Desde que fui iniciado na Irmandade da Kuan Yin, em 1990, logo depois de chegar a Pequim, onde morei por seis anos, passei a viajar por outros países da Ásia querendo conhecer o que não era possível naquela época na China, devido ao sistema político implantado que proibia religião e os estrangeiros não tinham livre acesso aos lugares e às pessoas. Nunca tinha ouvido falar e sequer lido algo sobre Kuan Yin. Todas as minhas descobertas de lugares, imagens, objetos de uso nos cerimônias foram sempre ao “acaso”, isto é, aconteciam sem planejamento. Muitas foram as vezes que me surpreendi até compreender que a Kuan Yin Pu Sa é um ser espiritual muito elevado, presente no dia-a-dia de nossas vidas, e responde a todas as chamadas feitas com o coração. Essa relação com seus devotos é ímpar, há mais de seiscentos anos, em toda a Asia, há registro disso.
A “Deusa da Misericórdia e do Perdão” cumpre a sua missão e é presente, como nenhuma outra entidade que eu conheça, com exceção daquelas que chamamos de anjo-da-guarda ou guardiões. Estes têm um compromisso individual com os seus protegidos mas a Kuan Yin tem um amor incondicional por todos aqueles que lhe chamam, de onde forem, onde estiverem, seja quem for. Ela é sutil, benevolente ao extremo, capaz de se lançar em qualquer direção e circunstância para resgatar alguém. Nunca pedi coisas matérias porque sei que esse assunto é entre nós e a energia universal. Todos os meus pedidos foram e são da sua interferência em situações de catástrofes, acidentes, problemas emocionais de clientes, amigos, familiares e alunos. Nos livros que contam a sua história também registram até pedido de mulheres para engravidar e de guerreiros para se salvarem nas batalhas.
A mais recente experiência aconteceu ontem. Estava fora do corpo trocando idéias com um grupo de pessoas que não conheço neste vida, com exceção da minha irmã Gercina, em um lugar velho conhecido meu espiritualmente mas não de corpo físico presente. Este lugar é uma espécie de chapada, de onde se vê o vale muito abaixo, coberto de árvores, onde tudo o que se fala é ecoado. Muitas pessoas vão a esse lugar em viagem astral e já vi pessoas cantarem para assistirmos o efeito físico da música por todo o vale, como se esse fosse aparelhado com inúmeras caixas de som potentes.
Na reunião de ontem decidimos que cada um dos presentes iria se desdobrar até um lugar qualquer da terra. Todos começaram a “pular” do penhasco para poder “flutuar” no ar como se faz na água e daí deixar o corpo astral seguir para o lugar onde a mente está pensando. Eu escolhi uma estátua de Kuan Yin enorme que tem em uma cidade do Japão que não conheço. Pulei, comecei a flutuar e senti meu corpo astral sendo puxado para o lugar do meu pensamento em alta velocidade. Em certo momento percebi que a energia acumulada no meu “cordão”, ou centro de força, não era suficiente para ir e voltar. Então decidi voltar para a minha cama, em casa. Mal senti o baque do reencaixe no corpo físico e ouvi as minhas tigelas tibetanas soarem, os sinos baterem e por segundos pensei que era mais um terremoto em São Francisco. Não era.
O som foi imediatamente acompanhado por uma voz de mulher, a mais bela que já ouvi em toda a vida das minhas memórias, cantando em tibetano. Olhei para a janela de onde o som vinha e não vi ninguém. A canção tornou-se mais próxima, o barulho das tigelas e dos sinos também, agora ritmado, a voz da mulher que cantava mudou para chinês antigo e de repente o meu terceiro olho se expandiu: era Kuan Yin! Não dá para descrever este momento de intensa emoção! Ela me disse algumas coisas que eu prefiro não revelar e que nunca, jamais, pensei ter esse merecimento. Nunca vou esquecer esse momento. Salve Mãe Kuan Yin e toda a sua misericórdia recheada de amor incondicional! San Francisco, California, 2007. Por José Joacir dos Santos, jjoacir@gmail.com