Por José Joacir dos Santos
Do mesmo jeito que os evangélicos brasileiros da atualidade ignoram as atrocidades cometidas por certas seitas e pastores em nome de Deus, a Igreja Católica também ignorou, por séculos, as barbaridades cometidas por suas autoridades, desde o tráfico e assassinato em massa de do nazismo à famigerada inquisição. Há muitos equívocos que eles não tentam corrigir: os evangélicos se calaram quando um pastor chutou, em rede nacional de tv, a imagem de Maria, a mãe de Jesus. O que eles não sabem é a proibição do uso de imagens sagradas vem do antigo judaísmo, numa tentativa de distanciar o povo judeu que morou no Egito de cultura multidisciplinar, respeitada pelos judeus. Essa, como outras histórias, não tem nada a ver com Jesus, nem com o Novo Testamento.
Um leve olhar em livros antigos, publicados em Portugal, é possível verificar, sob o olhar da própria igreja, especialmente daqueles que eram sãos, o lodo que nunca foi limpo. Ao contrário do que possam pensar muitos incautos, o objetivo dos meus artigos é trazer uma releitura do que pode ser relido. Nunca saberia por que São Francisco morreu cego se não fosse uma franca conversa com um frade franciscano dentro da igreja de Santo António, em Lisboa. Foi tão intensa aquela conversa, tão fora deste mundo, que as pessoas que visitavam o local esperaram pacientemente e atentas para o que estava acontecendo entre meu espírito e o daquele dedicado frade. Tudo brilhava, do chão ao teto. As paredes desapareceram e eu mal conseguia saber em que língua estava falando. O fato de São Francisco ter morrido cego tem dois aspectos: as precárias condições de saúde da época em que ele viveu e a sua decisão de focalizar na pobreza.
A igreja de Santo António é um lugar que deve ser visitado por aqueles que amam a espiritualidade e a verdade dos fatos. O meu pouco interesse pela vida de Santo Antônio morreu naquele dia. Depois da conversa, andei pela igreja tentando ler toda a simbologia aflorada em cada canto e em cada parede da igreja. No segundo encontro mágico com aquele frade, já adquiri os livros sobre que não vendem em livrarias. Aos leitores inexperientes e imaturos um alerta: o que as livrarias não vendem é o que a elite não quer que você saiba. A própria igreja sabota muito conhecimento sobre seus antecessores. Por que ainda existe a discussão sobre a virgindade da mãe de Jesus? Agora você sabe o que estou falando, é tudo jogada política, nada a ver com espiritualidade.
Na época em que Santo Antônio viveu, a igreja não era o caminho da salvação, mas, sim, do esconderijo, da política e do materialismo (Lisboa, 15 de agosto de 1195 — Pádua, 13 de junho de 1231). Santo Antonio lavara pratos em um convento e São Francisco já era o fundador da ordem franciscana. Veja mais sobre isso no meu livro Prazer entre Homens. A próprio internet mostra o caminho do conflito: chamam ele de Santo Antônio de Portugal e de Santo Antônio de Pádua (Itália). Essa divisão geográfica entre Portugal e Itália diz muito bem o quanto a igreja estava (ou está?) mais comprometida com a política materialista do que com a santidade de seus fiéis discípulos. Nacionalismo e santidade não combinam. Sim, Santo Antônio pediu para ser enterrado em Pádua (Itália) porque tinha grande afinidade com as pessoas daquela região. Qual seria o problema? Mas a igreja fez uso até da morte do santo.
O conflito político da igreja vai mais além. Santo Antônio possuía vários dons mediúnicos, desde a clarividência à levitação, sem contar que tinha as mãos de cura e era amado pelo povo por sua eloquência nos sermões. Desde a tenra adolescência sofreu todo tipo de assédio moral por causa da sua mediunidade e dos supostos atributos físicos masculinos. Era superdotado. Tinha também o dom da palavra sem ter muitos estudos. Já na adolescência buscou refúgio em convento onde pudesse se isolar ao máximo quando não estava atendendo ao público. Todo mundo sabia o que se passava em conventos cheios de homens sem vocação quando o sol descia no horizonte. Só a Igreja continua a ignorar até hoje.
O livro Fontes Franciscanas III, “Santo António, legendas e sermões”, 2ª. edição, Toledo, Espanha, 2017, traz retrato revelador do que ocorreu com aquele santo homem após a sua morte. A Igreja queria esconder o corpo e o povo desejava prestar homenagens fúnebres, se despedir do santo. A narrativa do livro já se distância da igreja. O linguagem é bem mais próxima daquela dos livros de Chico Xavier e do antigo cristianismo, que desapareceu logo depois dos 300 anos de existência. Na época e lugar onde nasceu, viveu e morreu (?) Jesus, os povos acreditavam na reencarnação do espírito. O próprio Jesus, que falava com espíritos, ressuscitou pessoas, isto é, trouxe de volta ao corpo físico o espírito que já tinha partido. Toda a cronologia anterior ao nascimento histórico de Jesus aponta para a reencarnação que a Igreja Católica suprimiu de seus livros, ensinamentos, e as igrejas evangélicas seguiram esse mal exemplo. O que você acha que foi o encontro entre o Arcanjo Gabriel e Maria? Quem subestima o poder do Divino Espírito Santo?
O capítulo XV do livro acima citado começa assim: …” a treze de junho, numa sexta-feira, transitou felizmente à mansão dos espíritos celestiais, tomando o caminho de toda a carne, o nosso bem-aventurado padre e irmão António (sem o circunflexo) na cidade de Pádua…”. … “aí caiu pesado a mão do Senhor sobre ele e de repente começou a sentir que lhe faltavam as forças de todo o corpo…”. “… pressentindo o servo de Deus António que a dissolução de seu corpo estava iminente, chamou junto a si um dos frades e seus companheiros…”.
Antes de partir para a morada do pai, Santo António, que conseguiu, por esforço próprio, atingir níveis avançados de evolução espiritual, mas ainda sofria da “concentração inoportuna das pessoas do século…”. “… Tendo se acercado dele um irmão para lhe conferir a sagrada unção, como é o costume, fixando-o, o bem-aventurado António diz: irmão, não é necessário que me faças isso. Eu já tenho esta unção dentro de mim”. Isto é, deus está dentro de nós, não nas ferramentas/rituais inventadas por nós pretendendo que temos autoridade sobre deus.
A materialização de efeitos mediúnicos acompanhou Santo António por toda a sua vida. Muitos desses eventos foram abafados pela Igreja. Ele se transportava em espírito e se materializava onde desejava. Recebia a visita de egrégoras elevadas e cheias de simbolismo como o foi a materialização de Jesus na forma infantil. No dia da sua morte física, a Igreja logo se preparou para esconder, ao máximo, seu corpo e evitar a afluência do povo que tanto amava os sermões floridos do santo. Mas, sem explicação lógica possível, no momento em que o santo transitou para o outro lado da vida, meninos vestidos de branco correram pelas ruas da cidade anunciando sua partida. A intenção de esconder a morte dele fracassou. Daí em diante, forças de todas as matizes afluíram para o local: de pessoas simples, fiéis, a grupos que reivindicavam a posse do corpo físico do santo. Cadê os ensinamentos de Jesus?
Imagino a aflição que o espírito de Santo António passou ao ver o teatro que se estabeleceu depois de sua morte física. Mais uma vez, a Igreja tentou esconder uma forte lamparina que iluminava no topo da montanha. E fracassou! Como um “enxame de abelhas” o povo largou tudo o que fazia e acorreu, “em grossas fileiras” para o local onde morava o santo. Frades franciscanos tentaram levar o corpo do santo para outro local e os habitantes da vila de Capo de Ponte protestaram, em massa, impedindo. Surpresos, sem saber o que fazer, os frades apelaram para o bispo da cidade. Naquela época, bispos tinham a autoridade que hoje tem um prefeito, ou mais que isso. Os boatos se espalharam e a multidão aumentava a cada dia. Pessoas simples largavam seus afazeres para reivindicar homenagear o santo. A Igreja teve que se valer de ferrolhos e cadeados para lacrar o local onde o corpo jazia. Sem compreender, os mais sensíveis percebiam que o local estava lacrado, também, de luz dourada. O povo tentou arrombar trancas e cadeados, mas não conseguiu. A luz protegia o corpo físico do santo. “A casa era um mar de luz”. No terceiro dia depois da morte, a autoridade da Igreja decretou que o santo fosse sepultado em cova rasa no local onde se encontrava. Quando o povo descobriu isso, invadiu a residência da autoridade eclesiástica. A proteção da luz tinha se retirado. A autoridade colocou guardas armados no local para tentar conter a fúria do povo. Companheiros do santo reivindicavam que o corpo fosse sepultado na igreja de Santa Mãe de Deus, alegando que esse era o desejo do santo. Mesmo assim, grupos religiosos, inclusive feiras franciscanas, continuavam a reivindicar a posse do corpo, colocando mais lenha na fogueira dos grupos civis – tudo em nome de deus. Apesar das ameaças de excomunhão por parte das autoridades da Igreja, houve luta corporal entre os grupos. Finalmente, as autoridades decidiram transladar os restos mortais do santo para a igreja de Santa Maria Mãe de Deus. Os registros dos acontecimentos dizem que, durante todo o trajeto dos restos mortais do santo, a cidade de encheu de luz de velas e a paz se estabeleceu. O santo só queria a paz para seu espírito.
Um olhar profundo sobre os registros daquela época, aqueles que se salvaram da censura da poderosa Igreja, evidenciam a predominância do lado material da Igreja sobre o lado espiritual. Desde quando o corpo morto pertence a alguém? Todo o sofrimento poderia ter sido evitado, para todos os envolvidos, se os ensinamentos do mestre Jesus estivessem presentes na vida de quem se diz seguidor dele.
O espírito de Santo António não se deixou contaminar por gestos tão mesquinhos daqueles do seu tempo. Ciente da imortalidade da alma, continua a interferir na vida daqueles que elevam seus corações em prece. Para ele, eu dedico todas as fogueiras que puder erguer e louvar as chamas da luz do fogo. Especialmente porque o fogo representa o grande Sol Central, a morada do Pai/Mãe celestial, aquele (la) que é puro amor. 02/09/2022 jjoacir@gmail.com