A cena foi curta, rápida e clara: a mulher entra no quarto do filho com uma arma de cano longo escondida nas costas. A cena se repete várias vezes: O filho está de costas para a porta, volta o olhar, vê a mãe olhando-lhe firmemente e ele a ignora: Ela chega, olha e sai. Desta vez foi diferente: a mãe aponta a arma e atira. Um só tiro, a queima-roupa, direto na coluna e o filho cai no chão. Em segundos o seu corpo já está morto. Ele se assusta com o tiro, sente apenas um frio enorme se espalhar por todo o seu corpo, como se tivesse acontecido um choque elétrico, embora frio, sem dor. O local se enche de uma claridade diferente. É retirado do corpo por atendentes espirituais. Fora do corpo ele olha para a cena, vê a mãe jogar a arma no chão e sair pela rua gritando: mataram o meu filho! Quando o filho tenta entender o que aconteceu, é levado para o processo de reencarnação imediata, onde vai renascer como uma criança abandona pela família em um país em guerra, sofrer as dores da guerra, e viver uma vida curta para dar tempo a mãe ser preparada para recebê-lo em outra vida, onde tudo se repetirá, inclusive a sua luta difícil pela sobrevivência, casada, sempre, com homens mal-amados e mal maridos. Do lado do filho, o carma com a mãe está quase cumprido. O que aconteceu com a mãe depois do assassinato não é tão importante e a única coisa que foi revelado é que foi a segunda vez que a mãe matou o filho, também pelas costas, simplesmente por “não gostar” dele.
Ela também não teve como rever os fatos depois que faleceu porque foi obrigada a reencarnar no primeiro corpo disponível para poder trazer o filho que assassinou. Sem poder escolher nada, nem a família que nascerá. Casará sem amor porque na sociedade em que voltará a viver é obrigada a casar muito jovem. Com um karma negativo mais aprofundado e com as habilidades mediúnicas reduzidas, a mãe não tem crédito para recordar o passado nem tenta superar toda raiva sem motivos que tem daquele que será seu filho. Mais uma vez, tenta matar o filho várias vezes com surras violentas, até por motivos banais de desobediência infantil. Não cuidou do bebê na infância e ele quase morreu por falta de alimentação. Ela não quis amamentar a criança, que foi alimentada com o leite de uma vizinha. Graças a essa vizinha, que insistiu em doar o leite, a criança escapou da morte. Isso criou uma relação de amizade entre a vizinha e o menino, que saciava a fome na casa da ama de leite. Já grandinho, ele aprendeu a sobreviver e comia escondido antes e depois das parcas refeições em sua própria casa porque a mãe até se “esquecia” de deixar alimentos para o filho. A regra era simples: se não estivesse em casa na hora da comida, não comia. Nesta vida o menino vai ter que enfrentar muitas situações difíceis para desafiar o seu karma de muitas vidas que viveu como militar. A própria aceitação em se submeter ao karma de mãe, ligado a assassinatos, faz parte da sua queima de karma relacionado às vidas tiradas em conflitos militares. A mãe tem também história de vidas militares e aceitou, em um momento qualquer, reencarnar sucessivamente como mulher para trazer filhos e redimir suas crueldades militares, mas tem fracassado em suas promessas uma vida após a outra porque não compreende o papel de mãe. Em suas confusões mentais, é incapaz de ver a luz do amor em si mesma e nos outros, mesmo nos filhos.
A esperança de que esse ciclo vicioso seja extinto é que nesta última vida o filho consegue fugir da família, especialmente da mãe, que “esquece” o filho ao se envolver emocionalmente com os outros filhos. Aparentemente, o esquecimento foi causado porque o filho, sozinho no mundo, se envolve com trabalhos voluntários e assistenciais e com isso o seu karma é redirecionado para ações mais produtivas, diferentes daquela de só esperar para ser assassinado mais uma vez, pela mãe. É como se parte do rio tivesse furado uma barreira e tomado outro rumo já que a terra não se nega, jamais, a emprestar o seu corpo para que a água flua em harmonia para onde desejar. O destino da mãe não é sabido porque está próxima a desencarnar, de câncer, sem ter entendido, mais uma vez, a grandeza do amor e a nossa capacidade de amar em qualquer circunstância, mesmo com fortes indícios de ódio em vidas passadas – os quais causam raiva sem motivos, pessimismo exagerado, tristeza, ganância por dinheiro, desconfiança, vazio, vinganças e doenças psicossomáticas como câncer, tumores, doenças raras e incuráveis. É assim o ciclo do karma para espíritos que vivenciam no corpo físico apenas as experiências animais da carne sem buscar a evolução do ser espiritual eterno. jjoacir@gmail.com
Por José Joacir dos Santos