Era sábado e eu estava de plantão no meu trabalho. Começou a chover. Estava numa janela de frente para um grande tanque de água em um dos jardins de um dos palácios de Brasilia. Comecei a pensar sobre a secura da cidade e aqueles tanques de água só para enfeitar os jardins. Eu sabia que era obra do arquiteto Roberto Burle Marx. Um colega chegou na sala e eu fiz o seguinte comentário: esse tal de Burle Marx não tinha mesmo imaginação, por que represar água numa cidade como Brasilia onde faz falta água no ar? Lembro que rimos e fizemos outros comentários denegrindo aqueles jardins suspensos. Três anos depois, fui com uma amiga visitar um amigo dela que não conhecia. Ela tinha me dito que esse amigo, gaúcho, era um médium muito bom. Fui só para fazer companhia. Quando chegamos na casa dele, em Brasilia, ele mal cumprimentou minha amiga e fixou o olhar em mim. Fiquei meio assustado. Ele pediu que sentássemos e foi ao escritório buscar algo. Em poucos minutos ele voltou com um envelope e me entregou dizendo que o guardava há muito tempo para mim. Eu recebi mas troquei olhares com minha amiga, meio espantado. Quando cheguei em casa abri o envelope e, para a minha surpresa, era uma carta de Roberto Burle Marx psicografada. Ele já tinha falecido há anos. Eu nunca me interessei por ele, nem por sua obra, apenas fiz aquele comentário maldoso acima. A carta é linda. Ele fala do amor por Brasilia, pelo que fez pela cidade, pelo que a cidade representa e representaria. Diz que passou muitos anos, depois que morreu, em lugares de Brasilia por amor à beleza da cidade e que na data da carta estava se despedindo definitivamente para ascender a outra dimensão espiritual. Eu publiquei a carta em um antigo site particular e até hoje agradeço a Roberto Burle Marx pela lição que ele me deu. Não julgar ninguém. Joacir
Entre no site abaixo e acesse o museu dedicado a Roberto Burle Marx, cujo patrimônio foi doado por ele
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/399