Por José Joacir dos Santos
Não foi só a espiritualidade que usou inúmeros médiuns para avisar, dez anos atrás, que haveria uma terrível pandemia a caminho do planeta e que as consequências dela dependeriam da reação dos governantes e de cada indivíduo. Há quatro anos, a Organização Mundial da Saúde também alertou a todos os governos do mundo que se preparassem para desastres e pandemias. Ninguém fez nada.
Qual a parte que caberia a cada indivíduo? O universo permitiu a pandemia, com uma só exigência: que afetasse a todos os seres humanos, independentemente de classe social, cor, raça, religião, nacionalidade. Do contrário, só os países pobres seriam afetados. Mas, a sabedoria universal não dorme. A parte de cada um era muito simples: ficar em casa e mudar completamente o modo de vida, o pensamento, o coração; que soltasse a fabricação do ódio. Mas isso também não aconteceu. O ódio continuou a ser espalhado com um novo nome: fake news. E a imprensa diz que até dinheiro público foi utilizado para espalhar o ódio.
O vírus veio para arrasar e cumpriu sua tarefa, cegamente. Governantes tentaram dominá-lo, politizá-lo, controlá-lo, ignorá-lo e todos erraram. Quem seguiu as chamadas “boiadas” pagou caro com sua ignorância. O país aprendeu que há uma parcela da população que sequer se preocupa em ter identidade, CPF, título de eleitor e qualquer documento que o agregue às obrigações naturais de qualquer cidadão em qualquer país do mundo – mas, quer dinheiro na mão! E é essa gente quem pula nas ruas para gritar contra qualquer coisa ou situação que contrarie seu egoísmo e sua irresponsabilidade. Aprendeu que prefeitos e vereadores estavam desacostumados a exercer suas funções, isto é, exercer o papel que o voto lhe confiou. No Rio Grande do Sul, prefeitos travaram uma batalha para manter seus municípios fora dos controles sanitários, negando o alastramento do vírus e as mortes, até em frigoríficos. Só sabiam cuidar de seus salários e bens familiares. Aprendeu que devemos ter, sempre, uma reserva financeira para eventuais desastres e catástrofes porque nessas horas dinheiro não cai do céu; que trabalhar e ter autonomia financeira é uma obrigação e um porto seguro; que não adianta culpar ninguém por nossas imperfeições, falhas, irresponsabilidades e falta de organização individual e familiar. Na hora do aperto, é vergonhoso ir para a rua gritar e culpar o governo, seja que for o governo, como se o governo fosse responsável por nossa própria vida. Quanta gente ainda acha que a sua vida depende do governo e continua elegendo pessoas despreparadas e mal intencionadas para governar?
A pandemia também trouxe para a superfície as mazelas dos governos, das polícias, da justiça, dos vilões partidários e das famílias políticas que só trabalham para si mesmas, usando o aparato governamental, público e traindo a confiança depositada pelo voto. São capazes de fazer qualquer coisa para chegar ao poder e não sair mais dele. Contam com a ignorância e a cegueira das boiadas sem miolos no cérebro, dominadas por ideologias religiosas.
Talvez a grande lição da pandemia foi, ainda está sendo e será que o nosso dedo deve, como nunca esteve, apontar só para nós mesmos. O vírus só se alastrou porque pessoas foram ao carnaval como se nada estivesse acontecendo; participaram de carreatas e aglomerações; negaram até os caixões se amontoarem nos cemitérios; promoveram eventos e festas clandestinas; continuaram a exigir que as vitrines das lojas estivessem abertas para alimentar seu egoísmo.
A evolução intelectual e espiritual é individual. Ninguém pode fazer nada por ninguém. Ficar em casa foi e continua sendo um grande desafio, principalmente econômico, mas muita gente ignorou o apelo pela vida. A boiada da economia não parou de gritar um só momento, exigindo que saíssemos na rua com o cartão de crédito na mão, ignorando as mais de 120.000 pessoas falecidas (até agosto/2020). Muitas delas, com certeza, atenderam ao chamado de ir ao comércio. Grupos farmacológicos continuaram a pressionar o povo com medicamentos que não funcionam contra a virose, com o apoio de importantes figuras da nação, amparadas, pasmem, por grupos religiosos, em nome de deus.
Infelizmente, ainda não dá para sermos muito otimistas. Muita gente vai continuar sem aprender nada porque jamais se esforça para pensar. Grande parte dela prefere se drogar para não pensar. Quem se lembra das carreatas no pico da pandemia, com carros luxuosos e o apoio de autoridades federais? Não temos nada a fazer. Não podemos trazer de volta quem faleceu, por uma razão ou outra. Talvez a missão daquelas pessoas irresponsáveis seja essa mesma!
No nível individual, cabe ainda perguntar: que aprendemos com a pandemia até agora? O que modificou ou vai modificar nossa vida? O que precisamos abandonar para sempre? O que será necessário começar do zero, mas, desta vez, com a consciência plena e ativa, com a energia direcionada para o bem, para o amor, a felicidade pessoal e da humanidade? É muito importante observar quem esteve conosco e quem nos abandonou. Quem esteve conosco e não contribuiu para o melhoramento do entendimento da pandemia e quem fez o contrário. Precisamos sempre observar quem está conosco porque isso pode ser um excelente termômetro na nossa vida.
O universo é sábio e correto. Sob o nosso olhar de formiguinha humana, as vezes pode parecer que o universo é injusto. Mas, um olhar compreensivo e honesto, sem paixão nem ideologias, pode revelar que o universo é a nossa morada eterna, administrada com muito amor e compaixão pelo nosso ser espiritual eterno. 04/09/2020