Todos os dias as quatro da tarde saio do trabalho e vou para a universidade, onde tenho aula de inglês. Faço um trajeto de quinze minutos, mais ou menos, a pé, na minha velocidade habitual, que todos os que caminham comigo reclamam. Chovia. Quando ia cruzar a rua que divide o caminho para a minha parada de ônibus e a escola, senti uma vontade imensa de não ir para a aula. Sempre obedeço a esses comandos, então, esperei o ônibus número 5, que é o que mais próximo passa da minha casa. O ônibus chegou e, com sorte, encontrei um lugar para sentar. O ônibus enche nas três paradas seguintes e na quarta entram duas mulheres negras, jovens, discutindo uma com a outra. A briga pega fogo dentro do ônibus, onde os passageiros foram obrigados a ouvir todo o dicionário de palavras de baixo calão. O constrangimento era geral mas ninguém abre a boca porque sabe que é perigoso argumentar com algum “afro-americano”. A reputação dos negros em São Francisco é a pior possível e eles fazem questão se manter. Como se não bastasse, na próxima parada entrou um adolescente, também negro, visivelmente drogado e com um rádio ligado. De nada adiantou o motorista mandar ele desligar o rádio. Como o motorista era de origem oriental, não se levantou para expulsar essa gente, como faria se fosse um latino ou mesmo um branco. Aqui isso é muito visível. Lembrei que a única coisa que poderia fazer era Reiki. Mandei ver. Não cheguei nem a terminar a pedir permissão ao ser superir dos três. Alguém puxou a cigarra e os três desceram, brigando e gritando. Houve aquele alívio no ônibus inteiro e, mais uma vez, senti a força do Reiki. O ônibus continuou, mas logo percebi que a direção havia mudado. As pessoas começaram a descer e eu, por fim, fui ao motorista perguntar o que estava acontecendo. Ele me olhou meio surpreso e respondeu: estou seguindo o roteiro normal da linha. Que linha é essa, então, não é a número 5? – peguntei. Não, se você quer o número 5 desça e espere na próxima parada. Não é a primeira vez que pego o ônibus errado achando que é o certo, e mais uma vez coisas inusitadas acontecem. Sei, pela experiência, que isso não é coincidência. Quem está a serviço não deve recusar uma tarefa. Cheguei em casa no mesmo horário que chegaria se tivesse ido à aula.
Por José Joacir dos Santos