Por José Joacir dos Santos
No ano de 1600, quando os ingleses chegaram no que hoje se chama Índia, a mando da Rainha Isabel I, os orientais já experimentavam a musicoterapia de maneira singular, harmônica e com intenção medicinal. Já existiam os tratados de Fitoterapia. Em 1543, os navegadores António Mota, António Peixoto e Francisco Zeimoto (e presumivelmente, Fernão Mendes Pinto) chegaram ao Japão, com a bandeira portuguesa. A diferença entre ingleses e portugueses é que os portugueses queriam apenas ouro, especiarias e expandir o catolicismo. Já os ingleses queriam terra, com tudo o que elas tivessem, poder político, expansão do império que editava a bíblia de acordo com os interesses do monarca que ocupava o trono. Portugal queria submeter os monarcas japoneses, mas não conseguiram. Os inglês distribuíram títulos nobres para trazer todos os monarcas indianos (marajás) para o seu salão imperial.
Naquela época, havia muitos reinos entre o que hoje é Nepal, Tibete, Índia, Paquistão. Fronteiras eram confundidas ou não existiam desde a Rota da Seda. O que existia do que conhecemos como Índia hoje era o Vale dos Hindus, cada um com seu monarca preferido. O Ocidente só levou a sério o conhecimento e uso das tigelas há menos de um século, quando os tibetanos exilados na Índia tiveram que vender suas tigelas cantantes para sobreviver. Com a invasão chinesa e ocupação do Tibete, em 1948, muitos objetos religiosos ou terapêuticos foram tomados pelos chineses, assim como móveis, jóias, estátuas, ouro e muitas dessas coisas foram parar nos mercados de Hong Kong e Londres. Muitas famílias se esconderam nas montanhas do Nepal e levaram consigo seus conhecimentos milenares, inclusive a fabricação das tigelas.
De acordo com uma fonte que não posso revelar, o último mestre tradicional em musicoterapia tibetana morreu em 1900, exilado no Nepal, e seus discípulos, aqueles que escaparam com vida da invasão, se fragmentaram e se espalharam pela Ásia. Pode ser que alguma coisa tenha renascido das cinzas, mas isso é difícil de checar no Tibete atual. Felizmente, muita coisa se salvou e está fora do Tibete. O Nepal hoje é conhecido como um dos melhores comércios das tigelas chamadas tibetanas, graças à maneira peculiar de seu povo e por abrigar muitos exilados tibetanos. As tigelas vendidas na Índia carecem de qualidade. A maioria delas são decoradas com imagens budistas, mas falta a correta sintonia. Essa calibração requer maestria do fabricante. A fabricação industrial das tigelas faz delas apenas sinos, para os cultos e cerimônias, não para a terapia.
Mesmo com a morte de monges e mestres budistas importantes durante a invasão chinesa, muitos dos rituais sagrados, onde eram utilizados os instrumentos de metais e as tigelas tibetanas foram preservados e ainda hoje são executados em países como Nepal, Burma, Butão. Nesses países, a mesma tigela que era utilizada para colher o leite da cabra virava prato para comer e também instrumento de meditação porque os povos dessa região não estavam, e muitos ainda não estão, acostumados a acumular bens móveis e imóveis como nós ocidentais não estamos acostumados a viver sem eles. Durante a pandemia do Covid-19 utilizei as tigelas também com utensílios domésticos na ausência da minha mudança, a caminho de outro país.
Nunca se sabe o que está por trás do pensamento do povo chinês, especialmente dos políticos, e quase ninguém no mundo Ocidental entende por que a China quer manter o Tibete debaixo dos seus pés. Como a Inglaterra hoje, que votou por sair da União Europeia sem se lembrar que é apenas uma pequena ilha, o povo tibetano nunca teve a ideia de que eles eram um país no topo das mais difíceis montanhas do mundo. Quando a China fechou as principais entradas e saídas livres, entre as montanhas, o país foi ocupado e perdeu o que era mais precioso, fora o ouro: parte do seu povo foi morto e com eles muito conhecimento mantido fechado e isolado do resto do mundo por centenas de anos. Por outro lado, se o Tibete não tivesse sido invadido, correria o risco de muito conhecimento que temos hoje traduzido em várias línguas tivesse se perdido porque era passado pela tradição oral, longe do povo, trancado nos monastérios.
Os invasores pensavam que apagariam tudo, mas estavam enganados. A destruição foi devastadora, mas houve tempo de muita coisa escapar pela fronteira gelada – o paredão do Himalaia. Ainda hoje aquele paredão cumpre seu papel protetor, embora os tibetanos exilados na Índia tenham se trancado, com medo. Ainda hoje eles vivem como se fossem levantar a barraca a qualquer momento e voltar para casa. Depois da fuga do Dalai Lama, a elite tibetana que sobreviveu percebeu que precisava se abrir e o Dalai Lama ordenou que tudo fosse colocado em livros e em inglês, para o mundo apreciar. Há preciosas livrarias em Kathmandu, Nepal, muitas delas sofrendo pressão para fechar e em seu lugar abrirem lojas de artigos de cozinha, feitos em plástico, todos chineses, como já ocorre nas principais cidades da Espanha e do Brasil. O plástico advindo dessa expansão agora polui rios e mares.
Assim como ocorreu com a Biblioteca de Alexandria, Egito, há séculos, destruída várias vezes por interesses políticos de cada época, desde os romanos, mestres, monges, sábios e bibliotecas tibetanas inteiras foram queimadas no Tibete depois de 1948, assim como monastérios foram destruídos completamente. Monges e sábios morreram e levaram consigo o segredo da fabricação de instrumentos, embora muito se preservou do outro lado das fronteiras tibetanas — Nepal por exemplo. O que escapou ainda é conservado debaixo de sete chaves. O material empregado nas tigelas originais ninguém sabe definir ao certo, embora em algumas delas seja encontrado sete metais, inclusive ouro – o metal utilizado pelos tibetanos para as coisas do espírito (as civilizações de outros planetas também valorizam o ouro). As tigelas se destacam por sua peculiaridade: são também instrumentos terapeuticos. Esse conhecimento vem das inúmeras tribos Bô (Bor), basicamente xamãs, anteriores à chegada do Budismo. Como digo em outros artigos, o conceito de xamanismo no Oriente é totalmente diferente do praticado no Ocidente, especialmente o da América Latina, porque o sacrifício de animais não é permitido. O Xamã que sacrifica é banido.
Os índios Bô dominavam toda a região do Himalaia antes da chegada do Budismo. Povo bom, manso, do rosto moreno queimado pelo gelo do Himalaia se adaptou plenamente á nova religião, assim como o Budismo incorporou muitos aspectos dos rituais xamânicos, daí a diferença do Budismo Tibetano em relação às demais ramificações daquele estilo de vida. Pela praticidade de suas vidas, acostumados também com o estilo meio nômade, os tibetanos usavam as tigelas de várias formas: desde a colheita do leite das cabras e outros animais às cerimônias religiosas e de cura. Eles também sabiam que a batida do leite quente na tigela provocava um efeito curador ao som dos sete metais. O leite é líquido e os líquidos são vulneráveis aos sons – se transformam.
As tigelas variam de tamanho, peso, qualidade, sintonia, material, função e frequência sonora. As mais antigas e de melhor qualidade medem entre 5 e 40cm de diâmetro, pesam em torno de 150g. As mais antigas e bem elaboradas, que não foram derretidas pelos chineses para tirar os metais, estão espalhadas pela Ásia, Europa e EUA. As mais autênticas trazem símbolos budistas gravados em seu interior ou o nome e linhagem do antigo dono em seu exterior. Não confundir essa assinatura com os desenhos budistas modernos, até com os oito símbolos sagrados do budismo fabricadas recentemente na Índia – a maioria só tem um metal, não sete.
Atualmente os fabricantes já sabem que ao gravar o nome com fogo tira-se um pouco da qualidade das tigelas. Todas foram feitas manualmente com fogo, martelo e suor. Mas era um processo secreto, como receita de bolo. O melhor lugar para tentar comprar uma tigela autêntica são as lojas de Katmandu, Nepal. Falta qualidade também nas tigelas fabricadas por japoneses. Na verdade, o que eles fabricam é para ser usado em cerimônias religiosas como sinos, não na terapia. Há as falsificações chinesas, de baixa qualidade e sem efeito holístico nem curador.
Dependendo da região onde eram manualmente fabricadas, as tigelas contêm de dois a doze metais, todos escolhidos pelos seus efeitos terapêuticos. A principal características delas é o som emitido, capaz de alterar o estado de consciência, a energia dos ambientes e de facilitar o processo de aprendizado emocional/espiritual de quem as toca ou escuta. Muitos fabricantes não se preocupam em adicionar metais. Eles querem é vender. O povo tibetano não conhecia pílulas, apenas chá de ervas, instrumentos de cura e rituais xamânicos-budistas porque o ser humano era visto como corpo-alma-emoção e espírito (isso ainda é conservado nas comunidades exiladas). É uma cultura onde a psicologia está profundamente enraizada no conhecimento popular — sem que soubessem da existência de Freud e Jung. As investidas ocidentais naquele país, sem petróleo, serviram para salvar objetos, pessoas, livros e até tradições. Há muita gente boa que ajuda ao Tibete de várias formas.
Os tratamentos com as tigelas eram feitos de várias maneiras, com ou sem ervas, orações e mantras. Nos dias de hoje, colocamos o cliente em uma maca, espalhamos as tigelas sobre o seu corpo, cada uma direcionada a um chakra ou aos principais pontos de energia que precisam ser trabalhados. Podemos utilizar florais como substitutos das ervas. Os efeitos sonoros e vibracionais das tigelas ressoam na pessoa tratada e têm efeitos imediatos em casos de hipertensão e tensão muscular, por exemplo. O terapeuta tem que estar bem treinado porque a frequência sonora das tigelas e instrumentos de metal também penetram em seus chakra provocando alterações. Popularmente isso é conhecido como massagem sonora, mas o cidadão comum pode pensar que é outra coisa.
A música tem um efeito impressionantemente rápido sobre pessoas que sofrem de obsessão espiritual, viciadas em maconha e outros desequilíbrios de ordem emocional/espiritual. É possível utilizar essa terapia como coadjuvante no tratamento de diversos desequilíbrios, sem dispensar os serviços médicos. Cada coisa no seu lugar. Infelizmente aquelas de origem indiana, japonesa e coreana não têm o mesmo efeito por causa do ordinário metal utilizado em sua fabricação. O coentro brasileiro tem sabor diferente do nepalês e ambos são coentro. A diferença é a terra, o clima, a altitude etc. Terapeuticamente, elas só servem como sinos, nos rituais religiosos ou aulas de Reiki e Yoga. Não compre jamais uma tigela rachada, amassada ou que tenha diferentes metais visíveis (eles aparecem grudados como enfeites). Nas tigelas originais você não ver os metais nem sabe quais os que estão contidos na tigela. Só o som é diferente.
Não existem muitos estudos, da maneira ocidental de pesquisa, comprovando o efeito terapêutico das tigelas cantantes, mas todos sabemos do efeito terapêutico dos instrumentos de metal, corda, couro e madeira. Quem quiser saber se eles são de Deus é melhor jamais procurá-las porque na cultura oriental isso não existe – tudo é de Deus e não só de um Deus. O resultado varia de acordo com a pessoa tratada, conforme as vibrações individuais, porque cada indivíduo é único, e tudo isso depende da formação do terapeuta. Elas, como os cristais, precisam de comando apropriado. Um cristal sem comando é como um carro sem motorista. Um cristal parado em cima de um móvel, sem programação, capta e guarda todas as informações do local e podem ser um perigo à saúde das pessoas da casa.
Já há muitos estudos sobre a musicoterapia, especialmente nos Estados Unidos e Europa. Para citar autor que publicou seu livro em português, o oncologista e usuário de tigelas cantantes Mitchell L. Gaynor afirma em seu livro “Sons que Curam”, que o Dr. Jeffrey Thompson, professor do Instituto Californiano de Ciências Humanas, “empreendeu estudos pioneiros sobre os efeitos físicos das tigelas cantantes” e “chegou a demonstrar que as tigelas cantantes produzem sons compatíveis em frequência e tons com os sons produzidos pelos anéis de Saturno”. Há também estudos que comprovam os benefícios das tigelas em tratamentos contra câncer. Melhor que todos os estudos são uma sessão de musicoterapia oriental com congos e tigelas. Depois, um banho com água salgada e um bom sono. (atualizado em 11/07/2020)
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