As populações africanas feitas escravas pelas “civilizações” europeias trouxeram para o Brasil, muitas vezes escondidos em suas roupas, exilis, sementes e plantas, que mais tarde se misturariam e se integrariam, sem maiores conflitos, com o conhecimento indígena nativo e português colonial. Em toda a rota dos navios portugueses para a India, cujos ventos rebeldes proporcionaram a “descoberta”do Brasil e depois Ásia, desde a costa atlântica, passando pela costa do Oceano Indico (Quênia, ilha de Lamú[15]) até chegar em Macau, Indonésia e Filipinas ainda encontramos, nos dias atuais, as mesmas plantas cultivadas pelos negros africanos forçados a entrar nos barcos dos homens civilizados da Europa. Muitas dessas plantas estão relacionadas às crenças e tradições africanas, incluídas na lista das proteções dos deuses. A Feira de São Joaquim, na Cidade Baixa de Salvador, Bahia, pode ser chamado de um centro fitoterápico africano, tido como referência até pelos estudiosos africanos da atualidade, ainda oferece as mesmas plantas. Não se sabe até que ponto, nessas viagens depois do ano 1500, se o cabedal de plantas medicinais que os escravos, já “alcunhados”, levavam nos navios, já incluía as ervas e plantas nativas brasileiras advindas da interação com algumas tribos do litoral, as primeiras a se deizar se “civilizar” pelos colonizadores, como também aquelas já assimiladas pelos europeus através das incursos pelo “novo mundo”. Foi mais ou menos na época do “descobrimento to Brasil’ que nasceu Felipe Aureolo Teofrasto Bombasto de Hohenheim (1493-1516), conhecido como Paracelso, autor de Botânica Oculta: “A medicina se fundamenta na natureza. A natureza é a medicina e somente naquela devem os homens buscá-la. A natureza é o mestre do médico, já que ela é mais antiga do que ele…”.
O Engenheiro Agrônomo Harri Lorenzi e o Farmacêutico F.J. Abreu Matos, que têm dado grande contribuição à fitoterapia brasileira, registram, na introdução de Plantas Medicinais no Brasil, Nativas e Exóticas [16], que:
“Os primeiros europeus que no Brasil chegaram deparararam-se com uma grande quantidade de plantas medicinais em uso pelas inúmeras tribos que aqui viviam. Por intermédio dos pajés, o conhecimento das ervas locais e seus usos eram transmitidos e primorados de geração em geração. Tais conhecimentos foram prontamente absorvidos pelos europeus que passaram a viver no pais, principalmente aqueles passaram a fazer incursões mais prolongadas no interior (nos “sertões”) com o intuito de aprender com os indios…”.
A fitoterapia em países nas dimensões do Brasil
Apesar do recente reconhecimento da fitoterapia pelo Ministério da Saúde, por que será que, em setembro de 2006, ainda é necessário relembrar às autoridades brasileiras e a alguns seguimentos da elite, que a fitoterapia existe e é praticada a mais de 3000 anos pelos civilizações ocidentais? Sim, sequer tocamos na fitoterapia do ponto de vista oriental, já consolidado há mais de três milênios. No caso do Brasil, onde não há uma fonte segura e firme que se possa citar com relação ao número de ervas medicinais catalogadas, não é dificil de compreender porque a fitoterapia ainda espera por uma sanção governamental para chegar até os postos de saúde pública. Na China e a India as ervas medicinais, oriundas do conhecimento popular, passaram para as prateleiras de farmácias e hospitais depois de convulsões sociais profundas e consequentemente do colapso das elites. A revolução comunista chinesa culminou com a declaração do Estado Comunista da China, por Mao Tse-Tung em 1948. O país, de tamanho continental, estava devastado em recursos humanos e naturais porque a febre comunista havia dizimado populações inteiras, muitas deles minorias raciais e étnicas, ricas em tradições milenares, e a elite, dona do conhecimento, havia fugido e se espalhado pela Asia inteira, especialmente para a ilha de Taiwan, hoje um dos países mais ricos do mundo em cultura e tradições milenares chinesas. Mao, diante da precariedade e da miséria pós-revolução, tomou a talvez mais sábia decisão da sua vida: implantou a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) como oficial. Não tinha como trazer de volta os sábios monges taoístas e budistas, a grande maioria morta dentro dos templos e escolas. Mesmo assim, arrebanhou quem escapou da morte e tinha algum conhecimento da cultura milenar chinesa e, com a ajuda da co-irmã comunista, a então República Soviética, reergueu a estrutura da saúde pública no país e hoje a MTC ganha terras estrangeiras exportando matéria-prima fitoterápica, entre outras. Uma das contradições da história da China Comunista foi buscar exatamente naquilo que o comunismo mais pregava contra, dentro da filosofia de “esquecer o passado vergonhoso” (em referência à cultura burquesa), o conhecimento milenar praticado anteriormente à revolução. A medicina ocidental oferecida pela União Soviética não prosperou muito porque o oriental é desconfiado por natureza. Foi no conhecimento da filosofia herdada de pai para filho, implantado pelo Imperador Amarelo, que a MTC se desenvolveu e chegou ao nível contemporânio de conhecimento e profundidade científica. A versão latina dessa vertente é Cuba, embora prejudicada pelas dificuldades do isolamento econômico imposto pelos Estados Unidos e por si mesma, presa ao que não funcionou no regime comunista dependente da arruinada União Soviética. O Brasil não reconhece os médicos cubanos por ignorância ou por solidariedade ao boicote americano?
Diferentemente da China, a Índia, com seus princípios religiosos profundos e diversificados, saiu do Império Britânico sem muita dor e para ele passou a ser fornecedor bem pago. Mandou verdadeiros exércitos de jovens estudar na Inglaterra para depois voltarem ao país e desenvolverem a sua própria medicina, chamada Ayurvedica – com base no conhecimento popular das ervas e utilizando técnicas da medicina ocidental para processar. Não se desfez do conhecimento ocidental e entrou profundamente no conhecimento tradicional, advindo dos pilares da cultura Veda-Indu-Budista, cuja base é xamânica – da mais pura essência holística. O Tibete trouxe da Índia o budismo e a medicina Ayurvedica. Juntou a esse conhecimento a cultura xamânica Bor, hoje com registros anteriores a 3000 anos, e daí surgiu a rica e exilada Medicina Tibetana. Hoje a Índia exporta médicos multidisciplinares e com eles os medicamentos naturais, holísticos, e a indústria de chá é um dos pilares de exportação do país, que não tem uma biodiversidade tão rica quanto a brasileira e permeado de conflitos étnicos e sociais – com fundo religioso.
Apesar do grande avanço dado pelo Governo Federal com a publicação da Portaria 971, de 3 de maio de 2006, pela qual “Aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS), a postura brasileira com relação a sua flora medicinal e ao desenvolvimento dos fitoterápicos não é, ainda, diferente daquela dos europeus que entravam pelos sertões e veredas em busca do ouro. Nessas incursões, contrabandeavam ou pirateavam ervas medicinais (como os estrangeiros ainda fazem hoje, e com ajuda de brasileiros!) apontadas pelos inocentes pajés. Não se sabe até quando a nossa cultura vai desenvolver a baixa auto-estima e se basear em padrões culturais estrangeiros falsos, que formam um ciclo vicioso interminável. Toda a indústria farmacêutica instalada no país é estrangeira, com raríssimas excessões. Os órgãos públicos competentes no assunto obedecem plenamente aos ditames falsos colonialistas, segundo os quais as ervas brasileiras não podem ser liberadas para o consumo porque não há estudos sobre seus princípios ativos. Da mesma maneira, os portugueses colonialistas levavam o outro e a madeira.
Citando várias fontes em sua tese de mestrado em Ciências na Área de Saúde Pública, inclusive “Silva et al. (2001), Pavarini et al. (2000), Ferreira et al. (1998)”, “IMS (1994) apud Ferreira et al. (1998)”, Flávia Neves Rocha Alves [17] apresenta uma tabela com 25 produtos, “com princípios ativos de origem vegetal, vendidos em farmácias”, fabricados por cerca de 20 laboratórios estrangeiros, que faturam milhões de dólares anualmente no Brasil. Por exemplo, ela diz que o “mercado brasileiro de fitoterápicos em 1994 correspondia a um valor estimado de 566 milhões de dólares. Lembra que:
“… existe uma dificuldade na obtenção de informações que reflitam o mercado real do país, pois existe um mercado interno informal e forte que não é contabilizado e nem controlado, onde plantas, sementes, raízes e folhas que são vendidos nas ruas e feiras…”.
Então, traduzindo isso, é o seguinte: os laboratórios estrangeiros convencem as autoridades de não mexer com as ervas medicinais para que eles possam faturar com o isolamento do princípios ativos das mesmas plantas, que não podem ser liberadas porque não há estudos e teses sobre elas. Não puxemos aqui discursos nacionalistas, mas, para completar o acima exposto, basta dizer que a fitoterapia é livre nos Estados Unidos. Em qualquer loja esotérica ou de artigos orgânicos é possível combrar extrado de ervas medicinais brasileiras, sem restrição alguma, inclusive aquelas “não estudadas”. Por que na terra onde sedia as matrizes dos grandes laboratórios tudo é livre e no Brasil há uma imensa pressão e até campanha contra a livre expressão das populações e suas próprias ervas medicinais?
“As empresas internacionais controlam cerca de 80% da produção brasileira de medicamentos”[18]. Talvez por coincidência, a maioria dos laboratórios estrangeiros no Brasil, tirando os europeus, é de origem norte-americana. Contraditoriamente, enquanto as autoridades sanitárias brasileiras criam mil e uma falsas barreiras aos produtos estrangeiros na área de saúde, como a importação de florais de Bach ou qualquer outro estrangeiro, os Estados Unidos sequer cobra taxas pela importação de florais brasileiros de qualquer espécie e o cidadão comum norte-americano pode importar qualquer chá brasileiro, inclusive alguns considerados alucinógenos – liberados pela mais alta corte do país para um grupo brasileiro que pratica certa ceita vinculada a uma erva amazônica alucinógena. Isso é contraditório ou é esquematizado para aparecer assim mesmo? A diferença aqui é simples: Nos Estados Unidos os direitos civis são respeitados de acordo com a Constituição Federal e as constituições estaduais e a fitoterapia é livre, isto é, o mesmo direito dos donos dos laboratórios é o do cidadão comum. No Brasil as leis existem mas só quem tem dinheiro consegue fazer valer.
As escolas técnicas de fitoterapia, tanto oriental quanto ocidental, aqui chamada de herbologia, estão espalhadas por todos os estados da federação que foram os Estados Unidos da América e podem funcionar no sistema de educação à distância (pelo correio). Não existem profissões passíveis de regulamentação como no Brasil porque, pelo entendimento norte-americano, a profissão é gerada na sociedade civil, livre e democrática. No Brasil, essa história de profissão não-regulamentada parece com aquela outra história, muito comum no Nordeste, onde as terras “devolutas” pertencem, ainda hoje e em muitos estados, à Igreja Católica, como na época da colonização. Os interesses da saúde pública parecem pertencer a um seleto grupo de profissionais da saúde, muito bem pago. A colonização e seus sistemas ainda são bastante visíveis na sociedade brasileira nos dias de hoje. Houve a independência política mas não emocional/mental. Quem será o responsável pelo atraso desse trem?
Por exemplo, quando alguém liga para o Conselho Federal de Medicina e não se identifica como médico, a voz do outro lado da linha muda. Outra ligação interessante, e perdida, é para a Auditoria do Ministério do Trabalho, supostamente aquele que reforçaria a lei e as diretrizes por ele mesmo criadas. Os Ministérios da Saúde e do Trabalho são vizinhos na Esplanada dos Ministérios, em Brasilia, mas o diálogo parece ser difícil. Do outro lado da linha não há respostas concretas e sólidas sobre profissões no Brasil. Eles ficam esperando que o Congresso Nacional, ocupado com seus salários, criem novas profissões. Alguém acha que algum legislador brasileiro se preocupa com isso? Sapateiro é, no país, uma profissão chamada “regulamentada”, enquanto que homeopata, que é praticada há mais de um século, foi motivo de disputa jurídica para ser aceita porque alguns médicos que se acham autoridade para tudo, inclusive sobre outras profissões… Existe uma fila imensa de sindicatos esperando um registro e que, misteriosamente, o Ministério do Trabalho não resolve o assunto. Nos EUA, o Congresso trabalha duramente buscando soluções democráticas nas novas leis e regras para aperfeiçoar a educação no país. O único pré-requisito para o aluno ser aceito nas escolas técnicas pós-secundárias de fitoterapia norte-americanas é o segundo grau completo. Os únicos cursos de fitoterapia ligados a faculdades são os de fitoterapia chinesa, que aqui não se chama de oriental. Mesmo assim, as escolas de Medicina Oriental oferecem o curso de fitoterapia chinesa antes das outras matérias para que os alunos comecem a trabalhar com fitoterapia e assim financiem seus estudos de mestrado. Não é necessário um curso superior para o exercício da fitoterapia nos Estados Unidos, e sim um curso técnico.
Tudo o que as escolas precisam para funcionar é a aprovação de um órgão fiscalizado pelo Ministério da Educação chamado Bureau for Private Postsecondary and Vocational Education (Secretaria para Educação Pós-Segundo Grau e Profissionalizante Particular) — Education Code section 94915(b). A tradução fica complicada para a nossa língua mas é importante saber que as escolas técnicas são particulares, fiscalizadas pelo governo, e o aluno sai delas com a certificação profissional para abrir seu consultório, fornecido pela própria escola.
Não há uma fiscalização em cima dos profissionais de saúde como foi implantada pelos chamados “conselhos” no Brasil. Quem fiscaliza o profissional é a população. Havendo reclamação sobre a conduta do profissional então há diversos fóruns de proteção do consumidor no formato do Procon do Brasil ou a justiça comum. A chave da fiscalização fica por conta da autorização de abertura do consultório, fornecida por um órgão estadual mais ou menos parecido com a Secretaria da Fazenda existente nos estados brasileiros, a qual fornece Alvará de Licença e Funcionamento dos estabelecimentos. O essencial dessa história toda é que a democracia nos Estados Unidos é praticada e quando isso não ocorre os prejudicados entram na justiça e têm todo o apoio, inclusive de advogados pagos pelo governo – para trabalhar pelos interesses dos cidadãos.
O currículo escolar dos cursos de fitoterapia é bastante avantajado e todos incluem estágio, que o aluno pode fazer em sua comunidade ou já na prática de seu consultório. No final dos estudos, o aluno faz uma prova. Sendo aprovado recebe a chamada “certificação” e está apto a trabalhar. As escolas recomendam que o aluno façam um seguro profissional, iguais aos outros securos, como por exemplo seguro de carro, para eventuais problemas durante o exercício da profissão. Nos Estados Unidos, qualquer cidadão pode entrar na justiça comum se se sentir lesado em qualquer serviço e fitoterapia aqui é apenas um serviço como é acupuntura, odontologia, veterinária.
As chamadas sociedades de classe, como a Sociedade Norte-Americana de Medicina Psicossomática, da qual sou membro, trabalham em função do progresso da ciência, na publicação de teses, estudos, pesquisas e não como as do Brasil que se preocupam em “fiscalizar” os profissionais. Para tornar-se membro, elas exigem apenas o currículo. Dependendo do currículo, o candidato é ou não enquadrado em um dos setores ou departamentos. Se é qualificado profissionalmente porque tem um diploma no assunto, certamente será posicionado na sociedade conforme suas qualificações. São sociedades sem fins lucrativos, embora cobrem anuidades para a própria manutenção, aceitam doações e são formadas pelos próprios profissionais. No Brasil, tanto os sindicatos quanto sociedades se acham no direito de julgar outros profissionais como se eles fossem os únicos competentes. Apesar da lei, em alguns sindicatos nem há eleições livres para a mudança da diretoria. Sabe-se que alguns conselhos são formatados nos mesmos moldes da Academia Brasileira de Letras…
Ao contrário do Brasil, onde existem universidades federais, estaduais e até municipais gratuitas, a educação universitária nos EUA é paga, cara e extremamente seletiva, apesar de também existir a “cota para minorias raciais” – estrangeiros com “green card” têm acesso a essas cotas e a financiamento governamental para os estudos universitários. Os profissionais holísticos podem trabalhar em seus consultórios, graças às inúmeras escolas de ensino holístico espalhadas pelo país, até a nível de pós-graduação. Universidades certificam pelos portadora de conhecimento holístico adquirido por seus próprios meios. O Congresso Norte-Americano tem criado condições para a ampliação das escolas de ensino à distância das novas profissões, inclusive aquelas com visão holística e interdisciplinar da saúde. As faculdades de Medicina Oriental e a Acupuntura (que aqui se chama colégio), consideradas líderes na medicina holística, exigem a presença no aluno em classe, mesmo que seja somente em finais-de-semana ou turno noturno, e estão listadas entre as faculdades da área de saúde mais bem preparadas, modernas e equipadas com novas tecnologias. O American College of Trational Chinese Medicine da cidade de San Francisco, estado da Califórnia, um dos mais antigos e respeitados nessa área nos EUA, tem uma das mais modernas e bem equipadas bibliotecas do país, com vasta gama de livros editados nos idiomas inglês e chinês, incluindo fitoterapia, e é aberta ao público. Nessa faculdade, a seriedade da fitoterapia começa nos jardins, onde todas as plantas são medicinais, muitas delas importadas no Oriente, e onde os alunos podem ter contato imediato com elas durante seus estudos e pesquisas. É de lá que sai o chá servido ao público e os ingredientes para as saladas dos alunos na hora do almoço. Uma das escolas mais conceituadas, a nível técnico, é o Institute of Chinese Herbology, em Oakland, Califórnia, de onde o aluno recebe, no ato de inscrição, um pacote com 101 ervas chinesas para complementar os seus estudos teóricos.
Seria possível imaginar as faculdades gratuitas do Brasil abrindo suas portas para as novas profissões, inclusive as holísticas? Quantas universidades brasileiras tem suas salas de aula fechadas no turno noturno? Por que o mundo acadêmico brasileiro é tão fechado, autoritário e sem iniciativas? Por que a sociedade brasileira não cobra dos seus deputados e senadores aquilo que todos temos direito pela constituição, de acordo, entre outros, com o Parágrafo V (direito de exercer qualquer profissão)? Quais seria os números reais da quantidade de ervas que o Brasil produz e é ignorada, contrabandeada ou simplesmente queimada todos os anos? Quanto empregos poderiam surgir nesse setor se as amarras coloniais acima referidas fossem libertadas?
Apesar da Constituição Brasileira ter aspectos mais evoluídos em relação à de outros países, as leis demoram a funcionar e muitas vezes o desrespeito começa por órgãos do Governo Federal ou dos governos estaduais, presos aos interesses de grupos economicamente favorecidos, especialmente aqueles ligados a políticos e à “indústria” da saúde, incluindo aí muitos profissionais de saúde e órgãos da classe médica, cujos consultórios não dão preferência aos sem-pastas pretas. Por exemplo, a Associação Brasileira de Psicossomática, regional Brasília, dirigida por um médico, rejeitou, em 2006, pedidos de filiação de profissionais pós-graduados em Psicossomática que não tinham formação médica – o que exatamente oposto aos princípios que regem a psicossomática, isto é, a multidisciplinariedade. Outro exemplo da elitização da saúde pública, herdada da época colonial, e praticado pelos cartéis da saúde está estampado da página oficinal, na internet, de um dos mais importantes laboratórios atuantes no país, a Fundação Herbarium: de um lado a fundação oferece “curso de fitoterapia” para o público em geral (muito nobre!) e do outro o de “fitomedicina”, “só para médicos”. Aparentemente, profissionais médicos são colocados em postos-chave para bloquear qualquer tentativa de ampliar o leque e as possibilidades de devolver ao povo o direito de escolher o que fazer com a sua própria saúde e do seu próprio conhecimento, assim como o de readquirir o conhecimento perdido pela aculturação colonialista. Essa posição de falso guardião da saúde pública ou senhores das ervas não só vai na direção oposta a todas as tradições culturais dos povos, inclusive o brasileiro, mas também contra os esforços de todos os grupos sociais de garantir acesso fácil e barato aos recursos naturais disponíveis na maior numa das maiores diversidades biológicas do mundo – a brasileira. E contra a orientação da Organização Mundial da Saúde.
Uma rápida pincelada na história humana qualquer um dá de cara com o óbvio: O conhecimento científico, em qualquer cultura, se baseia no popular. E o conhecimento popular se sobressai em qualquer esquina das grandes cidades brasileiras: raizeiros, curadores, cartomantes e adivinhos, acampados em barracas ou ambulantes, detém a confiança da população. Entre uma consulta e outra, com um profissional da saúde, o povo brasileiro baixas cartas de tarâ, toma passes, faz lambedores, chás, banhos e reza. Veste-se de branco nas festas de final de ano, segura cordas nas procissões, cruza os dedos nos jogos de futebol e planta Estapa-de-São Jorge nos jardins. Enquanto que os fitoterapeutas começam a se formar nas universidades, os pais-de-santo fazem recomendações diárias, desde a chegada dos escravos ao território brasileiro. Raízes, caules, flores e frutos são conhecidos a dedo pelos guardiães das florestas, caatingas, veredas e sertões. Nesse aspecto, em nada a Nação Brasileira difere da tibetana, indiana ou chinesa, onde há séculos optou por seus chás e unguentos. Onde paramos? Por que ainda sofremos de baixa auto-estima com relação a nosso potencial curador? É certo e sabido que sofremos, desde a chegado do colonizador europeu, um processo sistematizado de destruição da nossa auto-confiança. Por que não reagimos? Por que a universidades brasileiras não mudam o curso de sua própria história, ainda atrelada ao domínio europeu (estrangeiro)? Do lado de cá eram os portugueses e do lado de lá do Continente eram os espanhóis.
Ao falar dos verdadeiros senhores das plantas, em “Los Señores de las Plantas, Medicina y Herbolaria en Mesoamérica”[19], p. 7, Xavier Lozoya denuncia:
“Depois de quase cinco séculos, sabemos pouco da nossa flora medicinal utilizada na Mesoamérica antes da conquista española. A nova ordem política e religiosa estabelecida pelos espanhois a partir do século XVI destruiu grande parte da organização cultural e médica da população indígena desta grande parte da América, e com ela a informação sobre o uso das plantas medicinais que se havia acumulado por séculos…”.
Uma das colegas do curso de pós-graduação em Fitoterapia, formada em farmácia, fazia parte de um projeto pioneiro de fabricação de tinturas de plantas medicinais plantadas no Cerrado, destinados a uma rede de postos de saúde, sem muito alarde, mas que a população começava a procurar por ser gratuito. Em um dado momento, a colega pediu de público ajuda para a aquisição de frascos ambar porque a verba do projeto tinha atrasado e ela não sabia se ainda a receberia. No mesmo período, a turma visitou o banco de ervas da Universidade de Brasília, uma das mais importantes da América Latina, e constatou o acanhamento, as poucas condições de uso e o estado carente (de recursos, aparelhamento e pessoal treinado) daquele banco, onde os alunos de biologia usam métodos científicos de pesquisa e o resultado é embalado em pacotes caseiros, com jornais velhos. Será que esse descaso dos órgãos públicos e acadêmicos não seria proposital? Haveria algum interesse escondido nessa história? Por que o Brasil, um dos países mais atuantes nos fóruns das Nações Unidas, ocultou ou fez pouco caso dos resultados da reunião daquele forum que aconteceu em 23 de maio de 1978, a qual “reconheceu a importância das plantas medicinais e das preparações galênicas na cura do organismo humano e recomendou a difusão, em nível mundial, dos conhecimentos necessários ao seu uso”?[20].
O que dizer das população nordestina, do polígono da seca, censurada constantemente pela imprensa do Sul do país, que se acha esclarecida, por se alimentar de cactos durante o período do estio? Seria a censura o resultado do inconsciente coletivo colonizador? Os paulistas, fortemente influenciados pela cultura européia, não conhecem os cactos nordestinos e infelizmente não conhecem o cheio do xique-xique assado, e que os animais também apreciam. Mas, os laboratórios internacionais já chegaram lá. Na edição de Outono de um pequeno folheto de propaganda do laboratório norte-americano VitaCost [21], dirigido ao “consumidor assíduo” de vitaminas e minerais produzidos artificialmente, é apresentado o “suplemento alimentar” Hoodia Gordonii, ao estilo dos produtos do Herbarium. O folheto anuncia que, “segundo os pesquisadores, a molécula conhecida como P57, extraída isoladamente da planta, tem a habilidade de promover a supressão alimentar, ou seja, inibir a fome, além de aumentar os níveis energéticos” do consumidor. O milagroso P57 seria extraído do cacto com o mesmo nome encontrado no deserto sul-africano de Kalahari, onde a população nativa o utiliza, há séculos, como alimento, exatamente para suprir a falta de alimentos. Resulta que pela supressão do apetite e pela não ingestão de outros alimentos o povo daquela comunidade sul-africana emagrace. Se o gado, o vaqueiro e o nordestino faminto sabem o gosto dos cactos, tão abundantes nos sertões e ali colocados pela natureza, por que será que as universidades e órgãos públicos ainda não se interessaram para saber o por quê? Até quando o oráculo misterioso da natureza pacientemente intuirá o ser humano? Por que será quem quem planta as conhecidas “palmas” nordestinas e mantém o gado com elas no período da seca não perde o seu rebanho e nem fica sem o leite e seus derivados?
Hoodia Gordonii
CAPÍTULO III
DOS FLUIDOS E DOS LÍQUIDOS
As plantas existem por si mesmas. Elas poderia ser o que são sem necessariamente exercer um papel curativo, mas o universo não pensou assim. O fascinante mundo das ervas medicinais é uma combinação de várias propriedades curativas, com infinitas possibilidades, muitas delas ainda não perceptíveis à ciência dos homens. Todas as tradições, espalhandas pelo globo terrestre, sabem que cada erva medicinal tem sua “personalidade” e que, quando combinada com outras, tem específicos efeitos nos sistemas físico, mental, emocional e espiritual do ser humano. Pode-se afirmar que há uma sincronicidade inexplicável entre a missão curativa das ervas e as mazelas humanas, mesmo sabendo que cada ser humano é único e diferente em si mesmo a cada milésimo de segundo. As ervas se assemelham e se posicionam do outro lado dos desequilíbrios e se manifestam de acordo com o tempo, o clima, a região e a necessidade delas, estendendo a sua caridade a animais e também aos seres iguais do seu próprio reino encantado, que não exibe facilmente as suas fronteiras, mas que as coloca à disposição. Elas nascem prontas onde há a necessidade da cura. Muitas das plantas ignoradas hoje ainda serão “descobertas”, é o que diz as conexões espirituais.
A ciência aventura-se nas pesquisas como marinheiros que se lançam ao mar aberto em busca de possibilidades e achados. Os pesquisadores da fitoterapia também cometem erros ao tentar imitar o que a ciência faz em busca dos princípios ativos das plantas. Muita destruição e desrespeito à natureza é cometido desde tempos remotos em nome das pesquisas e da ciência. A grande lição que as ervas tentam passar é baseada no princípio da harmonia e do equilíbrio. Isso pode ser verificado facilmente nas frutas e verduras sem sabor e sem cheiro que se compra em supermercados das grandes cidades, especialmente aquelas artificialmente manipuladas para parecerem grandes e saudáveis. Certa vez perguntei a um cientista espacial o que poderia causar um erro e um foguete não subir ao espaço. Ele disse: um número na combinação 01010. Retirando o zero do meio dessa combinação ou deixando o espaço em branco o foguete não sobe. Trazendo essa lógica para as plantas medicinais, os orientais sabem disso há milênios. Os plantas devem ser consideradas em sua totalidade e é por isso que a fitoterapia chinesa, a mais desenvolvida “indústria” fitoterápica, trabalha com a planta inteira. Essa ou aquela parte da planta pode não se ajustar nessa ou naquela combinação mas haverá o momento do encaixe perfeito. As vezes os caroços dos frutos não conhecimentos são colocados por inteiro nas tigelas medicinais de preparação das fórmulas e tinturas. É o princípio de que não há nada por acaso na natureza. O que há, na verdade, é a falta de conhecimento. Em termos de conhecimento, os orientais, especialmente chineses e tibetanos estão mais na frente.
O canal de televisão Discovery, em sua edição do dia 14 de outubro de 2006, exibida nos Estados Unidos, mostrou longa reportagem sobre as tsunames[22] e a ansiedade dos cientistas da área em descobrir o por quê de tamanha tragédia ocorrida em vários países em dezembro de 2004. As instituições norte-americanas e canadenses angariaram fundos e instalaram milhões de dólares em equipamento de ponta em um navio, onde cientistas selecionados e de renome foram convocados para a missão, que partiu da Califórnia, nos EUA, em direção à Banda Ache, na Indonésia, onde a tragédia atingiu grandes proporções. De lá eles viajaram por milhas e milhas de mar a dentro, onde sequer há rotas marítimas. Com a ajuda de um robô especial, eles escanearam o fundo do mar em busca de rachaduras recentes no solo marítimo, em profundezas jamais investigadas anteriormente. Eles chegaram a rachaduras em profundidades onde não existem sinais vitais devido a falta de luz e oxigênio. As rachaduras foram encontradas mas a maior surpresa da equipe foi a descoberta de uma planta branca, de um único talo, jamais vista e imaginada naquelas profundezas. Esta história leva a outras, e talvez a mais famosa seja o aparecimento de Gingko Biloba na Hiroshima destruída pela bomba atômica. O que a natureza quis dizer ao fazer essa planta nascer onde tudo havia morrido? Qual é a principal utilização dela, desde centenas de anos atrás? De acordo com o Dr. Jorge Alonso, em Tratado de Fotofármaco y Nutracéuticos[23], esta planta considerada sagrada por monges orientais (que não dividem as plantas pelos princípios ativos), exerce atividades circulatória cerebral, sobre os neurotransmissores, antiagregante, antioxidante, memória, demência, oftalmológica, auditiva, vascular periférica, respiratória e outras. A devastação causada por uma bomba atônica atinge especialmente a memória. Não deixa vestígios de vida, acaba com as possibilidades de crescimento e envelhecimento. Os desertos americanos onde foram efetuados os testes nucleares até esta data nada nasce, cresce ou envelhece. Ao contrário de Hiroshima, onde milhares de pessoas pereceram, os desertos americanos não havia populações. Não podemos deixar de adicionar o fato de que os japoneses vítimas da bomba, eram, desde gerações, conectados por tradições religiosas anciãs, entre as quais a crença na vida após a morte. Por por será que a Gingko Biloba precipitou-se sobre o solo de Hiroshima, e desde então passou a ser observada de perto pela ciência oficial?
Traumatizada pela sua própria história, a medicina ocidental, e consequentemente a ciência ou vice-versa, distanciou-se da essência do conhecimento popular, transmitido oralmente, e com isso perdeu a conexão com a energia da plantas e os universos paralelos relacionados com esse mistério. Ao adotar para si, como estratégia, a palavra isolamento, em todos os seus aspectos, a medicina perdeu a noção do todo, se fragmentou e desenvolveu o falso conceito de que quando uma peça da “máquina” humana está quebrada deve ser retirada. Em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, médicos incentivam a cesariana ao invés de deixar que as crianças nasçam como a natureza programou. Esse falso conceito pode ter também contribuído para a fragmentação e o desinteresse pelo conhecimento integral sobre as ervas e plantas medicinais, embora museus britânicos preservem dados e registros de que as ervas medicinais estão presentes na vida humana ocidental desde 3000 anos, que remontam ao rei assírio Ashurbanipal (668-627 A.C) e o Código Hamurabi? Quem pode assegurar que o estágio de desenvolvimento que o ser humano no Ocidente atingiu hoje não poderia ser outro, mais saudável, se a medicina tivesse adotado o princípio básico da vida que é energia? Felizmente existe a medicina oriental para se juntar a esse pensamento. Mesmo as populações mais pobres da Ásia são menos dependentes de hospitais pela natureza da maneira de viver, conectada com a essência do conhecimento da ancestralidade, cuja base de sustentação é a fitoterapia. Nas ruas de Pequim, China, durante a primavera, é possível ver quatro gerações de mulheres, da mesma família, caminhando sem bengalas final da tarde, por quê?
A diversas tradições humanas se unem em suas separatividades ao concordar que na conexão entre o mágico e o divino. O que poderia ser mais divino do que o mistério da genética humana e a sua porção mágica de vida, diuturnamente envolvida em um trabalho harmônico dentro do corpo humano, entrelaçado por fios luminosos, veias, canais, líquidos e fluidos, nas suas mais diferentes texturas, formas, sabores e cores? Quem pode ignorar que a planta é um organismo vivo, “pensante”, conectado com as forças do universo e que se lança em si mesma para buscar na Terra a energia necessária para o trabalho de transformação, transmutação e reprodução de padrões diferenciados de energia capazes de se assemelhar às necessidades vitais do ser humano, dos animais e até de outras plantas? Quem trabalha com ervas sabe que há o momento mágico da colheita, onde os fluídos e líquidos estão no auge da seu trabalho de harmonização e equilíbrio com a Terra – que pode variar entre seis da tarde e quatro da manhã do dia seguinte, antes do Sol nascer.
Em se tratando de ervas, a medicina oriental se orienta pelos cinco sabores. O sabor da erva determina se ela é utilizada para aquecer ou esfriar e o estágio da temperatura é determinante nos procedimentos. A fitoterapia ocidental reconhece quatro sabores mas não faz uma ligação direta e não se baseia na capacidade de aquecimento ou esfriamento para tratar os sistemas físicos. Há diferenças entre as duas culturas. Os chineses chamam as diversas manifestações de líquido no corpo humano de fluidos. Lágrima, saliva, suor, muco nasal, do estômago e intestino, assim como aqueles que permeiam a pele, os tecidos, os tendões, os ossos e tutanos são considerados no contexto diário dos tratamentos da medicina oriental. Sabe-se, no Ocidente, que a tenossinovite[24] e as demais manifestações de desequilíbrio das chamadas doenças do trabalho repetitivo tem a ver com a perda desses fluidos pelos músculos e tendões. Pela similaridade, as ervas medicinais também tem fluidos. A medicina chinesa considera e dá importância a certos aspectos do corpo humano e da personalidade os quais não têm significado para a medicina ocidental, ao mesmo tempo que a medicina ocidental descreve aspectos do corpo humano que não fazem sentido ou não são previstos na medicina oriental. Por exemplo, a teoria médica oriental não conceitua o sistema nervoso central. Apesar disso, “existem evidências que demonstram a capacidade da Medicina Chinesa em tratar desordens neurológicas. A Medicina Chinesa não percebe o sistema endócrino mas trata aquilo que a Medina Ocidental chama de desordens endócrinas”[25]. Por sua vez, a medicina ocidental não identifica os meridianos[26] como os chineses fazem há milênios e os indianos e tibetanos também o fazem com relação aos chacras. O toque das agulhas de acupuntura associado à fitoterapia move a medicina oriental há mas de cinco mil anos e cada vez mais penetra nos países de cultura ocidental porque o ser humano cada vez se conscientiza da grandeza para a qual foi criado e quer ser tratado de forma holística.
Não existe também na medicina oriental o conceito e o formato da psicologia ocidental porque não se separa a mente do corpo. Quem se aproxima mais da medicina oriental no Ocidente é a homeopatia, embora haja a esperança de que a fitoterapia ocidental consiga sair da influência separativista da medicina oficial e perca o hábito de cortar em pedaços e metire (do Latim metíri)[27]. Há quem diga que o ser humano não inventa nada, só copia da natureza. Quem não consegue identificar em um automóvel a imagem e semelhança do ser humano, inclusive no processo de “digestão” dos combustíveis? Um pequeno detalhe não foi possível imitar até hoje: a emoção. As culturas orientais não conseguem separar bem-estar emocional, espiritual e hábitos alimentares. A emoção parece ser uma junção equilibrada entre corpo, mente e espírito. Talvez tenha sido esse ponto que uniou e separou Jung e Freud. Jung se permitiu explorar outras áreas do conhecimento e viajou pelo Oriente. Dessas viagens resultaram alguns livros publicados, entre eles “Psicologia e Religião Oriental”, onde, na página 37 faz referência ao Bardo Thodol, publicado no Ocidente como O livro tibetano dos mortos, em 1927. Jung diz:
“Desde o seu aparecimento, o Bardo Thodol tem sido para mim um companheiro constante… nos apresenta uma filosofia humanamente compreensível, dirigindo-se ao homem e não a deuses, nem a primitivos. Sua filosofia é a quintessência da crítica psicológica… o caráter antinômico de qualquer enunciado metafísico é o pressuposto tácito do Bardo Thodol, universalmente presente, como também a idéia da diferença qualitativa dos graus de consciência e das realidades metafísicas determinadas por ele… ”.[28]
É importante salientar que o Bardo Thodol é o livro cuja existência se perde no tempo porque a cultura do Tibete, localizado no topo das montanhas do Himalaia, hoje ocupado pela China, nada acontece de notório, internamente, desde 1948, quando houve a invasão. Naturalmente que Jung não se preocuparia com o desenlace dos cinco elementos, todos vinculados a fluidos, no momento da morte, como é a função do Bardo Thodol, mas se ele tivesse tido a oportunidade de presenciar uma floresta em chamas talvez tivesse ilustrado mais seus escritos. Os índios brasileiros sabem o que é o choro da floresta! Entre o meio esotérico brasileiro há quem diga que as práticas descritas nesse livro são impossíveis de se realizar com sucesso no Ocidente e isso até é compreensível. Para que a receita de um bolo funcione é preciso que o cozinheiro siga à risca as instruções, tenha infraestrutura físicas perfeita, a fonte de energia apropriada, utilize os ingredientes necessários, descritos, e, acima de tudo, a “mão boa”. Nada disso pode ser negligenciado. Na cultura tibetana, a fitoterapia é a referência porque é uma forma de vida, uma filosofia diária posta em prática. Os ingredientes estão, também, na memória celular dos indivíduos e isso facilita uma resposta física, mental, emocional e espiritual. Os índios brasileiros sabem o que significa essa relação com na natureza em sua totalidade e ainda hoje todos os desequilíbrios emocionais identificados neles estão relacionado com a perda dos rituais e das tradições por conta da proximidade e absorção da cultura forasteira do homem das cidades. Não tem muito sentido a vida quando se perde as conexões mágicas e os rituais – e seus símbolos.
Quando mudei para a China em 1989, onde permaneci até 1995, as ervas medicinais chinesas não funcionavam no meu meio ambiente interno. Passado de mão em mão, do mais novo para o mais velho dos médicos, comecei a pensar ser um fenômeno. Quando comecei a alimentar essa falsa ideia fui encaminhado para um dos mais velhos médicos que pudesse tratar um estrangeiro. Esse senhor, depois de analisar o meu histórico, no seu idioma, de de maneira que eu não sabia do que se tratava, disse: O senhor vive e pensa como um Ocidental. Seu corpo é de Ocidental, assim como suas memórias e emoções. Então, para ser tratado pela medicina chinesa com sucesso o senhor precisa viver internamente na China, não apenas passeando pela China. Comecei então a me libertar inclusive do hábito de tomar vitaminas americanas. Um dos divórcios mais complicados foi com a Aspirina americana, até então a minha porção mágica preferida. Larguei o vidrinho em uma prateleira da cozinha e um dia, quando almoçava, a minha empregada chinesa, de 60 anos, disse-me que ia embora porque estava com dor-de-cabeça. Não resisti ao impulso e ofereci uma Aspirina. Ela tomou, foi para casa e não voltou nos dias seguintes. Fui até o Bureau do Partido Comunista que controlava empregados domésticos para estrangeiros e narrei o fato. Dias depois a pobre senhora voltou e me confessou: “aquela pílula me adoeceu. Tive diarreia”. Nos seus sessenta anos de idade, nunca havia tomado um remédio Ocidental. Das três gerações que se dava conta, só havia as ervas medicinais como referência. Daquele dia em diante passei a viver na China como os chineses e minha saúde tomou um novo rumo, gradativamente. Quando estabeleci meu consultório em Brasília em 2002, depois de atuar em outros países, decidi trabalhar com a dobradinha psicoterapia versos fitoterapia, com coadjuvantes como homeopatia, florais, práticas energéticas. O ingresso em uma pós-graduação em fitoterapia não foi uma opção, mas sim, uma necessidade. Desta vez era o caminho de volta, sem perder o rumo e nem o sabor da essência: no Ocidente como os ocidentais!
Devido à psicoterapia e a especialidade psicossomática, o Universo encaminhou, desde o início, uma clientela com o objetivo de tentar novas formas para velhos hábitos. A negociação e as possibilidades contratuais de ambas as partes me levaram a impor, de minha parte, a condição que só prosseguia com aquele cliente que aceitasse entrar no mundo das ervas, das tinturas, dos chás e da mudança de hábitos alimentares e emocionais. Assim, adotei com ponto de partida a intuição e como orientação acadêmica, dentro da fitoterapia ocidental, os livros: Fitoterapia. Vademécum de Prescripción[29], Fitoterapia Racional [30], e Tratado de Fitofármacos y Nutracéuticos, de Jorge Alonso. Não posso deixar de mencionar as consultas espirituais e a orientação mediúnica que me norteia, já vindo dos meus avós, assim como a assistência de raizeiros, rezadeiras e monges tibetanos. Obviamente, que as diversas experiências e estudos em vários países e continentes onde morei, por força de uma segunda profissão, contribuíram imensamente para a minha formação acadêmica essencialmente holística. A minha bisavó desencarnou aos 103 anos, dormindo, saudavelmente, arrodeada de sua reserva de ervas medicinais, nas montanhas da Paraíba.
Um caso com final feliz
No trato com questões emocionais envolvendo alteração do humor, insônia, ansiedade, perturbações psicossomáticas e suas causas e consequências, as ervas mais sugeridas à clientela e com porcentagem mínima de insucesso, foram: Humulus lupulus L, Hypericum Perforatum, Valeriana Officinalis L e Melissa Officinalis L, na forma de tintura e/ou cápsulas, de acordo com a preferência do cliente e suas condições físicas. Nos intensos quatro anos de prática clínica, nos quais atendi aproximadamente 1300 clientes, um dos casos mais interessantes e de sucesso absoluto no tratamento foi com a cliente que aqui chamo de Isis, cerca de 35 anos de idade, solteira, impedida de exercer as atividades profissionais por laudo da Previdência Social datado de 08 de dezembro de 2003, depois de inúmeros e diferentes diagnósticos médicos, de ortopedia a fisioterapia por queixa de “dores crônicas no punto direito e na mão direita sem relação com traumatismos”[31], provavelmente relativas ao “trabalho repetitivo”, conhecido como L.E.R/D.O.R.T.[32] Foi obtido autorização da cliente para mencionar o caso sem identificá-la.
Isis chegou ao consultório de cabeça baixa e dizendo “cansada” de “procurar uma saída”. Paralelamente aos tratamentos médicos, ela havia se submetido a tratamento psicológico, de onde veio, encaminhada por psiquiatra, para o que ela chamou de “tratamento psicoterapêutico com roupagem holística”. Durante dois meses a única intervenção feita simultaneamente ao trabalho psicoterapêutico foi submeter a cliente a sessões de Reiki, até que os remédios prescritos por seus médicos acabassem e ela resolvesse, juntamente com seus médicos, que caminho seguiria. Apresentada a decisão de tentar o tratamento com psicoterapia versos ervas medicinais, contrariando um dos seus médicos, em janeiro de 2004 a cliente passou a tomar cápsulas contendo Uncaria Tomentosa, Harpagophytum procumbens D.C e Hypericum Perforatum. Ao final de casa vidro, alternava com tintura adicionada a mel de abelha puro, para preencher, com a alquimia curativa do mel puro, a reclamação da cliente com relação ao sabor das ervas.
Procuro buscar nos clientes os seus sonhos porque sei, por experiência própria, que cada erva tem a capacidade de traduzir imagens de bloqueio da saúde. Pouco mais de uma semana a cliente passou a trazer sonhos da sua infância e no seu próprio ritmo revelou o abuso sexual pelo qual foi vítima do seu próprio pai, dos seis aos 14 anos de idade. Tive que cancelar o próximo cliente várias vezes para prolongar as sessões com essa cliente, que havia ocultado esse detalhe nas consultas médicas, e apenas dado “uma pincelada” nas consultas com a psiquiatra, por “vergonha”. As ervas, na sua busca pelo equilíbrio, haviam chegado ao ponto de partida da minha cliente. Animada, a cliente solicitou que adicionasse florais ao tratamento e escolhi os Florais de Saint Germain, com os quais tenho larga experiência no trabalho de afrouxamento das emoções presas, e também com a capacidade de traduzir imagens emocionais. Insisti na mudança de comportamento e a minha cliente passou a fazer caminhadas. Em seguida vieram as revelações e insight da “farça” do seu casamento, sem papéis oficiais assinados, mesmo assim uma tentativa de “apagar” os vestígios da relação com o pai. A cliente confessou ter “experimentado” vários homens antes de se casar com aquele que mais pareceu ser capaz de lhe possibilitar segurança e abrigo, depois de romper relações com a mãe, que não deu apoio a sua queixa contra o pai. O “casamento” não durou seis meses, dois dos quais já sob terapia, fitoterápicos, Reiki e florais – o uso dos florais, na forma de quatro gotas quatro vezes ao dia, funciona também como um motivo a mais para redirecionar os pensamentos do cliente para a sua própria cura. Isis saiu da casa do marido para morar sozinha, pela primeira vez, em um quatro e sala porque há muito já não mais visitava a casa dos pais. No período da separação, as cólicas menstruais eram severas – e compreensíveis. Os sonhos com o pai voltaram a se repetir, e variavam entre medo e prazer.
Obedeci aos intervalos sugeridos para cada erva e nesses momentos as crises sofriam recaídas, que era enfrentadas com um número mais frequente de sessões terapêuticas e Reiki, até que a cliente resolveu ser iniciada em Reiki para poder auto-aplicar nas horas de crise com dor, geralmente pela manhã cedo, exatamente na hora em que o pai vinha para o seu quarto. Conseguimos identificar no seu trabalho, onde apareceram os sintomas de L.E.R., um assessor do chefe com o mesmo tipo físico do pai e as mesmas habilidades de sedução. A cliente confessou que “mesmo tendo consciência” do mal causado pelo pai, procura a figura dele nos momentos de prazer mas com aquele colega havia completa aversão. Sabe-se que um das causas emocionais da L.E.R./D.O.R.T. é a insatisfação e a cliente confessou que entrava em atritos constantes com o colega de trabalho, que lhe cobrava resultados de um trabalho que em nada lhe satisfazia porque “não era criativo” e sim “mecânico”. O que dizer dos anos de insatisfação na relação com o pai? Há uma boa sincronia entre ervas, florais e Reiki. Conhecido como facilitador nos processos de cicatrização, Reiki parecia ser a âncora segura que minha cliente necessitava para trabalhar a dor e reatar os elos de ligação do equilíbrio físico, mental, emocional e espiritual que pudesse re-conectar com a sua própria cura. Isis emagreceu e a aparência mudou para mais jovem, ao ponto de não ser reconhecida por um de seus médicos quando cumpria o exame periódico exigido pela Previdência Social.
A minha cliente seguiu na sua procura pelo “homem da minha vida” e gradativamente ela conseguiu atrair homens com perfis diferenciados de tudo o que o ser emocional dela gravou como perfeito e doentio, tendo como imagem o pai abusivo. Enquanto os sonhos com o pai diminuíam, ela teve várias crises de cistite, tratada com Persea americana mill (Lauraceae) – caroço ralado, folhas secas e a ingestão do fruto. Em junho de 2006, Isis conheceu o que aqui chamo de Quasar, um rapaz solteiro e completamente desimpedido, ao contrário da maioria dos seus companheiros – três deles com problemas com o pai, de forma que a minha cliente brincava dizendo que a primeira pergunta que fazia a um rapaz assim que o conhecia era sobre a relação dele com o pai. Quasar passou a esperá-la na porta do consultório e a acompanhá-la nas caminhadas matinais. Em dezembro de 2006, depois de uma avaliação nossa, a cliente decidiu se submeter aos exames médicos e à comissão de avaliação da Previdência Social. Depois disso, Isis voltou a trabalhar, com planos de voltar à universidade e estudar psicologia, já interessada em chás e alimentação preventiva à base de frutas e vegetais. Neste breve relato, tive que manter a benefício da confissão e do segredo clínico-terapêutico.
Conclusão
A fitoterapia é mais antiga do que as leis e as sociedades organizadas e os senhores das plantas. Foi reconhecida oficialmente como de “interesse popular e institucional” pela Portaria No. 971, do Ministério da Saúde, mas ainda há pendências nas diretrizes desse ministério federal. Faltam esforços governamentais na implementação e execução de aspectos práticos da portaria citada. Por sua vez, faz-se necessária maior participação da sociedade nas reivindicações de políticas de saúde pública permanentes, duradouras e direcionadas as reais interesses da população. A rica biodiversidade precisa ser preservada e isso requer a implementação de processos educativos básicos de incentivo tanto à proteção como à exploração dos recursos de forma auto-sustentável. Falta aparelhamento para as universidades e recursos para os pesquisadores. Falta a criação de cursos técnico-profissionalizantes e superiores em fitoterapia. Falta valoriz necessidade seja a garantia da escolha democrática dos caminhos em que a sociedade quer percorrer, sem impedimentos, em busca de sua própria cura.ar os estudos realizados e a publicação de muitas teses a respeito. Faltam bancos públicos de ervas. Faltam incentivos ao plantio auto-sustentável de ervas. Falta, ainda, a sociedade brasileira ser incentivada a redescobrir seus valores mais básicos, seu conhecimento mais antigo, ter orgulho de sua ancestralidade e com isso buscar a sua própria cura: tratar, especialmente, a baixa auto-estima, talvez a maior causa das doenças psicossomáticas do cidadão brasileiro, advindas de processos sociais antigos, os quais envolvem memórias da ditatura e o processo de construção da democracia. Sabe-se que o processo de adoecimento é favorecido pelo desvinculamento, pelo abandono dos elos de ligação do equilíbrio físico, mental, emocional e espiritual. O ser humano necessita fazer um vinculamento entre o plantio do arroz, as ervas medicinais com as quais se trata, as tradições culturais dentro do contexto da espiritualidade e do bem-estar. A nação brasileira está destinada a viver integrada na multiculturalidade e o povo brasileiro precisa ser visto com mais respeito, dentro dos princípios democráticos que tanto tem suado para manter. Talvez a mais urgente necessidade seja a garantia da escolha democrática dos caminhos em que a sociedade quer percorrer, sem impedimentos, em busca de sua própria cura. Com a rica biodiversidade que foi contemplado, o Brasil tem todas as condições de mudar drasticamente a sua política de saúde pública e adotar uma postura democrática, multidisciplinar, onde o povo possa escolher e canalizar o caminho de busca de sua própria cura, entre eles, aquele que o conecta com a ancestralidade: o caminho das ervas medicinais.
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19) ALONSO, Jorge. Tratado de Fitofármacos y Nutracéuticos, Corpus, Rosário, Argentina, 2004;
20) www.vitacost.com, 2055 High Ridge Road, Boynton Beach, Florida, USA;
21) Fotografias da Hoodia Gordonii colhidas na internete em 18.10.2006, www.purehoodia.com.
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[1] ALVES, Flávia Neves Rocha. Desafios para o Desenvolvimento de Fitomedicamentos no Brasil no Contexto da Indústria Farmaceutica, p. 263-265;
[2] idem, p.131
[3] Diário Oficial da União, Edição número 84, de 04/maio/2006, Aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC);
[4] Apesar de o Ministério do Trabalho e do Emprego classificar a profissão de Fitoterapeuta pelo código 3221-05, equivalente a Acupunturista, os próprios órgãos governamentais desconheciam, até meados de 2003, essa classificação, como as Secretarias da Receita Federal Estaduais e do Distrito Federal.
[5] DAVID-FLOYED, Robbie et al. Ed.RutgersUniversity Press, New Jersey, 1998;
[6] Idem, p. 141-142;
[7] ERNST, Edzard. Herbal Medicine.A concise overview for professionals, p. 26;
[8] MING, Zhu. The Medical Classic of the Yellow Emperor, p. 01, Ed.Foreign Languages Press, China;
[11] FRESQUET, Jose L. Historia: La tradición occidental en el uso de las plantas medicinales, p. 67-68, in Fitoterapia. Vademécum de Prescripción. 4ª.Ed. Masson, Barcelona, 2003;
[12] FONTANA, David. A visual key to symbols and their meanings, p. 104, ed. Chronicle Books, San Francisco, 1994;
[13]O Trabalho do Dr. Edward Bach, Wigmore Publications Ltd, Londres 1995, não menciona o autor;
[14] KRATIMENOS, Marysia. Homeopathy Encyclopedia, p. 06, Ed.Hachette, Londres, 2003;
[15] GHAIDAN, Usan. Lamu, A Study of the Swahili Town, p. 02-13, Ed.Kenya Literature Bureau, 1975. Neste livro o autor registra a permanência dos portugueses na região, para manter os interesses da coroa, especialmente as relações do capitão Salvador Correa de Sá, em 1648 a 1728.
[16] Ed. Instituto Plantarum de Estudos da Flora Ltda, Nova Odessa, SP, 2002;
[17] Desafios para o Desenvolvimento de Fitomedicamentos no Brasil no Contexto da Indústria Farmacêutica, p. 237;
[18] MIGUEL, Marilis Dallarmi et al. Desenvolvimento dos Fitoterápicos, p. 21. Tecmedd Editora, São Paulo, 2002;
[19] Pangea Editores, 1990, Cidade do México, México;
[20] VIEIRA, Lúcio Salgado. Fitoterapia da Amazônia, Manual das Plantas Medicinais, p. 5, 2ª Ed.,Ed. Agronômica Ceres Ltda, São Paulo, 1972;
[21]www.vitacost.com, 2055 High Ridge Road, Boynton Beach, Florida, USA;
[22] Ondas cigantes causadas por terremos no fundo do mar e consequentemente deslocamento de placas;
[23] Editora Corpus, p. 524-544, Rosario, Argentina, 2004;
[24] Inflamação na bainha do tendão;
[25] KAPTCHUK, Ted J. The web that has no weaver, p. 2, Ed. McGraw-Hill, Estados Unidos, 2000;
[26] Muito recentemente médicos brasileiros sem vínculos orientais passaram a estudar meridianos, embora a própria natureza deles, a invisibilidade, entre em atrito direto com as crenças da medicina ocidental, a qual nega o que não é visível nem mensurável. Aparentemente, esse sutil movimento pró-acupuntura por parte do médicos pode estar relacionado simplesmente à questão da competitividade de “mercado” e não com os reais fundamentos da saúde pública;
[27] Novo Dicionário Aurélio, p. 1306, Ed. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1999;
[28] Ed. Vozes, 5a.edição, Petrópolis, 1991;
[29] VANACLOCHA, Bernat Vanaclocho et al. Ed. Masson, Barcelona, 2003;
[30] SCHULZ, Volker et al, Ed. Manole, São Paulo, 2002;
[31] Uma Clínica especializada em Ortopedia e Realibitação em Brasilia, 27/09/2002;
[32] Lesões do Esforço Repetitivo/Distúrbios Osteomusculoligamentares Relacionados com o Trabalho