No século passado, pesquisadores do comportamento humano foram capazes de chegar a definições sobre estados emocionais profundos como a perda ou falta da esperança, que chamo desesperança. A perda ou falta de esperança ocorre quando a pessoa tenta sair de uma situação e não consegue porque as barreiras são grandes e ela se acha incapaz de vencer, se acomoda e pára de tentar. Exemplos são a pobreza e a miséria. A pessoa nasce e cresce na pobreza vendo e ouvindo adultos dizerem que a vida é daquele jeito, acredita no que ouve e ver, e aprende que deve se comportar daquela maneira. Sim, a pobreza pode ser herdada emocionalmente mesmo que as condições atuais da pessoa sejam mais afortunadas.
Faz mais de 500 anos que o país se libertou da colônia portuguesa e ainda hoje o comportamento de muitos brasileiros é o de um colonizado sem direito, sem força, sem esperança, pendurado nas sobras do governo, mendigando bem-estar, segurança, saúde e felicidade. Há quem diga que muitas pessoas que recebem bolsa família, gás, saúde e educação trabalham normalmente, têm salários estáveis mas têm a coragem de se inscrever nesses benefícios sociais porque se acham pobres e carentes, isto é, vivem o padrão da auto-inferioridade, da herança emocional da pobreza ou se colocaram no padrão da desesperança, da incapacidade de lutar. É fácil ver esse comportamento nos cinturões das favelas nas grandes cidades. Embora não haja mais a colonização portuguesa nem a escravidão, a maioria das pessoas que vive em favelas carrega consigo esse comportamento de falta ou de perda de esperança ou “desesperançado”. Em alguns casos, há a substituição do estigma da colonização e da escravidão pela ajuda à criminalidade, pela ilusão da “proteção”. Elas se sentem na obrigação de fazer o trabalho, definem a si mesmos como escravos da desesperança e ainda doam sua energia a situações semelhantes ligadas à criminalidade. Na cabeça delas roda a autoprogramação da incapacidade de viver uma vida melhor, embora vivam em um dos poucos países do mundo onde existe escola gratuita em todos os níveis e há a possibilidade de ascenção social pelo estudo. Essas pessoas são as mesmas que espalham pessimismo, colocam defeito nas escolas públicas, arranjam desculpas para não trabalhar ou mudar de vida. Tive uma colega de trabalho em Brasília que faltava ao emprego sempre que o PT anunciava alguma greve, mesmo não sendo da categoria profissonal dela. Hoje o PT está no governo, não há mais a necessidade daquelas greves infindáveis com cunho político antes da eleição de Lula, mas a minha ex-colega ainda falta ao trabalho quando há uma greve. Como professor de Reiki, vejo muito esse padrão ser repetido. Pessoas que até vivem numa faixa etária social menos afetada pela pobreza chegam pra você querendo terapia e curso gratuito. Já ouve casos em que a pessoa chegou em carro do ano, cheia de jóias e me disse: quero fazer o curso mas não posso pagar porque tenho muitas despesas. Ela pode pagar qualquer coisa mais não pode pagar aquilo que possa lhe trazer um benefício físico, mental, emocional ou espiritual: autochantagem. Em Brasília houve até casos de pessoas que trabalhavam no Serviço Público Federal. Elas têm salários maiores do que a média das pessoas nos Estados Unidos, mas quando o assunto é progredir emocionalmente querem barganhar com o terapeuta como se terapeutas fossem profissionais que sabem fazer dinheiro, não têm contas para pagar nem vida nem família para manter. Entra aí outro processo emocional relacionado a religiões, que as vezes anda junto: o medo dos castigos de Deus implantado especialmente pela Igreja Católica e agora implementado por evangélicos e mormons.
Uma aluna que já trabalha com Reiki e tem clientes, cobra uns e outros não porque sofre do medo dos castigos de Deus, está presa ao desequilibrio emocional da desesperança, tem dificuldades de administrar dinheiro, tem visões distorcidas da realidade, tem mais de trinta anos e depende financeiramente de alguém. Precisa progredir no níveis de Reiki mas acha que não deve pagar os cursos. Tudo que se refere a terapias energéticas e até florais ela acha que tem que receber de graça. Ainda não entendeu que a energia é gratuita mas o trabalho do terapeuta tem custos até de formação e manutenção. Houve um caso em que a pessoa foi submetida a regressão e foi constatado que ela repete esses padrões há várias vidas e não se esforça o suficiente para vencê-los. Não se permite estudar e ver que esse assunto tem até teses acadêmicas, isto é, é velho demais para ser mantido, vivenciado e repetido. Isto significa que alguém tem que dedicar tempo, trabalho e dinheiro para aprender as técnicas, se formar em terapia e dar a ela gratuitamente para ela continuar com o padrão de mendigo emocional e espiritual… O que é isso?
Na minha clínica em Brasilia, estabeleci um dia de atendimento gratuido por três anos. Advinha se deu certo? Não, não deu. Os clientes que pagavam ficavam até em fila de espera, mas 95 por cento dos clientes do dia gratuito faltavam constantemente à terapia. Aquelas pessoas me ensinaram que eu estava entrando no padrão de comportamento delas, da desesperança. Elas me despertaram para o sentimento de culpa que naquela época ainda carregava ao ver pessoas pobres e pedindo esmolas, enquanto eu lutava dia e noite, estudava, investia no meu progresso espiritual, mental e emocional como ainda faço – isso não quer dizer que não há pessoas necessitadas! Há pessoas que precisam de ajuda mas hoje eu bato o olho e vejo. Essas mostram claramente que estão numa condição social forçada mas querem sair. Elas não têm empregos, carros, jóias e fazem qualquer trabalho digno para sair da pobreza e têm uma noção clara do valor do dinheiro. Essas não são pobres de espírito que mendigam progresso espiritual e não querem pagar por ele. Muitas delas estão tão ocupadas para ganhar algum dinheiro e sobreviver que sequer sabem o que é terapia ou Reiki.
O profissional de Reiki que carrega a culpa do mundo ainda precisa se tratar, bem como aquele que vive fora da realidade e não fez as pazes com a prosperidade. É por isso que antes de cuidar dos outros você precisa verificar se já cuidou o suficiente das suas pendências emocionais, mentais e espirituais que todo mundo tem e das desesperançadas pendências emocionais herdadas de família ou adquiridas em situações difíceis que não são para sempre como você quer. O caminho é procurar ajuda terapêutica e fazer o dever de casa daquilo que aprendeu até agora e não põe em prática. jjoacir@gmail.com (este texto foi publicado em 2010)
Por José Joacir dos Santos