Por José Joacir dos Santos
O que pensar sobre jovens recém-admitidas na universidade, da cidade de Bauru, interior do Estado de São Paulo, que hostilizaram uma colega por ela já ter 40 anos de idade e ser aprovada nas provas? Desde 2018 que vemos coisas muito estranhas no Brasil inteiro. Mas, nunca poderíamos pensar em jovens mulheres sofrendo de etarismo, o preconceitos contra pessoas mais velhas. Essa história não é de hoje. Quando fiz a minha primeira pós-graduação, em psicossomática, minha turma era constituída, em sua maioria, de jovens mulheres psicólogas. Eu era o mais velho da turma, com 40 anos de idade. Não precisa ser pouco observador para notar que as jovens psicólogas sofriam de etarismo. Nos debates, quando eu abria a boca para opinar, uma delas sempre dizia: … no seu tempo …. as coisas talvez fossem assim. Hoje em dia, não. E não era verdade, era preconceito mesmo. As teorias de Freud e Jung não tem idade. Podermos até adaptá-las, mas não envelhecem.
Já se falou muito que todo tipo de preconceito é ignorância. É o apega das pessoas a suas próprias confusões emocionais mal resolvidas. Por exemplo, a pessoa homofóbica tem sempre um pezinho escondido na própria sexualidade e usa a homofobia para esconder naquilo que pode. O que aquelas moças de Bauru estariam escondendo delas mesmas por trás de tanto deboche? Teriam colado a vida inteira até chegar na universidade e nesse percurso não teriam tido formação familiar básica, aquela que só se aprende em casa? Ou seria algo mais? No caso em questão, o tiro saiu pela culatra e o país inteiro tomou conhecimento no nível cultural/educacional daquelas moças…
Quando fui alvo do etarismo de algumas de minhas colegas de pós-graduação, em Brasília, a minha resposta/vingança foi estudar. Dediquei todo o meu tempo para aprender tudo que era ensinado e não deixei de pesquisar fora do que era ensinado. Em uma das provas, fui capaz de reproduzir, na frente do professor que aplicava o teste, uma tabela inteira, difícil. Só eu e um médico-psiquiatra acertamos aquela tabela. Minha tese foi aprovada também com nota dez. Fiz uma cópia, dei de presente e pedi para a escola deixa-la à disposição das colegas que desejassem lê-la, já que muitas não conseguiram apresentar uma tese e as que apresentaram não tiraram um dez como eu e aquele médico. Assim tem que ser para todos os tipos de preconceito.
A idade só é um limite para quem não se cuida, não vive a vida, não aceita que dependemos do tempo para envelhecer com saúde, seja física, mental, emocional ou espiritual. A saúde física é o maior desafio porque ela depende de outros fatores com a genética, o estilo de vida, a maneira como o indivíduo encara a vida e a sociedade. Brigões morrem cedo! Evidentemente que há limites. Uma pessoa de quarenta anos não pode disputar uma maratona com jovens de 20. Quando acontece, é um caso em cem. A saúde mental/emocional é o grande trunfo. Precisamos, desde muito cedo na vida, escolher com quem viver e conviver, seja de fora ou de dentro da família. Não vale a pena e é prejudicial para a saúde se deixar envolver com pessoas emocionalmente desajustadas e com formação moral, ou seja, educação familiar, fragilizada. Se houvesse a possibilidade de se examinar, com cuidado, a vida emocional daquelas moças de Bauru, muita coisa seria revelada porque ninguém participa de um violência daquelas porque não sabe o que está fazendo.
Naturalmente que o estado brasileiro é responsável, de certa forma pela educação familiar. Estivemos à beira de um colapso social, mas isso foi parcialmente resolvido nas eleições presidências do final de 2022. Muito há que ser feito. O etarismo é antigo no país inteiro. A juventude brasileira é ensinada, por vários ramos da sociedade, que a velhice é chata. Idosos são abandonados em casas de repouso porque jovens filhos e filhas não querem cuidar da mãe ou do pai que envelheceu e tem contratempos na saúde. Envelhecer com saúde é um privilégio de poucos. Queria ver, daqui a 20 anos, como estaria cada uma daquelas jovens preconceituosas de Bauro para lembrar a cada uma delas da grande obra negativa que elas construíram contra uma colega de apenas 40 anos, que lutou para fixar seu nome na lista de aprovados, em um país onde a educação acadêmica ainda é um privilégio.
Pasmem: as jovens de Bauru vão estudar biomedicina!
14/03/2023
Desdobramento do caso: As três estudantes que publicaram video preconceituoso ridicularizando colega de 40 anos que tinha passado nos provas desistiram do curso por pressão das redes sociais e porque a escola havia instalado um inquérito. Agora, a estudante de 40 anos pode estudar em paz. Veja o link abaixo:
Estudantes que ridicularizaram colega de curso com mais de 40 anos desistem da faculdade