Por José Joacir dos Santos
Percebi que estava fora do corpo quando descia sobre uma cidade plana mas que não a conhecia. Fui deixado em frente a uma casa com uma longa escadaria que levava ao primeiro andar e no pé dela havia um ser masculino olhando direto para mim como se já me esperasse há tempos. A única palavra mental que ele disse foi: suba. E me seguiu até um quarto onde havia outro já me esperando – o chefe. Não sabia o motivo daquela viagem mas havia, no fundo, confiança naquelas pessoas aparentemente desconhecidas. Não conseguia olhar firmemente para ele porque a sua imagem era muito transparente e sumia quando eu fixava nele. A linguagem era só mental. O assistente recebeu do chefe uma espécie de papel e me entregou. Quando segurei e li, era um cheque milionário e nominal. Ao ler o cheque mais uma vez veio na minha mente a imagem de uma fazenda e o nome do proprietário. Uma voz no fundo da minha cabeça disse: lembre desse nome. O assistente diz: você vai me gratificar? Devolvo a ele o cheque. Os dois seres se entreolham. Era um teste. O assistente devolve o cheque, agradece e se retira. O chefe me manda sentar. Sobre a cadeira havia uma espécie de fone de ouvido brilhante, como se fosse ouro, sem fios, solto no ar. À distância, o chefe comandou: agora você vai ter acesso à memória de muitas outras vidas, pelo menos das últimas 30.
Quando o “fone de ouvido” pousou sobre minha cabeça, a minha consciência foi para o ar e eu desabei em choro. A transmissão daquelas memórias era feita diretamente em conexão com meu próprio DNA. Era como se não fosse de fora para dentro mas de dentro para dentro, confirmando o conhecimento já existente de que tudo está gravado em nossas próprias células. O fone foi retirado e o meu ser colocado em pé debaixo de um “portal”, que eu diria eletrônico, mas a olho nú era como se fosse um portal de madeira desses que se coloca nas portas. Ele disse para me dar um passo para a frente e outro para trás sem interrupção e mantivesse nesse movimento, sem sair da área do portal. Uma música foi colocado para testar se eu estava mesmo concentrado. Entendi o recado, e me concentrei a fundo. Em segundos, ouvi uma voz de mulher atrás de mim. “Sim, é ele”, disse a mulher. “Ele sempre me ignora dessa forma”, continuou. Pensando ser outro teste, nem olhei para trás. Pela primeira vez ouvi a voz física do chefe, que mandou a mulher ficar na minha frente e me olhar firmemente.
Ela se colocou na minha frente e começou a chorar. Olhei rapidamente para seu rosto e continuei fazendo o meu “exercício”. Vi que meu corpo agora era muito mais alto do que o atual, por volta de 1.85cm. A voz do chefe manda que a mulher olhe para o meu pé direito. Eu também olho e vejo que não tenho os dedos no pé direito. O chefe diz para a mulher que ela não é a minha mãe na vida presente, mas quando foi minha mãe naquela vida ela cortou todos os dedos do meu pé, ainda quando criança, em um momento de raiva. A mulher chora muito e conta em que circunstância cortou os dedos do filho. Toda a memória daquela vida veio à tona e comecei a chorar também. Agora via meu pé de criança sendo cortado pela minha mãe e que resultou na minha morte – ela nunca mais reencarnou por esse motivo. O chefe agora se dirige a mim e manda que eu passe a mão no pé e o reconstrua. Obedeço e meu pé é reconstruído. É perguntado à mulher se ela quer me pedir perdão pelo feito. A mulher olha nos meus olhos e pede perdão. Eu a perdoo e repito que o faço de todo o meu coração. A mulher é liberada e o meu exercício acaba. Olho para o “chefe” emocionado e sou devolvido ao corpo físico.
Eu poderia ter ficado com o cheque e voltando para o meu corpo imediatamente. Quem sabe aquele dinheiro se materializaria. Mas ao gratificar sem olhar a quantia, eu passei em mais um teste e foi gratificado com a regressão de uma vida passada, importante, que afetava a atual sem que nem desconfiasse. O meu pé direito, nesta vida, tinha aparente saúde plena, mas sempre foi aquele que as unhas encravavam, havia acidentes, frieiras, dormência, bati tanto com os dedos que um deles é bem torto. Em novembro passado apareceu uma ferida entre os dedos. Tentei tratar com medicamentos e nada aconteceu. Comecei a aplicar Reiki e, de preta, a ferida ficou branca. Talvez tenha sido esse tratamento que me habilitou a resgatar todo o corpo espiritual do meu pé e, paralelamente, libertar uma pessoa presa por um crime cometido contra uma criança – seu próprio filho. Voltei para o corpo com a feliz sensação de ter resgatado o meu pé, cuja ferida branca secou e a casca caiu. Quantas fragmentações dos corpos espirituais podem ser projetados na vida atual em forma de deficiência? Quantas pessoas podem estar presas por trás delas? Então, um dia a justiça é feita? jjoacir@gmail.com