Na primeira vez que vi um quadro pintado a óleo, de origem tibetana e de mais de 200 anos, no qual Kuan Yin aparece com muitos braços e diferentes armas, fiquei intrigado. Por que Kuan Yin precisaria de armas? A resposta, de um velho monge, foi clara: Kuan Yin é um ser especial, cuja missão é a compaixão, o perdão e difundir o amor incondicional. Então perguntei: e as armas? O mundo espiritual não é constituído só de anjos do bem. Existem os nossos irmãos que se juntam ao outro lado da luz para adquirirem poder pessoal, ligado ao mundo material. Então, quando Kuan Yin recebe um chamado e necessita descer aos infernos para resgatar alguém, ou mesmo resgatar um demônio temporariamente envolvido pela força do outro lado da luz, ela se veste de acordo com essa necessidade. Como os demônios aparecem sempre de forma a amedrontar e a intimitar quem eles abordam, geralmente o fazem através do medo e da intimidação. Para isso materializam armas – espadas, foices, tridentes, facas etc. Kuan Yin então materializa o espelho dessas armas para que eles se sintam intimidados, abram passagem e se precisar ela os enfrenta assim mesmo porque ela sabe que durante um enfrentamento desses ela pode convencer o irmão equivocado a voltar para a luz. Não existe limite para a compaixão e o perdão e ela não mede esforços nesse sentido. Não é à-toa que Kuan Yin já recusou inúmeras vezes o chamado da Grande Fraternidade Branca para permanecer em outras dimensões. Ela sempre responde que não largará a Terra enquanto houver sofrimento e pessoas que necessitam conhecer o perdão, a compaixão e o amor incondicional. Por isso ela aparece de diversas formas, de acordo com a necessidade do local, das pessoas, e da época, assim como o faz a Mãe de Jesus. Então, em qualquer circunstância, o chamado por Kuan Yin será atendido — e nem sempre a resposta é aquela que a gente quer. O mundo espiritual sempre ver tudo de uma ótima maior, tanto os irmãos do bem quando os do outro lado. Infelizmente existe essa polaridade entre o bem e o mal. Kuan Yin é sutil, versável. Por exemplo, ela tem a facilidade de passar do masculino para o feminino e do feminino para o masculino, manifestando a sua energia de amor incondicional por todos os seres humanos porque ela sabe que todos somos iguais diante de Deus, não importa a forma e a aparência física. Uma das histórias de Kuan Yin mais famosas é a de um pesquisador europeu que se perdeu no interior da China, à procura dos templos e do culto a Kuan Yin. Ele se perdeu no meio de uma tempestade de chuva forte, numa época em que o transporte era o lombo do cavalo. Ele era católico e devoto de Santa Bernadete. Então, se ajoelhou no chão e pediu ajuda a Santa Bernadete. Em poucos instantes apareceu uma mulher mostrando a ele o caminho de uma gruta para passar a noite. Não deu tempo de agradecer e a mulher sumiu. Ele puxou os animais naquela direção e encontrou uma caverna confortável até para os animais. Dormiu. Quando acordou, pessoas que viram na caravana disseram que havia um vilarejo ali perto e um templo. Seguiram para o vilarejo e ele foi direto ao templo, que seria em homenagem a Pu Sa (um dos nomes de Kuan Yin). Quando entrou no tempo, que surpresa! A santa no altar era exatamente aquela mulher que havia mostrado o caminho da gruta na noite anterior — e ele pensava que era Santa Bernadete. Isto é, Kuan Yin apareceu da forma que ele precisava acreditar e ver. A história da aparição está registrada no livro de Martin Palmer, Jay Ramsay e Man-Ho Kwok, editado em 1995, em Londres. Por josé Joacir dos Santos, jjoacir@gmail.com