Por José Joacir dos Santos (8)
Quando era adolescente ouvia as pessoas mais velhas dizer que a vida tinha sido boa na época da juventude delas, mas nunca entrei na discussão. Como o tempo descobri que a minha vida poderia ser boa e interessante e isso foi ficando mais claro depois dos 30 anos. Percebi, então, que a vida melhorava na medida em que cortava as ligações familiares prejudiciais, selecionava amigos e focalizava em mim mesmo.
Na minha juventude, o mundo atravessou graves danos à beleza da vida. Dos anos 70 aos 90 houve a ascensão das drogas, das doenças, da ditadura e da guerra fria. Mas havia a possibilidade de não se envolver com nada disso e assim o fiz. Eliminava as pessoas da minha convivência no momento em que descobrir que usavam drogas, assim também aquelas com laços em qualquer tipo de atividade ligada à desonestidade e ao crime. Não havia internet e o telefone era o meio de comunicação seguro, até certo ponto ou pelo menos era mais fácil de manter privacidade. Agora, telefones e internet deixam as pessoas nuas, vulneráveis. Qualquer um pode entrar na vida particular de quem quiser.
Quando ando pelas ruas percebo o quanto a juventude está doente, triste, cheia de drogas, tatuagens e outras ilusões prejudiciais à beleza da vida. Parecem solitárias, angustiadas, desesperadas com seus celulares. Elas batam nas outras, dão cotovelas, desconhecem a gentileza e o bom trato. Na minha época, a juventude era muito mais sadia e o sexo era o grande mergulho, apesar de ser o tempo onde as doenças sexualmente transmissíveis derrubavam as pessoas. Sonhava-se com algo que hoje é chamado de internet, onde a juventude vive mergulhada e ao mesmo tempo solitária, arriscando a saúde mental e se expondo a extremista de plantão. Quem não tem um celular hoje em dia vive amargurado, se sentindo inferior, achando que o mundo é o pior lugar para se viver. Há os que sonham em viver em outro planeta e há os que se entregam aos grupos sanguinários e terroristas. Quando poderíamos imaginar que o nazismo fosse um ponto de referência para os problemas brasileiros? Eu visitei campos de concentração nazistas na Polônia e não desejo aquilo para o meu pior inimigo, se é que tenho alguém nessa categoria.
Que estar escrevendo sobre esperança, beleza, alegria, prosperidade e tudo o que eu ainda acredito e desejo para a humanidade inteira, mas não sai da minha mente as figuras tristes e varias, agressivas e distantes que encontramos todos os dias nos centros das grandes cidades. O que podemos fazer para sair dessa situação? Antes, a gente tinha o governo para se espelhar e acreditar que havia alguém se preocupando e trabalhando para o bem-estar da humanidade. Hoje, queremos distância de pessoas que foram eleitas pelo voto direto porque se mostram incompetentes e distantes de qualquer compromisso pelo bem-estar da nação. Entraram na política para pensar nelas mesmas e na riqueza fácil. Querem destruir valores que a humanidade suou para construir e conquistar. Querem destruir monumentos, florestas e implantar ideologias religiosas ultrapassadas e que não fizeram bem algum em suas eras de ouro. Que benefícios podemos desfrutar, nos dias atuais, dos ensinamentos conservadores religiosos? A quem interessa a vida de monoteísta e de um livro só? A quem interessa um cristianismo selvagem e cego como aquele que matou milhares de pessoas durante as cruzadas, a inquisição, a escravidão, o nazismo, o comunismo e outras atrocidades apoiadas pelos senhores das igrejas – e da pouca fé?
Ainda me atrevo a lançar um olhar distante e visualizar um índio brincando com as ondas do Oceano Atlântico sem imaginar que um dia o homem branco, europeu, cristianizado, vai invadir as terras e implantar o terror. Mas, mergulhar nessa imagem não aliviaria, em nada, meu temor pelo futuro da humanidade porque os descendentes daquele europeu hoje ainda pensam em destruir a Amazônia, desproteger as nascentes dos rios, acabar com o ensino universitário, tudo em nome de deus. Que deus é esse, cruel, sem raízes, sem futuro e sem cérebro? O mundo está doente! Nada melhorou depois daquela música de Renato Russo. Se tivesse um filho hoje me atreveria a dar a ele/ela um nome de índio. (*) jornalista e psicoterapeuta