Por José Joacir dos Santos
Aquele saquinho de plástico colorido com o nome da loja chique parece inocente. Mais dia menos dia, ele vai parar no fundo do mar. E ele não estará sozinho. São toneladas deles despejadas nos oceanos do planeta todos os dias. Muita gente já come micro pedaços de plástico diariamente, embutidos nos peixes que consome. As fábricas não param de produzir apenas saquinhos de plástico. Há países que enriquecem cada vez mais produzindo tudo o que é possível de plástico. Compramos tudo, especialmente porque o importante não é a vida. É manter o comércio funcionando. Pelo menos essa foi uma das lições da pandemia: prefeitos, governadores e até o presidente da República brigaram para manter o comércio aberto, subestimando a capacidade de contágio do vírus da covid-19 — mais de mil mortes diárias em todo o país. Não é só um vírus invisível, covarde e mortal. É altamente oportunista e perigoso.
Quando a covid-19 ainda parecia ser um resquício isolado do poderoso carnaval de São Paulo, autoridades federais diziam que era só uma gripezinha. A China já enterrava seus mortos, a Itália seguia os mesmos passos, a Espanha entrava no desespero, o Peru levantava o alerta, a França começava a falar de máscara e jovens brasileiros saiam às ruas em carreatas, apoiando tudo o que o país condenou nos últimos 20 anos, inclusive o não-isolamento social. Novidade? Não! O Brasil já celebrou o carnaval inúmeras vezes ao mesmo tempo em que tragédias humanas aconteciam em outros países. O que é mais importante neste país que o carnaval? Nada. Sem ele, as grandes metrópoles do país deixam de arrecadar, o narcotráfico deixa de vender, os corruptos não terão dinheiro para as próximas eleições e o povão vai sair na rua para protestar. Nos protestos, pasmem, uma grande parcela dos participantes é jovem, ignorante. Nega qualquer passado histórico e não se importa de reproduzir notícias falsas, especialmente se elas forem carregadas de ódio, racismo, preconceitos mil.
Estamos virando um mundo caótico e doente, como dizia Renato Russo? Não, já somos um país doente e a pandemia só complicou o diagnóstico. As eleições de 2018 trouxeram para o poder, no país inteiro, uma vasta gama de pessoas descompromissadas com a nação. Pela primeira vez, a imprensa suspeitava que a mais alta cúpula governamental do país abrigava nazistas. Não, não eram alemães fugidos da guerra que muitos dizem que jamais aconteceu. Eram brasileiros, jovens, com mandatos políticos importantes, soltando bravatas nazistas por todos os lados como se estivessem em seus próprios quintais.
Enquanto isso, dois ministérios importantes da nação competiam diariamente pelas piores notícias de desmantelamento das estruturas. E o caos se estabeleceu quando o da saúde foi obrigado a apresentar boletins diários do alastramento do vírus. O ministro perdeu o cargo por agir como infectologista e desagradar camadas do poder central, ávidas para impor medicamento importando e sem aval médico, apontado como ineficiente no combate ao vírus por várias autoridades sanitárias do planeta. As tragédias não pararam aí: incentivados por discursos de direitistas, a floresta amazônica começou a arder em chamas – muito mais que os anos anteriores. O governo teve a coragem de demitir funcionários antigos, de postos-chave e a negar os dados do sistema computadorizado oficial, monitorado por satélites, que a nação pagou caro por essa tecnologia em anos anteriores. A orientação era “passar com a boiada” enquanto o povão estivesse ocupado com a desgraça do alastramento do vírus e da morte.
Aquele saquinho plástico mencionado no início deste artigo é apenas um grão de mostarda no cenário mundial montado para destruir o planeta. Como dito em outros artigos, sem árvore não há chuva; sem chuva não há alimentos; sem alimentos há guerra e devastação humana. Sem chuva não há rios; sem rios o mar fica cada vez mais salgado e incapaz de se autodefender da invasão poluidora e venenosa dos plásticos e de toda espécie de lixo humano. Países como a Indonésia já não se pode desfrutar do laser nas praias desde 30 anos atrás. Ilhas do oceano Pacífico há muito que estão engolfadas de plástico e lixo. O degelo das camadas polares produz mais água no mar e o nível dos oceanos só aumenta, inundando praias e manguezais do país e do mundo. A temperatura das cidades se eleva todo dia, enquanto inundações e chuvas torrenciais inesperadas provocam todo tipo de calamidade e lastramento de viroses.
Debaixo das ondas a vida tenta se reinventar no mar, mas a situação cada vez mais se complica. Espécies marinhas estão sumindo. Algumas delas trazem à superfície seus estômagos envenenados com plástico, sim, aquela garrafinha que você joga fora como se ela evaporasse sozinha sem a necessidade de ser conduzida para uma possível reciclagem de material. A ciência já denunciou que a terra não consegue absorver o plástico e que as toneladas deles já estão tornando terras férteis em desertos ou cemitérios.
Na verdade, a chamada mãe-terra é constituída de uma quantidade pequena de terra. O resto é água. Quem sustenta a bola azul e redonda no espaço é o eletromagnetismo que vive também em cada um de nós. Por isso somos chamados de planeta água. Da mesma forma é o nosso corpo físico: 70% de água. Quando o mar é envenenado, morremos um pouco, mesmo que não tenhamos a capacidade física de enxergar. Ter olhos na cara nada significa. Sem a consciência somos apenas robôs feitos de carne, osso e sangue. Nossa responsabilidade com a milhares de espécies marinhas é absolutamente alta. Nenhuma delas está lá para se divertir. A cadeia alimentícia autossustentável dos oceanos é apenas uma manifestação da bondade dos seres supremos e compassivos do universo. Não temos nenhum direito de destruir a natureza. Sabemos que somos, de longe, o ser mais perigoso do planeta: autodestrutivo, suicida, apesar de mais de dez mil anos de história.
Temos que agir o mais rápido possível e parar todos aqueles irresponsáveis que se dispõem a destruir o nosso lindo planeta, em nosso nome, em nome de deus, em nome do que quer que seja. Está na hora de desautorizarmos quem extrapola os limites da ignorância em nome da governança da terra. Está na hora de salvarmos o pantanal, a Amazônia, os minerais e todos os recursos, que, juntos, ressoam no nosso elemento vital, na essência do nosso espírito. Cada vez que um navio é carregado de minério tipo exportação, o país morre um pouco. Sem a harmonia dos cinco elementos da natureza, o planeta morre e, com ele, todos nós. Faça a sua parte agora, não use plástico!