Prazer entre Homens, do jornalista e psicoterapeuta José Joacir dos Santos traz extensiva pesquisa sobre a repressão masculina orquestrada pelo cristianismo desde dois mil anos. Penetra nas sociedades mais ativas ao longo dos séculos e identifica a repetição dessa repressão na sociedade brasileira atual. Essa repressão desembarcou no Brasil com os primeiros colonizadores portugueses, que traziam em seus barcos uma longa cruz. Acreditavam estar defendendo ou evangelizando, mas, a história mostra o contrário. Duvida-se muito que eles não sabiam que estavam usando a religião para dominar política e militarmente os povos nativos de todas as Américas, incluindo o Brasil, a qualquer custo. Antes da chegada daqueles colonizadores, a escravidão branca já era uma prática milenar entre os povos europeus e asiáticos. Crianças pobres das periferias eram sequestradas, castradas e treinadas militarmente para defender territórios dos faraós, no Egito, assim como família da nobreza na Pérsia e outras civilizações. A prática da castração também, desde a China ao Egito. A homossexualidade (ou seja, o prazer entre homens) era comum entre as principais civilizações da história humana e por isso mesmo passou a ser o alvo e a arma mais comum utilizados pelas elites religiosas organizadas pelo Vaticano. Hoje em dia os evangélicos copiam o que de pior fez a Igreja Católica que veio também nos barcos portugueses. A famigerada “cura gay” patrocinada por evangélicos em todas as Américas está bem documentada. É um livro para abrir os olhos e as mentes de quem colabora com todas as atrocidades, desde o racismo à homofobia. Compre na amazon.com.br
Católicos LGBTQIA+ assumem sexualidade na Alemanha
Católicos LGBTQIA+ assumem sexualidade e criticam discriminação da Igreja na Alemanha
Movimento reúne padres e profissionais que prestam serviço para a instituição
Um grupo de 125 católicos alemães LGBTQIA+ denunciou nesta segunda-feira (24) o que eles chamam de política discriminatória da Igreja. No documento, eles revelam sua sexualidade, “para não se esconder mais”. Os padres, ex-sacerdotes, professores de teologia contratados pela instituição, voluntários das paróquias e praticantes da religião escreveram um manifesto publicado na internet e nas redes sociais com a hashtag #OutInChurch e a mensagem “por uma Igreja sem medo”. No texto, os fiéis se opõem à doutrina católica e afirmam que orientação sexual, identidade de gênero ou um relacionamento não heterossexual não devem ser “um obstáculo ao emprego ou motivo de demissão”.
O grupo pede “uma mudança no código trabalhista discriminatório da Igreja Católica” e a eliminação da “redação degradante e excludente” de regulamentos da instituição. De acordo com o documento, um “sistema de encobrimento, padrões duplos e desonestidade” cerca a questão LGBTQIA+ na religião. “Queremos poder viver e trabalhar na Igreja abertamente como pessoas LGBT+ sem medo.” O ministro da Justiça da Alemanha, Marco Buschmann, foi uma das autoridades que apoiaram a iniciativa. “Ninguém deve ser desfavorecido por causa de sua identidade sexual”, disse, destacando que instituições católicas são “um dos empregadores mais importantes do país”. Segundo o governo, as igrejas protestante e católica empregam cerca de 1,3 milhão de pessoas —o que as transforma nos maiores empregadores depois do setor público.
“Não quero mais me esconder”, disse à agência AFP Uwe Grau, um padre gay da diocese de Rothenburg-Stuttgart, no sul do país.
Stephan Schwab, 50, também revelou sua orientação sexual no site do coletivo. “Acredito firmemente que faço um bom trabalho mesmo sendo um padre gay.” Há um ano, ele não hesitou em celebrar uma missa para homossexuais em sua igreja em Würzburg.
A questão da identidade LGBTQIA+ vem sendo debatida no Vaticano, com o atual pontífice tendo feito uma declaração que foi considerada a mais forte de um papa em defesa dos direitos dessas populações. Em um filme lançado em 2020, Francisco disse que casais homoafetivos devem ser protegidos por leis de união civil —ecoando um pouco uma posição de quando era arcebispo de Buenos Aires e citou a necessidade de haver algum tipo de proteção legal a casais gays.
“Pessoas homossexuais têm o direito de estar em uma família. Elas são filhas de Deus e têm direito a uma família. Ninguém deveria ser descartado [dela] ou ser transformado em miserável por conta disso”, afirmou, no documentário “Francesco”.
Ainda assim, com aval do papa, em março do ano passado, o Vaticano determinou que padres e outros ministros não podem abençoar uniões entre pessoas do mesmo sexo e que, caso isso seja realizado, deve ser considerado ilícito.
À época, nota da Congregação para a Doutrina da Fé afirmou que “Deus não pode abençoar o pecado”, mas não excluiu a possibilidade de que bênçãos sejam concedidas a “pessoas com inclinações homossexuais que manifestem a vontade de viver em fidelidade aos desígnios de Deus”.
O documento divulgado nesta segunda na Alemanha pede ainda que declarações difamatórias sobre gênero e sexualidade sejam removidas do ensino religioso e que pessoas LGBTQIA+ tenham acesso aos sacramentos católicos e a todos os campos profissionais da Igreja.
O arcebispo de Hamburgo, Stefan Hesse, apoiou a iniciativa do coletivo #OutInChurch. “Uma Igreja na qual se deve esconder sua orientação sexual não pode, na minha opinião, estar no espírito de Jesus.” O religioso se disse defensor de uma mudança na “moral sexual e na lei trabalhista da Igreja”.
O manifesto segue essa lógica ao sustentar que declarações depreciativas da Igreja sobre relações entre pessoas do mesmo sexo não são mais aceitáveis à luz do conhecimento científico. “Tal discriminação é uma traição ao evangelho.”
Ao jornal alemão Bild, Monika Schmelter, ex-diretora de um centro da associação Caritas, e Marie Kortenbusch, professora de teologia, contaram que esconderam seu relacionamento por 40 anos, por medo de perder o emprego antes de agora enfim se assumirem —dois anos após o casamento secreto. “Acho maravilhoso que agora eu possa falar em nome de pessoas que ainda vivem com medo”, disse Kortenbusch.
A iniciativa quer mobilizar o público para criar uma forma de pressão ao Vaticano e pretende angariar mais apoios entre bispos. De acordo com a rede DW, cerca de 30 associações e organizações católicas já expressaram solidariedade ao manifesto.
Segundo o padre Bernd Mönkebüscher, de Hamm, que já havia encabeçado serviços de bênção para casais homossexuais no ano passado, a campanha foi inspirada em uma ação similar feita por 185 atores alemães. Os profissionais criticaram o fato de muitos artistas não poderem falar abertamente sobre sua sexualidade por temerem desvantagens profissionais.
A Igreja Católica autoriza o casamento apenas entre um homem e uma mulher e historicamente se opõe a outras formas de união. Os ensinamentos católicos consideram atos sexuais entre pessoas de mesmo gênero um pecado, embora indiquem que pessoas LGBT+ devem ser tratadas com dignidade.
Francisco, que lidera a Igreja desde 2013, não mudou dogmas e já criticou o que chamou de “teoria de gênero” como um “projeto ideológico”, mas tem adotado uma postura mais aberta no tema —de resto criticada pelos conservadores. Ele disse, por exemplo, que jamais poderia julgar um gay, sinalizou que os católicos devem acolher crianças de casais do mesmo sexo e recebeu transexuais e defensores do aborto em audiências.
Um dos principais opositores ao casamento gay na Igreja é o papa emérito Bento 16. Em uma biografia autorizada, ele comparou a prática ao “anticristo”.
Violência sexual contra homens e meninos
Homens e meninos também sofrem abuso sexual. Eles estão aprendendo a pedir ajuda
Instituição de acolhimento aponta que vítimas de violência sexual do sexo masculino só revelam trauma entre 20 e 30 anos após abusos sofridos na infância ou adolescência
Por Briller Pieres, Jornal El Pais, 23 MAR 2021
O silêncio dos homens foi a cápsula que o aprisionou em sua própria história, mas, por outro lado, ainda que depois de muito tempo, o ajudou a encontrar um sentido para ressignificar a experiência traumática da juventude. “Achava que eu era o único homem que tinha sido vítima de violência sexual. Só procurei ajuda com 30 e poucos anos”, conta Ângelo Fernandes, fundador da Quebrar o Silêncio, uma associação de acolhimento a adolescentes e adultos do sexo masculino que sofreram abusos sexuais. Em quatro anos de atuação, a entidade sediada em Portugal já recebeu quase 400 pedidos de ajuda de vítimas com percurso semelhante ao de seu presidente.
Ângelo tinha 10 anos quando foi molestado durante vários meses por uma pessoa próxima da família. Guardou o trauma em segredo até ir morar em Manchester, na Inglaterra, onde conheceu a Survivors Manchester, grupo que presta suporte psicológico a homens impactados pela violência sexual. “Levei tempo demais para assimilar o que aconteceu comigo. Mas fiquei pensando: ‘E se eu ainda estivesse em Lisboa? A quem recorreria?’. Então, decidi voltar e criar uma associação em Portugal”, conta. Assim como sua homóloga inglesa, a Quebrar o Silêncio oferece apoio a vítimas e familiares, além de trabalhar com a prevenção de abusos e a sensibilização para a derrubada de mitos que inviabilizam denúncias.
O principal deles é desconstruir a homofobia em torno da masculinidade. “Homens sentem muita vergonha e até sentimento de culpa em relação ao abuso sexual”, diz Ângelo. “Algo agravado por estereótipos de gênero, como as lendas de que homem que é homem não pode procurar apoio, tem de resolver seus problemas sozinhos. Muitos dos que nos procuram são heterossexuais”, comenta. “Eles têm medo de que o abuso seja associado com sua orientação sexual. Depois, em meio ao processo terapêutico, percebem que uma coisa não tem nada a ver com a outra.”
No Brasil, casos de repercussão midiática têm sido expostos a conta-gotas. Em abril do ano passado, o humorista Marcelo Adnet, 39, revelou que havia sido abusado duas vezes na infância. Na primeira, aos 7 anos, por um caseiro do sítio onde passava férias. Depois, aos 11, por um amigo mais velho de sua família. “Foram mais de 25 anos para pensar em tocar nesse assunto publicamente. São várias camadas de dor para lidar”, lembrou Adnet em entrevista ao canal GNT. “Como eu não tive culpa, é uma cicatriz na minha vida, mas hoje não tenho vergonha de falar sobre algo em que eu fui a vítima. Temos de normalizar e encorajar a denúncia. Ser abusado não é crime.” A única instituição de acolhimento específica para homens vítimas de abusos sexuais no país é a Memórias Masculinas, que inaugurou serviço de atendimento psicológico em janeiro.
Segundo o último relatório anual —referente a 2019— do Disque 100, canal de denúncias mantido pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, somente 18% dos registros de violência sexual contra crianças e adolescentes brasileiros referiam-se a vítimas do sexo masculino. A subnotificação de abusos contra meninos se torna ainda maior na adolescência. Enquanto 46% dos casos atinge vítimas do sexo feminino entre 12 e 17 anos, a proporção de garotos da mesma faixa etária que denunciam é de apenas 9%. “Por causa de nossa cultura patriarcal e machista, há uma estigmatização de garotos que sofrem abuso sexual”, diz Flávio Debique, gerente de proteção infantil e incidência política da ONG Plan International Brasil, que atua na prevenção de violências contra crianças. “É como se o abuso retirasse a masculinidade do menino. Com receio de o filho ser visto como homossexual, a família prefere não denunciar.”
Após revelar sua história, Adnet recebeu a ligação de um amigo, contando ter sido vítima de abusos parecidos, e foi alvo de ataques nas redes sociais que debochavam de sua sexualidade. “Quando o menino é abusado, tem gente que diz: ‘Ah, você é baitola, tomou porque gostou’. Eu ouvi muito isso. Existe o medo da ridicularização, das ofensas homofóbicas. [Abusadores] ainda usam essa rasteira como forma de constranger a vítima”, lembrou o humorista. “O agressor fica protegido, no fim das contas. Procurei estabelecer um limite aos ataques nas redes sociais, em respeito a outras pessoas que também sofreram abuso.”
De acordo com um levantamento produzido pela Quebrar o Silêncio, casos como o de Adnet se encaixam na média de idade em que adultos do sexo masculino decidem buscar amparo psicológico para tratar dos traumas na juventude. “A maioria dos homens que nos procura sofreu abusos entre 20 e 30 anos atrás”, afirma Ângelo Fernandes. “Violência sexual na infância é uma experiência profundamente traumática para a criança. Ela pode passar a vida esperando que outras pessoas façam o mesmo. Contudo, não é uma fatura vitalícia”, adverte.
Segundo ele, com intervenção especializada, é possível minimizar os sintomas e oferecer ferramentas para a vítima lidar com o trauma. Já outro estudo da associação portuguesa estima que um em cada seis homens foi vítima de algum tipo de abuso ou assédio sexual antes dos 18 anos.
Campanhas educativas e acolhimento para vítimas
Um dos episódios mais marcantes da Survivors Manchester, inspiradora da Quebrar o Silêncio, foi a atuação no escândalo de abusos sexuais no futebol inglês. A entidade não só acolheu centenas de vítimas de uma rede de treinadores pedófilos, como também ajudou a fechar um acordo milionário com o Manchester City, que se comprometeu a pagar indenizações aos homens que foram abusados por antigos profissionais do clube. Denúncias vieram à tona em 2016, depois que o ex-lateral Andy Woodward descreveu ao The Guardian os abusos cometidos por seu ex-técnico, Barry Bennell, condenado a mais de 30 anos de prisão por molestar 52 atletas com menos de 13 anos.
“O abuso sexual de meninos é muito comum, ainda mais no futebol”, contou Woodward ao EL PAÍS. “Existem diferentes razões para que um menino ou uma menina não revele o que sofreu. É difícil para todos. Mas, no caso dos garotos, há um enorme tabu. As crianças do sexo masculino têm mais dificuldade de falar sobre isso. Muitos pensam: ‘Ninguém vai me ouvir porque eu sou um menino, devo me comportar como homem. E isso é vergonhoso para mim’. Foi algo que eu senti. O abusador exerce poder e controle. Seu impacto na vida de uma criança é aterrador.”
Devido à dor digerida em silêncio, Woodward disse ter tentado se suicidar várias vezes, uma consequência extrema, porém, não tão rara para vítimas de abusos. Em 2017, nos Estados Unidos, a morte do ex-jogador de hóquei David Gove por overdose de heroína destapou o segredo que ele guardava por mais de duas décadas. Gove foi molestado ao longo de três anos por seu primeiro treinador, Robert Richardson. Contou à mãe sobre os abusos aos 12, mas preferiram não denunciar o técnico por medo de brecar a ascensão da carreira. Em 2005, Richardson recebeu acusação por abusar de outro garoto. Acabou absolvido no processo, o que fez com que Gove entrasse em depressão.
Assim que encerrou a carreira no hóquei, ele registrou queixa contra Richardson e chegou a prestar depoimento à Justiça em 2014. Porém, o processo foi encerrado após sua morte. Richardson jamais falou sobre as denúncias, mas sua defesa alegou nos tribunais que ele é inocente. A história do ex-jogador se assemelha à de Chester Bennington, vocalista da banda Linkin Park, que, três meses depois da overdose que vitimou Gove, foi encontrado morto em sua casa no sul da Califórnia. Ele se suicidou após longos anos lutando contra o alcoolismo e a dependência química. O gatilho para o uso de drogas, como relatou em entrevistas antes de morrer, foram os abusos que sofrera aos sete anos de um amigo mais velho.
Não bastassem os entraves culturais que perpetuam o silenciamento, a quebra do tabu em torno do abuso sexual contra vítimas do sexo masculino ainda esbarra em limitações institucionais. Até 2009, por exemplo, a legislação brasileira não considerava homens como vítimas de estupro. Antes da alteração no Código Penal, que reformou o artigo 213 de “constranger mulher” para “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”, o estupro de homens era enquadrado como atentado violento ao pudor, com penas menores.
Em que pese a mudança na lei, a ideia de que apenas mulheres são vítimas de abuso sexual ainda está enraizada até mesmo nos órgãos públicos. Em 2018, o Ministério do Esporte, em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres (SPM), lançou uma campanha de combate à violência sexual contra as atletas, sem nenhuma menção a esportistas do sexo masculino. “O programa tem como finalidade chamar a atenção da sociedade para o assédio e a violência contra as mulheres”, afirmou no lançamento do programa o então ministro do Esporte, Leonardo Picciani. No ano anterior, uma reportagem do EL PAÍS havia registrado que pelo menos 48 garotos denunciaram assédios e abusos em escolinhas e clubes de futebol.
A falta de centros de acolhimento específicos para vítimas do sexo masculino também contribui para desencorajar denúncias. No Brasil, ocorrências de abuso e estupro geralmente são direcionadas a delegacias especializadas da mulher ou de proteção à criança e ao adolescente. Alguns Estados como o Distrito Federal têm apostado nos Centros de Especialidade para Atenção às Pessoas em Situação de Violência Sexual, Familiar e Doméstica (Cepavs). No entanto, sem estabelecer o foco no público masculino. “Uma rede acolhimento com distinção para mulheres pode afastar alguns homens. É necessário identificar esses centros como locais de apoio à vítima. Mas, além de reformular o atendimento, é preciso haver uma grande campanha educativa. Se a informação não chegar aos homens, eles nunca saberão a quem recorrer”, explica Ângelo Fernandes.
Em Portugal, a Quebrar o Silêncio conta com subsídio do Governo para prestar serviço gratuito a dezenas de vítimas e ainda colabora com associações de outros países, incluindo a Memórias Masculinas. O primeiro passo, insiste Ângelo, é atacar a cultura do silêncio. “Parece simples, mas temos de repetir o básico até que a sociedade entenda de uma vez por todas que homens e meninos também são vítimas de abuso sexual. Eles precisam saber que podem pedir ajuda.”
NOTA DO EDITOR: Veja o livro A MAE QUE NÃO SABIA AMAR, sobre o tema de abusos sexuais na infância
LGBTQI+ Campanha da Fraternidade põe o dedo na ferida
Entrevista publicada no jornal alemão DW, de 11/02/2021
“A Campanha da Fraternidade põe o dedo na ferida”
Ao condenar a violência contra LGBTs, texto-base da campanha deste ano despertou a ira de católicos conservadores. À DW Brasil, padre diz que polarização gerada pelo governo Bolsonaro impulsionou escolha do tema.A defesa explícita e inédita da população LGBT provocou a ira de conservadores brasileiros contra os organizadores da Campanha da Fraternidade, projeto realizado anualmente desde a década de 1960 pela Igreja Católica no Brasil.
O texto-base deste ano, cujo tema reforça a importância do diálogo frente à polarização, ainda ressalta que mulheres, especialmente as negras e as indígenas, são as maiores vítimas do “sistema de violência” no Brasil, e enaltece a importância das políticas de defesa dos direitos humanos. “Uma das falsas notícias que fortalece a violência é a retórica de que direitos humanos servem apenas para defender ‘bandidos’. Esse discurso fragiliza cada vez mais os instrumentos institucionais que contribuem para a justiça”, diz o documento.
O mais polêmico parágrafo é o que afirma que “outro grupo social que sofre as consequências da política estruturada e da criação de inimigos é a população LGBTQI+”. Citando a última edição do Atlas da Violência, o documento observa que, em 2018, foram registrados 1.685 casos de violência contra essa população no país. “Segundo dados do Grupo Gay da Bahia […], 420 pessoas LGBTQI+ foram assassinadas [no mesmo ano], destas, 164 eram trans”, acrescenta. “Esses homicídios são efeitos do discurso de ódio, do fundamentalismo religioso, de vozes contra o reconhecimento dos direitos das populações LGBTQI+ e de outros grupos perseguidos e vulneráveis”, enfatiza o documento. Diante disso, a Campanha da Fraternidade passou a ser alvo de campanhas de desinformação nas redes sociais.
Abordar temas espinhosos não é novidade do projeto – que tem como premissa mobilizar comunidades de base e paróquias em todo o Brasil para debater um assunto ao longo do período da quaresma, ou seja, entre o carnaval e a Páscoa. Já foram colocados como tema os encarcerados (em 1997), a discriminação racial (1988), o tráfico humano (2014) e o desemprego (1999).
A partir do século 21, a cada cinco anos a campanha é realizada de forma ecumênica. É quando a escolha do assunto não recai somente sobre um colegiado da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), mas sim a membros do Conselho Nacional das Igrejas Cristãos do Brasil (Conic) – também integrado pelos católicos.
O tema foi definido “sobretudo pelo que ocorreu no Brasil depois do surgimento do governo Bolsonaro, quando a sociedade ficou muito dividida”, afirmou à DW Brasil o padre Antonio Carlos Frizzo, assessor eclesiástico da Pastoral de Fé e Política e um dos secretários da CNBB responsáveis pela campanha.
DW Brasil: A Campanha da Fraternidade deste ano ainda não começou, mas um tema já está presente, sobretudo nas redes sociais: o fato de o texto-base abordar os direitos da comunidade LGBT. Como o senhor avalia essa repercussão?
Antonio Carlos Frizzo: Recentemente surgiu uma forte onda negacionista no Brasil. Negam que a vacina protege, dizem que a política é coisa suja, que a esquerda é comunista. E essa onda também é aproveitada por católicos ligados ao governo Bolsonaro, que usam robôs para divulgar nas redes sociais mentiras, para confundir e dividir a opinião da comunidade católica. O texto-base cita, sim, o movimento LGBTQI+ como vítima da intolerância. O Brasil é um dos países que mais matam pessoas transexuais. Vem aumentando o número de feminicídio e também o número de [casos de] violência institucional, militar e civil contra os negros. Por isso o texto-base usa, sim, dados para marcar e apontar a violência que se volta contra as pessoas que são homossexuais, transexuais etc., e também contra as pessoas que são ligadas a movimentos dos direitos humanos. O Brasil é uma sociedade tremendamente violenta. Não é mais cordial. Predomina a intolerância.
Considerando a polarização da sociedade, as críticas já eram esperadas?
A Campanha da Fraternidade é um patrimônio do povo brasileiro, seja organizada pela CNBB, seja feita de modo ecumênico, como a deste ano. E ela desperta [o debate] justamente porque toca o problema. Põe o dedo na ferida. Precisamos superar a violência pela força do diálogo e com a dimensão cristã dialogando. Contra todo tipo de violência: contra os negros, as mulheres, os LGBTs e, sobretudo, a violência contra a natureza. E [precisamos] fazer do diálogo uma força para aumentar nossa participação no universo da política.
Nesse cenário, na política, está a força para criar leis que garantam políticas públicas voltadas para os pobres, contra a pobreza, e pela preservação da natureza. Nós vamos, sim, responder a esses críticos. Não vamos deixar passar. São pessoas mentirosas, que usam as redes sociais [para propagar desinformação].
E, no Brasil, desde a ascensão do Bolsonaro, as fake news, as mentiras que parecem verdade, pululam nas redes sociais. Desta vez é um grupo chamado [Centro] Dom Bosco*, que não tem nada de Dom Bosco*, que fez um vídeo falando mal da campanha, de maneira muito mentirosa e violenta.
*O Centro Dom Bosco é uma organização católica sediada no Rio de Janeiro, conhecida por posturas ultraconservadoras. Já Dom Bosco foi um sacerdote italiano que viveu entre 1815 e 1888, reconhecido como santo em 1934 e considerado pela Igreja como “pai e mestre da juventude”.
Como foi escolhido o tema deste ano?
O tema é “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor” e o lema é “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade”. O Conic se encontrou e definiu o tema “diálogo”, sobretudo pelo que ocorreu no Brasil depois do surgimento do governo Bolsonaro, quando a sociedade ficou muito dividida. Lulistas e bolsonaristas, esquerda e direita… E uma forte onda negacionista dizendo que não existe pobre, que foram as esquerdas que levaram o país à ruína… Ficou muito dividida a sociedade. E a Igreja também. Este tema é para tentar buscar superar essa divisão por meio do diálogo. Assim como acontece com os efésios [conforme o livro bíblico Epístola aos Efésios], quando os judeus puderam dialogar com os pagãos, e os pagãos com os judeus. Não é fácil, porque há um crescimento enorme da pobreza no Brasil e um governo tremendamente de extrema direita.
A Campanha da Fraternidade não se furta a debater grandes temas de interesse da sociedade. Como trazê-los de forma simples sem perder a profundidade?
Os temas são fáceis de serem abordados porque as comunidades já estão acostumadas a relacionar a bíblia com a vida e a vida com a bíblia. Não há tema impossível de ser refletido. Os subsídios são feitos sempre segundo o método ver, julgar, agir e celebrar. Tornam-se, assim, muito atraentes. É simples e prazeroso. As comunidades já estão acostumadas a se reunir em torno de um tema.
Em tempos de pandemia, há alguma orientação especial para os tradicionais encontros da campanha que costumam ocorrer nas casas das pessoas participantes ao longo da quaresma?
Com quase um ano de pandemia, os grupos já estão habituados a fazer seus encontros pelo Google Meet, pelo Zoom. Todo mundo entra no link no horário combinado e se faz a reunião. Ou então, que sejam [realizadas] nos quintais das casas, todos de máscaras, e em grupos de [no máximo] quatro ou cinco pessoas.
Papa Francisco defende união civil homossexual
https://www.dw.com/pt-br/papa-francisco-defende-uni%C3%A3o-civil-homossexual/a-55351861
Pela primeira vez desde que assumiu a liderança da Igreja Católica, pontífice se manifesta a favor da união civil entre pessoas do mesmo sexo. “Gays têm direito a ter família, são filhos de Deus”, diz em documentário.
A união de casais homossexuais recebeu a mais explícita aprovação do papa Francisco, a primeira desde que ele se tornou líder da Igreja Católica, em 2013. O endosso foi divulgado em um documentário que estreou nesta quarta-feira (21/10) no Festival de Cinema de Roma. Em Francesco, o pontífice pede uma “lei de união civil” que permita que pessoas LGBTs “estejam em uma família”. “Os homossexuais têm direito a ter uma família, são filhos de Deus […]. Ninguém pode ser expulso de uma família, e a vida dessas pessoas não pode se tornar impossível por esse motivo.”
Francisco já havia se pronunciado a favor da união civil entre pessoas do mesmo sexo anteriormente, mas quando servia como arcebispo de Buenos Aires. Na ocasião, ele saudou tais uniões como uma alternativa ao casamento gay, mas se opôs ao casamento em si. Desde que assumiu a cadeira papal, portanto, esta é a primeira vez em que o pontífice de 83 anos endossa publicamente a união civil homossexual. “O que temos que fazer é uma lei de união civil. Eles têm o direito de ser cobertos legalmente. Eu defendi isso”, afirma o papa no documentário de duas horas, que trata sobre os sete anos de seu pontificado com depoimentos e entrevistas.
A Igreja Católica perseguiu gays durante grande parte de sua história, e ainda vê a homossexualidade como uma “desordem intrínseca”. A igreja também ensina que atos homossexuais são pecaminosos, mas sua postura moderna prega que ser gay não é um pecado por si só. O autor jesuíta James Martin, que atua como consultor do Secretariado de Comunicações do Vaticano, elogiou a medida do papa como um “grande passo à frente”. “Ela está de acordo com sua abordagem pastoral à comunidade LGBT, incluindo católicos LGBT, e envia um forte sinal aos países onde a Igreja se opõe a tais leis”, escreveu ele no Twitter.
Um telefonema do papa
O documentário foi dirigido pelo cineasta Evgeny Afineevsky, um cidadão americano nascido na Rússia e de origem judaica. Além do papa, a produção também é estrelada por outros clérigos, bem como um sobrevivente gay de abuso sexual. Um dos momentos mais emocionantes do longa detalha a interação entre o papa e um homossexual que, junto com seu companheiro, adotou três filhos. O homem afirmou ter entregado uma carta a Francisco explicando sua situação, dizendo que ele e seu parceiro queriam criar os filhos como católicos, mas não sabiam como seriam recebidos.
Dias depois, o pontífice teria ligado para o homem dizendo que ficou comovido com a carta e pedindo-lhe que apresentasse as crianças à paróquia local, apesar da possível oposição. “O fio condutor deste filme é mais sobre nós como seres humanos, que estamos criando desastres todos os dias. E ele [o papa] é quem está nos conectando por meio desses fios”, disse o diretor do filme em uma entrevista. Afineevsky, que compareceu à audiência geral do Papa no Vaticano na quarta-feira, ganhou o Prêmio Kineo de Humanidade com Francesco. A premiação é voltada a quem promove questões sociais e humanitárias.
União Europeia garante direito de residência a casais homossexuais
Tribunal de Justiça europeu decide que países-membros devem garantir o direito de todos os cônjuges à residência, mesmo que não reconheçam o casamento gay. Veredicto é resposta a ação movida por casal romeno-americano.
O Tribunal de Justiça da União Europeia (UE) decidiu, nesta terça-feira (05/06), que homossexuais casados têm os mesmos direitos de residência e circulação no bloco que casais heterossexuais.
De acordo com a mais alta corte europeia, mesmo que não permitam o casamento gay, países-membros da UE devem reconhecer o direito de todos os cônjuges à residência. “Embora os Estados-membros [da UE] tenham a liberdade de autorizar ou não o casamento entre pessoas do mesmo sexo, eles não podem impedir a liberdade de residência de um cidadão da UE ao recusar conceder ao seu cônjuge do mesmo sexo, nacional de um país que não é Estado-membro da UE, um direito derivado de residência em seu território”, disse o Tribunal de Justiça da UE.
O veredicto é uma resposta a uma ação judicial movida pelo ativista LGBT romeno Adrian Coman e seu parceiro americano, Claibourn Robert Hamilton, que obtiveram sua certidão de casamento na Bélgica em 2010. O caso começou em 2012, quando o casal tentou se mudar para a Romênia.
A legislação da União Europeia permite que um cônjuge que não seja cidadão de um dos países do bloco se junte a seu parceiro europeu no Estado-membro onde este reside. As autoridades de imigração da Romênia, no entanto, se recusaram a reconhecer legalmente a união de Coman e Hamilton, pois o casamento gay não é reconhecido no país.
Coman e Hamilton entraram, então, com um processo contra o governo romeno sob a alegação de que o direito à liberdade de circulação dentro da União Europeia havia sido violado. O Tribunal Constitucional da Romênia remeteu o caso para o Tribunal de Justiça da UE.
A decisão desta terça-feira tem implicações para dezenas de milhares de casais do mesmo sexo em Romênia, Polônia, Eslováquia, Bulgária, Lituânia e Letônia – países-membros da UE que atualmente não oferecem proteção legal para casais homossexuais.
Genes não ajudam a prever homossexualidade
Maior pesquisa já feita sobre o assunto aponta que só 1% do comportamento sexual pode ser explicado por alguns genes
Por Reinaldo José Lopes, publicado na Folha de S.Paulo, em 29/08/2019. Veja link abaixo
SÃO CARLOS — O maior estudo já feito acerca da influência do genoma sobre a homossexualidade, envolvendo meio milhão de pessoas, sugere que essa característica é tão multifacetada quanto outros traços complexos da natureza humana, como a inteligência ou o talento para esportes.
Ao que tudo indica, interações complicadas entre milhares de genes e o ambiente em que as pessoas se desenvolvem ajudam a entender por que alguém se relaciona com parceiros do mesmo sexo, diz a pesquisa, coordenada por pesquisadores dos EUA e da Europa e publicada na revista Science.
Os resultados devem sepultar de vez a busca por um único “gene gay” (algo já desacreditado na comunidade científica há tempos). Também inviabilizam tentativas de usar dados de DNA para identificar pessoas com preferências homossexuais ou métodos biológicos para reverter tais preferências, simplesmente porque elas dependem de fatores variados e complexos demais para serem alterados.
“Nossos dados mostram claramente que esse comportamento é uma parte natural da biologia humana e que, ao mesmo tempo, inclui uma enorme diversidade”, resume Benjamin Neale, pesquisador do Hospital Geral de Massachusetts e do Instituto Broad (EUA).
Neale é um dos coordenadores do estudo e participou de uma entrevista coletiva por telefone sobre os resultados, organizada pela Science. Também assinam a pesquisa o italiano Andrea Ganna, colega de Neale no Instituto Broad, e Fah Sathirapongsasuti, pesquisador de origem tailandesa que trabalha na empresa de genômica 23andMe, na Califórnia.
“Eu sou homossexual e me lembro de como era ficar pesquisando sobre o ‘gene gay’ na internet quando mais novo”, contou Fah. “Na época, falava-se muito sobre uma região do cromossomo X que seria ligada a essa característica. Como homens recebem seu cromossomo X pelo lado materno, eu costumava dizer que a ‘culpa’ era da minha mãe. Agora sei que a coisa é muito mais complexa, e que tanto meu pai quanto minha mãe têm ‘culpa’ nessa história”, brinca ele.
O mapeamento se valeu de uma técnica muito usada nos últimos anos para encontrar associações entre amplas áreas do genoma e determinada característica (veja infográfico).
Em suma, os pesquisadores fazem uma varredura no DNA dos voluntários, usando como pontos de referência numerosas variações de pequena escala, correspondentes a trocas de uma única “letra” química do material genético (o genoma de cada pessoa contém cerca de 3 bilhões de pares dessas “letras”).
Essas variantes são conhecidas como SNPs (sigla inglesa de “polimorfismos de nucleotídeo único”; pronuncia-se “snips”). Por si mesmas, podem não significar nada para o organismo, ou então podem mudar a “receita” para a produção de moléculas das células, mais ou menos como trocar uma única letra muda o sentido da expressão “muito pouco” para “muito louco”.
A presença de milhões de SNPs espalhados pelo genoma pode ser comparada com a presença de certo traço – cor do cabelo ou dos olhos, peso, interesse por música etc. A partir daí, podem surgir associações estatísticas: certo SNP é mais comum em pessoas de olhos azuis ou que gostam de brócolis (ambas são características influenciadas pela genética), digamos. Por fim, mais análises estatísticas e biológicas tentam confirmar se o elo é real e como funciona.
A equipe do novo estudo decidiu dividir os voluntários cujo DNA foi analisado em dois grupos: de um lado, os que declaravam só se relacionar com pessoas de sexo diferente do seu; de outro, todos os que afirmavam ter tido relações com gente do mesmo sexo alguma vez. “É importante ressaltar que estamos avaliando o comportamento sexual, não a identidade de gênero. Além disso, queríamos levar em conta a diversidade desse comportamento”, explica Neale.
As principais fontes de informações sobre o DNA foram o UK Biobank, banco de dados biológicos sem fins lucrativos do Reino Unido, e as amostras da 23andMe (em geral, americanos), que vêm de pessoas que compram um kit de análises genômicas de forma recreativa, para conhecer melhor sua própria herança genética. No caso do UK Biobank, 4,1% dos homens e 2,8% das mulheres declararam já ter tido relações homossexuais; a proporção geral na amostragem da 23andMe foi de 18,9%. No total, 447.522 pessoas foram incluídas na análise. Quando o efeito de todos os SNPs é combinado na análise, os cientistas estimam que entre 8% e 25% da diferença entre as pessoas no comportamento homossexual é explicada por essas variantes genéticas.
É importante frisar duas coisas: esses números se referem às diferenças na população como um todo, e não a indivíduos isolados; e os SNPs não correspondem ao total da variabilidade do genoma. Outros elementos do DNA, como o número de cópias de genes ou mudanças em trechos maiores do que uma só letra, também podem ter algum impacto ainda desconhecido. Com efeito, estudos com gêmeos idênticos sugerem uma influência genética entre 30% e 50% para o comportamento homossexual. Além disso, é muito difícil identificar lugares específicos do genoma que tenham influência mensurável sobre o comportamento homossexual, o que reforça a ideia de que são milhares de genes, cada um deles com um efeito minúsculo, os responsáveis por essa influência.
Após muito escarafunchar, o grupo de pesquisa achou apenas cinco regiões do genoma com algum impacto claro —duas para ambos os sexos, uma apenas para mulheres que já fizeram sexo com outras mulheres e duas para homens que já fizeram sexo com homens. Geneticamente, portanto, é bastante possível que ser gay seja um fenômeno bem diferente de ser lésbica. Ainda assim, o efeito somado desses SNPs explicaria menos de 1% das diferenças entre as pessoas nesse quesito. De qualquer modo, a análise detalhada desses SNPs mostra alguma lógica. No caso dos ligados ao comportamento homossexual masculino, por exemplo, há uma variante associada a genes que influenciam a detecção de moléculas de cheiro, e sabe-se que tais moléculas olfativas são importantes para a atração sexual. O outro SNP está associado à calvície masculina, um processo deflagrado pelos hormônios sexuais – os quais, é claro, também influenciam o interesse por parceiros.
Os pesquisadores destacam que o estudo tem uma série de limitações importantes. A principal delas é a falta de diversidade étnica na amostragem, já que os dados vêm de populações de origem majoritariamente europeia. Também há o fato de que os doadores de DNA são, em geral, pessoas mais velhas, com idade média superior a 40 anos. Isso pode ter diminuído a probabilidade de que elas relatassem experiências homossexuais, por terem crescido em ambientes menos abertos a esse tipo de relacionamento.
As influências ambientais, que se somam às influências genéticas para produzir o comportamento sexual humano, podem ser não apenas sociais e culturais como também biológicas. Há alguns indícios, por exemplo, que os hormônios produzidos pelo organismo materno durante a gestação também podem influenciar a orientação sexual.
Sexualidade masculina. Adeus aos mitos
Por Rita Abundancia, Jornal El Pais, publicado em 29/09/2017
Homens sem desejo: adeus ao mito do macho sempre a postos
A falta de desejo já não é um problema majoritariamente feminino. Cada vez mais homens falam sobre isso
Quando o mal denominado Viagra feminino – a pílula que supostamente aumenta o desejo sexual das mulheres – foi inventado, parecia que a indústria farmacêutica já tinha cumprido com suas tarefas no que diz respeito à sexualidade e que os nossos problemas nessa área tinham desaparecido para sempre. Pois até pouco tempo atrás os grandes problemas sexuais se limitam a duas questões de enorme importância. Primeira: no caso deles, que estavam sempre prontos para o ato, chegava uma idade em que ainda queriam fazê-lo, mas não conseguiam mais. E eis que alguém inventou o Viagra, a fim de levantar colunas, vigas e estandartes e tornar quase possível que até mesmo a múmia de Tutancâmon apresentasse uma ereção.
Mas continuava existindo um outro obstáculo, no campo feminino, em que o problema não estava tanto no desempenho do ato, mas sim na ausência de vontade de praticá-lo. As mulheres são – talvez devêssemos dizer que eram – difíceis de convencer, acometidas frequentemente de enxaquecas ou outros males, excessivamente sensíveis e pouco aptas a aguentar o estresse. Características que pesavam na sua vida sexual. E se inventássemos uma fórmula que as fizesse terem mais desejo?, perguntaram-se os laboratórios, esfregando as mãos. Pois bem: após décadas de experimentações e testes, chegou-se ao “milagre” do Viagra feminino.
Pela primeira vez na história da humanidade, eles sempre estavam a postos e elas tinham mais vontade. Tínhamos encontrado a fórmula da felicidade, nada mais havia para impedir que o mundo revivesse seus episódios de dois losangos, como Sodoma e Gomorra. No entanto, como se fosse uma brincadeira do destino, eis que surge um problema inesperado. O único elemento que poderia alterar esse quebra-cabeças perfeito falhou, e os homens começaram a deixar de sentir vontade.
De repente, o macho que passou séculos se queixando da pouca disponibilidade erótica feminina e que teve de lançar mão de sua imaginação para construir histórias excitantes e credíveis para contar nas mesas de bar perdeu o fôlego e a testosterona; e, hoje em dia, muitos preferem ciscar nas redes sociais ou se dedicar à enologia, mais do que se enfiar debaixo dos lençóis, ao mesmo tempo em que seus parceiros – sejam eles homo ou hétero – assistem, perplexos, a esse novo espetáculo.
O transtorno do desejo sexual inibido entre os homens ainda não é tão frequente como nas mulheres, mas vem crescendo pouco a pouco. Sobretudo entre os mais jovens. Há poucas estatísticas confiáveis sobre o tema, mas Toni Martín, médico, sexólogo, membro da Sociedade Catalã de Sexologia e da Seção Colegial de Sexologia do Colégio de Médicos de Barcelona, calcula que um em cada 10 homens vive essa situação, ante 30% no caso das mulheres.
Segundo a sexóloga e ginecologista Francisca Molero, diretora do Institut Clinic de Sexologia de Barcelona, membro do Institut Iberoamericano de Sexologia e presidenta da Federação Espanhola de Sociedades de Sexologia, “a primeira coisa a verificar no caso de um paciente com desejo sexual inibido e que tenha mais de 40 anos é se ele apresenta o chamado déficit de testosterona do homem adulto, que inclui uma série de sintomas, como: pouco desejo, cansaço, fadiga, perda de massa muscular ou queda de cabelo. Há também doenças que diminuem a libido, pois alteram a prolactina, um hormônio cujo aumento é antagônico com a liberação de hormônios sexuais. Algumas dessas patologias são o hipo ou hipertireoidismo, a diabetes e a hipertensão arterial. Existem também medicamentos que reduzem fortemente o impulso sexual, como os antidepressivos, ansiolíticos e os que se tem pressão alta”.
“É preciso descartar também, no caso dos mais jovens, se eles têm algum tipo de disfunção sexual, como dificuldade de ereção, ejaculação precoce ou retardada ou problemas para atingir o orgasmo”, observa Toni Martín, “porque é muito comum que os que apresentam esse tipo de problema, ao ver que sua habilidade na cama está afetada, percam o interesse pelo sexo. Mas não se deve esquecer a dimensão social de tudo isto. Antigamente ejacular precocemente era visto como um indicador positivo da potência e força do homem. Hoje é o oposto. Alguns até criam problemas onde não há, por causa da pornografia, onde parece normal que o homem aguente horas e horas”,
Mulheres fizeram sua revolução sexual. Os homens têm a sua por fazer
À margem dos problemas decorrentes da idade ou de apresentar determinadas patologias, os sexólogos veem em suas consultas que a falta de desejo deixou de ser um transtorno tipicamente feminino. “Ultimamente os homens se atrevem mais a consultar sobre essas questões, que antes eram tabu, por isso também são registrados mais casos”, afirma Martín, “em parte porque suas parceiras lhes pedem que o façam”.
Carlos, 39 anos (Madri), é um desses casos. E se a história sexual do gênero feminino tem sido um compêndio de machismo, desinformação, falta de interesse e desprezo ao prazer da mulher, na do homem tampouco faltam sombras, porque manter-se no trono e herdar, automaticamente, a coroa nem sempre é do agrado de todos.
“A sociedade está acostumada a que as mulheres passem por períodos em que o sexo não lhes interessa. A menstruação, a gravidez, a amamentação são alguns desses momentos (embora nem todas as mulheres percam os desejos nessas situações) em que as damas estão desculpadas. Os homens, porém, não têm nenhum. A fábrica tem de produzir intermitentemente. A sociedade, os amigos, até a parceira não admitem que o homem tenha fases nas quais não tenha desejo. E se isso acontece, é porque está doente e tem de ir correndo ao médico”, diz este madrilenho. “Eu tive um desses momentos e, por mais que explicasse à minha companheira, ela não entendia. Começou a pensar que eu tinha uma amante ou que não gostava mais dela, que já não achava atraente. Lembro que até me perguntou o que eu acharia se ela fizesse uma cirurgia para aumentar os seios. Ela sempre os teve pequenos, mas nunca me importei com isso. Outra coisa que não aceitava era que eu visse pornô, algo que eu fazia numa tentativa de me excitar. Encarava como uma pseudoinfidelidade. Como você pode ter vontade de ver isso e não de dormir comigo?”, me perguntava.
Segundo Toni Martín, “a mulher fez sua revolução sexual, mas o homem ainda tem a sua por fazer. E se as fêmeas tiveram que ganhar mais protagonismo, ser mais ativas e exigentes, e tomar consciência de seu próprio corpo e poder, os machos têm de fazer justo o contrário: descer do pedestal, deixar o trono, humanizar-se. Romper com o mito de que tem de estar a postos, estar sempre disposto e ser capaz de proporcionar prazer à mulher a todo o momento. A própria ideia dessa tarefa já é estressante e esgota, mas este trabalho também se tornou mais complicado desde que elas ganharam mais interesse pelo sexo e o prazer”. As exigências aumentam e a testosterona baixa.
Outra variante do homem sem desejo é daquele que, ao mesmo tempo que recusa ter relações com sua parceira ou outras pessoas, continua se masturbando. Algo que muitas mulheres, especialistas na arte de levar tudo para o lado pessoal, desaprovam vivamente. “Aqui não estaríamos diante de um caso de falta de desenho, mas se trata de outra situação”, afirma Toni Martín. “O homem entra no sexo por dois estímulos: o visual e o genital. São duas vias muito potentes, mas ao mesmo tempo muito frágeis e que podem erodir-se com a conveniência ou a rotina. Neste caso, os sexólogos aconselham uma terapia de sensualidade corporal, adiar o coito por algum tempo para ir recuperando a excitação”.
Outra explicação para esta atitude é a que Molero propõe, que se assemelha à da omelete francesa, esse recurso rápido e fácil de que a gente lança mão quando chega em casa esfomeado e não tem vontade de preparar um peito de frango empanado. “A pressão para estar pronto ou de ser o amante perfeito faz com que muitos homens, quando têm desejo e estão muito cansados, optem pela via da masturbação, porque é algo rápido, simples e isento de qualquer tipo de avaliação por parte de outros”, afirma esta especialista.
“Uma das descobertas mais interessantes da sexologia das últimas décadas é que a sequência desejo-excitação-orgasmo nem sempre segue essa ordem”, diz Martín. “Às vezes pode vir primeiro a excitação e, através dela, se chega ao desejo. É algo importante a levar em conta, porque não devemos nos limitar a ter relações somente quando ardemos de desejo. E, por outro lado, o filtro amoroso ou sexual ainda não foi inventado.”.
O estresse, o medo de perder o trabalho – no caso de que se tenha um – ou de não encontrar outro – se a pessoa estiver desempregada – é outro dos inibidores do desejo. Ao mesmo tempo, acredita-se que os disruptores endócrinos (substâncias que se unem a um receptor hormonal, alterando o efeito normal do hormônio), presentes na poluição e nos alimentos, baixam os níveis de testosterona – o hormônio do desejo – em ambos os sexos. Eu diria que a Terra se defende com sofisticados métodos dessa espécie tão danosa, intolerante e incapaz do diálogo, que é a raça humana.
There is no gay cure
By José Joacir dos Santos, Psychotherapist
The more Israel makes access to libraries with ancient books and papyri the richer the knowledge of the written history of biblical times. With this, the contrasts of the Christian Bible vanish, clearing up doubts and clarifying misconceptions, even geographical, of writers and their times – there are many errors. The difficulty with this process is that it needs people who are specialized in languages, both current and ancient, that Brazil has not yet considered. College language courses are poor and useless. Let’s use as an example a living language and most spoken in the world: English. The Brazilian universities courses form English-speaking bachelors who cannot speak or pronounce basic words in English. Time and money is being wasted, until when?
We cannot point our finger to ignorance, but we are losing time. One of the pressing issues is homosexuality. Internet social groups are debating that issue every day, especially when one or another avid evangelical pastor tries to pass homophobic readings on the National Congress, based on the principle of ignorance and blindness that guides pastoral training courses in Brazil, of all Christian sects.
Formerly there were serious courses in theology, but today only three months, and even less, is enough for an individual who has never read more than the compulsory books of high school in his entire life, to be graduated as an evangelical pastor. Apart from money raised by evangelical sects and churches, and no small amount, the only goal of the clear majority of them is material enrichment. With the power of money, drawn from the misery of the people, they go to work politically to elect more pastors for public offices, hoping to one day make Brazil a religious, evangelical, fundamentalist, blind and backward country. They are doing a good job on that way, like is a conspiracy movement.
What is most surprising is to see people graduating from higher level universities, professing the evangelical sects ending up to be silent in the face of ignorant acts of moral repression of those sects. Some use a low and aggressive language like “gays go to hell”, “gay is an abomination”. There is also a non-evangelical group, which calls itself spiritualist, and would be linked to the White Brotherhood, which states on their website that “gays will not ascend.” The White Brotherhood, which I know well, must be with their hands on their ears with this ignorant and senseless noise. Who can point the finger in God’s name? People born gay. It’s a karmic issue. No matter how hard they try, no one manufactures gay individuals.
There is no evidence that Jesus has positioned himself against gays. Quite the contrary, the teachings of the Master, uncensored, teach love to others without distinction. One of his examples was to accept as a disciple the ex-prostitute Magdalene, who became closer to him than the male disciples – not because of her physical attributes, But because of the intelligence and sensitivity she had. What transpires from Bible’s study, from uncensored and directly translated versions of Hebrew and Aramaic, is that the apostle Peter was extremely jealous. He used to keep men far from Jesus and hated the close presence of Mary Magdalene or any other woman, including the mother of Jesus. There is a specific passage from one of these bibles in which the author says that Peter prevented homosexuals from approaching Jesus. Why did he behave like that? Did Peter want Jesus beyond fraternal love and did not know how to express himself, confusing everything?
It is known that in the culture of the people of the Middle East, since the time of Jesus, that the affective relations between men have always been kind, cordial, to the point of having exchanged kisses in public, go hand in hand, sleep together as still happens in the great majority of the countries of that region, both among the Arabs and between Muslim Arabs and non-Arabs and Jews. This also exists in Eastern countries such as Nepal and Tibet. So why are Brazilian evangelical pastors so homophobic? What is forbidden among Muslims is the kiss between man and woman, in public, but not between men. There are some poor interpretation of that, but it does not represent the entire picture.
The bible is full of wars record but also speaks of homo affective relationships. The life of King David, celebrated by Catholics, Protestants and Jews, is a wonderful example of the blindness and censure of Christian and evangelical sects in out timeline. As I mentioned in one of my books, King David was gay, had a lasting homo affective relationship with the son of King Saul, Jonathan (Samuel 17-18, page 404 of the Ecumenical Bible, Ed. Edelvives, Spain, 2015, translated directly from original texts in Hebrew, Greek and Aramaic), had 16 children with different women because procreation is not a physiological issue. What he did was to politically please those tribal chiefs who offered him virgin daughters as gifts for David’s fights in favor of those tribes.
Procreation was important, but it was also interpreted by Bible translators who had to satisfy the powerful of the Catholic and Lutheran Church. In biblical times, it was necessary to marry and have many children to keep the lands and to have soldiers for the wars. Who needs this nowadays, since humanity has reached exhaustive population limits? Even today Indian gays, Iranians, Arabs, Muslims, Americans are forced to marry and have at least one male child, to quiet and please the family on both sides. Regardless, they have their homo affective lives parallel, as is visible to those who live in New Delhi, Riyadh, Kathmandu, Kabul, Tehran, Cairo or any Iranian and Pakistani city. In Israel, where there is gay parade every year, gay life is full and active. Many gay Jewish men marry women to meet the demands of families, but nothing prevents them from being found in the gay bars and nightclubs of Tel Aviv. In Brazil, brave evangelical boys are already beginning to raise their voices, but the oppression of sects and church is great and families point the finger more strongly than the courts in the inquisition. It does not mean that some boys and girl can get married and be happy together.
The attempt of some evangelical pastors and part of the Catholic Church, as well as the Muslim fundamentalists and murderous groups acting in the name of Islam, is purely political. There is no link between sexuality and spirituality. Sexuality is purely physical, it belongs to the physical body, it is mortal, it is torn from the spirit and it follows its path in the proper dimensions of spirituality without the slightest remembrance of physical sexuality. In the Indian religions and sects this question was pure and simple until the arrival on that continent of the Protestant Queen Victoria, of England, who occupied India and Pakistan for many years. The strengthening of spirituality, which should be done by sects and churches, has nothing to do with the physical body. Spirituality is a thing of the divine spirit that exists in every human being, independent of religion. As Pope Francis said, “who am I to judge” a person for the sexuality?
The English had, at the time of that queen, a tradition of burning at a public campfire anyone who thought differently from the royal family in any aspect, including religious. King Henry VIII published several modified editions of the Bible to satisfy his own ego and better manage his sexual and political problems, with the help of his mistress Anne Boleyn, who would come to declare Queen of the British Empire and decapitate by betrayal – but the truth is he had his eye on another woman and wanted to change the bed. With genetic problems, he blamed the women for not having male children. The version of the bible translated by Anne Boleyn also had an enormous political imprint, with the intention of eliminating its opponents from the court. The concern was not the teaching of Jesus, as do the Brazilian evangelical sects and churches today, including in African, Asian, and other countries.
Homophobia has come to court in several countries around the world. In the United States, where most of the white and black population is evangelical, freedom for the gay population has only reached a few states. Even so, the World Health Organization, the mandatory body of the United Nations, to which Brazil is affiliated, has declared the definition of homosexuality as a disease to be inconsistent for more than 15 years. The American bodies, equivalent to the Brazilian Council of Psychology, removed from their lists the homosexuality like disease by lack of scientific foundation. In Brazil, the Federal Counsel of Psychology, although delayed in many aspects of mental health, also advises against the treatment or the so-called “gay cure”, for lack of scientific consistency.
Despite of that, the Brazilian National Congress, which lives taking care of the private and financial interests of deputies and senators, with the help of the popular vote, sleeps.
The subject is vulnerable in the hands of insecure, unhappy, avid editors and money from ultraconservative and fundamentalist evangelical groups who only think of using fear to suppress their followers and expand that ideology into non-evangelical but ignorant Brazilian society. The reading statistic among Brazilians is poor, compared to countries still in development. Many of those who join the ranks of evangelical brainwashing are uneducated, poor, emotionally vulnerable, full of fear, that fear that comes from the Old Testament, where the followers of Moses did not admit anything that was different from their own thinking – despite of the diversity among the Jewish tribes of that time. The situation was like this: an eye for an eye, a tooth for a tooth. Whoever does not agree with me is my mortal enemy and perishes at the stake.
Fear is the weapon of today’s evangelical churches – and there are many good and honest people lost in that big cake. Out of fear, they become millionaires and, without any embarrassment, transfer dollars to their accounts abroad, as the press often reports. What bothers most know about this is the fact that good evangelical people do not manifest themselves against that abuse committed in the name of Jesus, just as the good Germans did not raise their voices against Hitler’s killing – who had serious problems his sexuality.
What gays need to heal in psychotherapist practices the traumas of family repression, neighbors, schoolmates, teachers, pastors, priests and other religious leaders not the natural physical condition of being gay because that is not an emotional or a psychological issue – it is also hereditary. There are many gay, neurotic, repressed because of abusive of their family life. The family is the first group to repress, abuse, and demonstrate homophobic intolerance. Thousands of gay youths, if they are not murdered as they are in Brazilian states like Paraíba, must flee their home and their region to survive and have a free life. Yet they face the homophobic hatred of the churches tha should support them. Only those who are strong, who seek spirituality outside the sects, churches and family groups survive this cauldron. In Brazil of the present time only the strong survive, who fight for emotional health, who get rid of trauma and sexual abuse, who repudiate the harassment and who vote for political leaders able to leave the sex for their moments of privacy.
Homosexuality has never been and will not be a disease. There are brilliant gays throughout the history of mankind, even in present-day history, occupying positions that make a difference in the loving and healthy gaze of mankind. Those who try to come up with the so-called “gay cure” need to consult with specialized therapists who are free of this paranoia. The mental illness is the one who points the dirty finger trying to turn the table, as is the case of a frustrated former Brazilian psychologist. She had the professional registration canceled by the Federal Council of Psychology for malpractice, affiliated with evangelical fundamentalist entities, got a job in an office of evangelical politician and from there tried to manipulate Brazilian justice, which is sometimes blind.
Por que homens héteros fazem sexo com homens
Sim, você leu certo: homens que fazem sexo com outros homens e não são homossexuais. É mais habitual do que se pode imaginar. E é bem simples: um homem heterossexual conhece outro (num bar, numa rede social, tanto faz) e eles decidem fazer alguma brincadeira sexual. E, como se não bastasse, gostam. Depois, cada um segue com sua vida perfeitamente hétero, sem que o encontro os faça duvidar da sua orientação. O que leva alguns homens a essas práticas? E por que é incorreto catalogá-los como gays?
Hoje em dia, a aceitação da diversidade sexual é muito maior do que no passado. “À medida que há uma maior tolerância, todos saímos um pouquinho dos nossos armários”, argumenta o psicólogo, psicoterapeuta e sexólogo espanhol Joan Vílchez. “Homens que não chegam a se sentir muito satisfeitos sexualmente podem ter a chance de manter relações com outras mulheres, com um homem, ou de experimentar certas práticas que em outros tempos eram mais censuradas.” Para Juan Macías, psicólogo especializado em terapias sexuais e de casal, “conceitos como heteroflexível ou heterocurioso estão permitindo aos homens explorar sua sexualidade sem a necessidade de questionar sua identidade como heterossexuais”. Por outro lado, a Internet facilita o contato, que pode ser virtual ou físico.
A orientação sexual é construída socialmente, são categorias rígidas e excludentes, com implicações que afetam a identidade individual e social”
Os especialistas acham isso a coisa mais natural do mundo, pois partem da premissa de que uma coisa é a orientação sexual de um indivíduo, e outra as práticas que ele realiza. “A orientação sexual”, explica Macías, “é construída socialmente, são categorias rígidas e excludentes, com implicações que afetam a identidade individual e social”. Forçosamente, alguém precisa se encaixar em alguma destas três classificações: heterossexual, homossexual ou bissexual. Por outro lado, “a prática sexual é mais flexível e mais livre, é um conceito descritivo. Um espaço tremendamente saudável na exploração do desejo se abre quando a pessoa se liberta da identificação com uma orientação sexual”, diz Macías.
Isso é tão natural que vem de longe. Na Roma antiga, não era raro que um homem comprometido com uma mulher mantivesse um amante. Por não falar do que acontecia nos bacanais. E jovens de todas as épocas recorreram a passatempos com uma conotação sexual difusa. “Na adolescência é bastante comum que haja jogos de certa forma associados aos genitais: ver quem urina mais longe, ver quem tem o maior, existem toques…”, diz Vílchez. “Não deixam de ser incursões homossexuais, mas ainda prepondera o modelo heterossexual, e acontecem a partir da transgressão própria da juventude”, observa o psicólogo.
Um novo modelo: SMSM
Em 2006, um estudo sobre a discordância entre comportamento sexual e identidade sexual realizado por pesquisadores da Universidade de Nova York revelou que 131 homens, de um total de 2.898 entrevistados, admitiram ter relações com homens apesar de se definirem como heterossexuais. Pelos cálculos dos especialistas, esse grupo representa 3,5% da população. Há anos, os médicos empregam a sigla HSH para se referir ao conjunto dos homens (héteros ou gays) que fazem sexo com outros homens. Mas, recentemente, aflorou outro acrônimo mais preciso para definir esse grupo: SMSM (“straight men who have sex with other men”, ou homens heterossexuais que fazem sexo com outros homens). Sites como o Straightguise.com se dedicam ao tema.
Em julho, saiu os EUA o livro Not Gay: Sex Between White Straight Men (“Não gay: sexo entre homens brancos heterossexuais”), em que a professora Jane Ward, da Universidade da Califórnia, fazia a seguinte colocação: uma garota hétero pode beijar outra garota, pode gostar disso, e mesmo assim continua sendo considerada hétero; seu namorado pode inclusive estimulá-la a isso. Mas e os rapazes? Eles podem experimentar essa fluidez sexual? Ou beijar outro garoto significa que são gays? A autora acredita que estamos diante de um novo modelo de heterossexualidade que não se define como o oposto ou a ausência da homossexualidade. “A educação dos homens tem sido bastante homofóbica. Fizeram-nos acreditar que é antinatural ter esses impulsos por outros homens”, explica Vílchez.
Experimentando, experimentando
O perfil mais estendido é o do explorador sexual: aquele a quem gosta de provar coisas novas
As motivações, logicamente, são múltiplas. O perfil mais difundido é o do explorador sexual, que gosta de provar coisas novas. “Experimentar uma relação homossexual é uma novidade para ele e, mesmo que ele goste, não podemos dizer que seja homossexual, e sim que goste dessa prática”, diz o médico de família e sexólogo Pedro Villegas. Vílchez compartilha dessa ideia. “A bissexualidade está muito na moda, e na verdade somos todos bissexuais: se você fechar os olhos, dificilmente conseguiria identificar quem está lhe acariciando, se é um homem ou uma mulher. Não há um homem que seja 100% homossexual, nem 100% heterossexual”, sentencia.
Outra das causas é um desencanto com as mulheres, frequente depois de alguns rompimentos conjugais. Vílchez explica: “Quando um casal heterossexual está em crise, é habitual que alguns homens sintam que não se entendem com as mulheres, que são incapazes de se dar bem com elas, e é como se olhassem para o outro lado. Acontece uma espécie de regressão, volta-se a um estágio anterior no qual os homens se sentiam bem juntos, como na adolescência. Em muitos casos é uma necessidade mais afetiva do que realmente sexual”.
De fato, para esse especialista, essas relações eróticas às vezes escondem uma necessidade de afeto que o homem não está acostumado a expressar. “Nos homens há muita tendência à genitalização. Entre a cabeça e os genitais há o coração, que representa os sentimentos, e os intestinos, que simbolizam os comportamentos mais viscerais e as emoções mais intensas, e é como se os homens tivessem aprendido a fazer um desvio: passamos da cabeça diretamente para os genitais, sem viver plenamente as emoções. No caso das mulheres, por tanta repressão da sua sexualidade e por medo da gravidez, acontece o contrário: elas têm muita dificuldade de genitalizar. Para um homem às vezes é mais fácil fazer isso do que expressar emoções mais sutis ou dizer a outro homem: ‘É que me sinto inseguro, tenho medo, sinto-me frágil, não sei o que quero’.”
O impulso narcisista
Entre os homens héteros que vão para a cama com outros homens também há muitos narcisistas. “É aquele sujeito que gosta que prestem atenção nele. Acontece muito nas academias de ginástica: ele gosta de despertar admiração, e não se importa se isso provém de homens ou mulheres”, aponta Eugenio López, também psicólogo e sexólogo. Outros simplesmente têm vontade de transar e recorrem a inferninhos gays, porque acham que lá será mais fácil.
Há homens heterossexuais que se envolvem com homens porque gostam; outros, por falta de alternativas – pensemos nos que são privados do contato com mulheres por períodos prolongados (será que eram mesmo gays os caubóis de O Segredo de Brokeback Mountain?). “O ser humano se rege por seus pensamentos”, argumenta López. “E, se ele acreditar que está perdendo sua sexualidade pela falta de uma mulher, pode reafirmá-la com outro homem. Costuma começar com um simples roçar.”
Se não houver conflito, não há problema
Alguns desses neo-heterossexuais podem ter sentido impulsos desse tipo no passado, mas sem se atreverem a dar o passo. “Aí vêm as circunstâncias da vida que colocam isso de bandeja e eles decidem viver a experiência, mas isso gera um conflito para eles, porque por um lado lhes proporciona prazer, mas por outro ameaça um pouco seu status e sua imagem: ‘Sou ou não sou?’, perguntam-se”, comenta Vílchez. Também podem ficar confusos aqueles que chegam ao SMSM pela carência de uma figura paterna positiva na sua infância: “Às vezes, para reforçar sua masculinidade, integram-se a atividades ‘de homens’ (futebol, musculação) ou têm contatos sexuais com outros homens, mas o que procuram é sobretudo compreensão e carinho”, acrescenta. Os psicólogos são unânimes em dizer que sua intervenção é dispensável quando essas experiências não provocam um conflito no indivíduo. “Se não estão incomodados, não há nada para tratar”, conclui Villegas. (*) Publicado no jornal espanhol El País, de 28 de agosto de 2015
A história de amor do Rei David
Por José Joacir dos Santos
A história do Rei David é uma das mais trágicas do Antigo Testamento ou da bíblia judia. Se você fizer uma comparação com as notícias de jornais dos dias atuais, é mais sangrenta e cheia de ódio que as batalhas entre palestinos e judeus nos dias atuais. O que se sabe sobre a censura dos textos antigos é que a Igreja Católica, e depois os protestantes, o fizeram por interesses políticos próprios, não do povo nem de Jesus (por exemplo, a Bíblia Sagrada, que diz trazer o Antigo e o Novo Testamento, publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil em 1969, suprime totalmente a história de amor entre David e Jonathan). Tanto nos livros apócrifos (livros excluídos) quanto nos originais dos livros permitidos nas línguas hebraica e grega a história sem censura é muito mais interessante, esclarecedora e realista.
Infelizmente, no Brasil e em toda a América de língua espanhola, a população não tem condições nem acesso à verdade sobre aquelas histórias apresentadas nas bíblias originais. O grande exemplo da censura é a história do relacionamento afetivo entre o futuro Rei David e Jonathan, filho do Reiki Saul.
A Bíblia de Jerusalém, publicada em Bilbao, Espanha, pela Editora Desclée de Brouwer, em 2009, e incrivelmente aprovada pela Comisión Permanente de la Conferencia Episcopal Española, totalmente revisada, deixou passar tesouros da história do povo judeu. Nela, o 1º. Livro de Samuel, capítulo 18, detalha a história do Rei Saul, percussor do Reik David e conta a história de amor entre o filho do Rei Saul, Jonathan, e cuidador de ovelhas David. Conta que o Rei conversava com seus soldados em certo lugar e viu um pastor de ovelhas do cabelo loiro, alto e forte, muito jovem e perguntou quem era ele. Trouxeram o jovem até o Rei Saul, que o interrogou sobre sua procedência (quem era o pai, onde morava, como era o costume judeu da época).
Enquanto o Rei falava com David, seu filho Jonathan se aproximou e imediatamente se apaixonou por David. Sim, amor à primeira vista, e foi recíproco. Daquele momento em diante, um usava a roupa do outro e a felicidade se instalou em suas vidas, com declarações públicas de amor. David cresceu e demonstrou todos os seus talentos, inclusive para a arte da guerra. Todas as missões de guerra que o Rei lhe mandava eram um sucesso absoluto. Figura simpática, todos gostavam dele, desde os colegas soldados aos escravos do Rei. A popularidade de David cresceu tanto que o próprio Rei começou a ficar enciumado e apagado. O ciúme passou a perseguição quando o Rei descobriu que os dois não eram só amigos.
Para se livrar de David, o Rei lhe encarregou as mais difíceis e cruéis missões na esperança dele ser assassinado e ele não ter que matá-lo. Numa daquelas missões, o Rei mandou David dizimar um grupo inimigo e trazer 100 prepúcios. Aplicado, David trouxe 200. A circuncisão, assim como a procriação, tinha um efeito religioso poderoso perante os judeus. Quando queriam se referir a alguém inferior chamavam de incircuncisos (os que não eram circuncidados). Arrancar o prepúcio de um homem era humilhação das piores. Imagine como isso deve ter sido feito… Aquelas batalhas eram as mais sangrentas possíveis e depois delas havia saques de bens e sequestros de mulheres iguais aos que hoje fazem os islâmicos no Oriente Médio.
O Rei prometeu uma filha a David e nunca cumpriu a promessa. Em vez disso, tentou matar o futuro Rei de Israel, que saiu de casa foragido e teve que se esconder com os soldados que lhe seguiam. Jonathan também escondeu o amado nos lugares mais difíceis para o pai não o encontrar mas o poder do Rei comprava espiões em todas as partes.
David teve a oportunidade de matar o Rei, chegou bem perto dele, arrancou um pedaço de suas vestes, mas não o fez porque aquele homem era tido como o protegido de Yahveh (Deus). David também o respeitava por ser o pai do seu amado Jonathan e o homem que lhe tirou da pobreza. Em vez de matá-lo, David se ajoelhou aos seus pés e lhe perdoou por toda a perseguição que ele desenvolvia. Covarde, o Rei voltou a lhe chamar de filho querido, mas depois disso ainda tentou matar David até que ele mesmo foi morto junto com seu filho Jonathan e dois de seus irmãos em uma batalha. O ato de perdoar cortou a energia e ela, negativa, voltou para a origem. David recebeu a notícia da morte do amado e disse:
Cheio de angústia por ti, Jonathan, irmão meu, extremadamente querido. Teu amor foi para mim mais delicioso que o amor das mulheres. (Samuel, 1º. Livro, Capítulo 18, Versículo 26).
A vida de David segue em frente. Será coroado Rei. Arrasará todos os seus inimigos e os da derrotada casa do Rei que lhe odiou tanto. Terá cerca de 20 filhos, reconhecidos, fora os não reconhecidos e casará oficialmente com duas mulheres assim como aceitará de presente outras mulheres para agradar a seus comparsas e cidadãos comuns em busca da proteção do Rei. Descobrirá que Jonathan deixou um filho, que já é pai, e mandará buscá-lo para viver com sua família e almoçar todos os dias com o Rei. Nunca amará uma mulher como amou a Jonathan e isso era o costume naquela cultura, assim como ainda hoje é em muitas culturas daquela região do Oriente Médio como os muçulmanos, que casam com quatro esposas para parecem bem diante da sociedade… mas se divertem entre homens.
A cultura antigay, cheia de proibições é fruto exclusivo da Igreja Católica, assinado em baixo pelos protestantes e não tem nada a ver com os ensinamentos de Jesus. Não há registro de uma só palavra de Jesus contra gays, ainda mais ele que escolheu somente homens entre seus seguidores, como era o costume da época e a própria Igreja tenta retirar as futuras participações das mulheres na história do próprio Jesus, como Maria Madalena, descrita apenas como uma prostituta (hoje se sabe que não foi bem assim, Madalena teve uma grande participação junto aos primeiros cristãos).
Isso tudo é política, não é religião. Foi fortalecida pela intelectualidade exacerbada de um franciscano que tinha uma amante e com ela teve um filho que jamais reconheceu: Santo Agostinho. Outro que alimentou proibições e trouxe a sexualidade como tema político para a igreja foi Lutero, no qual Hitler se inspirou para matar 6 milhões de pessoas, judias e não judias, inclusive gays, católicos, ciganos, cadeirantes e toda pessoa que tivesse um defeito físico. Foi Lutero quem escreveu o livro ¨Sobre os judeus e suas mentiras¨, o qual diz que os judeus devem ser mortos, seus bens confiscados e as sinagogas incendiadas, publicado em 1543, quando o Brasil acabava de ser descoberto pelos portugueses.
Quanto ódio implantado em milhares de seres humanos desde mais de dois mil anos atrás e repetido pelas pessoas mais inocentes que sequer sabem a divisão entre novo e velho testamentos. Que seguem fielmente as inverdades e falsificações de publicações bíblicas censurados, mal traduzidas e implantadas em corações e mentes que, como ovelhas, seguem os falsos pastores das igrejas.
Que o amor de David e Jonathan possam inspirar aqueles que se libertam da opressão, do ódio e da escravidão dessas igrejas.
Como sair do armário no esporte mais duro quase me levou ao suicídio
Por Miguel Angel Bargueno, El Pais, 15/09/2015
Homens fortes chocando-se, narizes quebrados, lama. Essa é a ideia que, na Espanha, um país pouco amigo do rugby, podemos ter desse esporte que anima as massas no Reino Unido. Mas para Gareth Thomas, jogador emblemático do País de Gales, o primeiro a jogar 100 partidas por sua seleção, a parte realmente difícil foi ter que manter em segredo que é gay. “A batalha que tive que travar como pessoa foi dez vezes pior que as batalhas no campo. Eu era forte fisicamente, mas mentalmente fraco e com medo”, diz.
Foi no final de 2009 que Thomas (Bridgend, 1974) tornou pública sua homossexualidade. Levando em conta as poucas saídas do armário registradas no esporte, é possível suspeitar que anunciar sua homossexualidade no vestiário de um time de rugby não deve ser fácil. Nesse momento, já no final de sua carreira, Gareth Thomas admitiu ao Daily Mail que sabia de sua orientação sexual desde que tinha 16 anos, mas manteve tudo em segredo porque “sabia que nunca seria aceito” no “mais duro e machista dos esportes masculinos”, disse ele. “O rugby era minha paixão, minha vida, e não estava preparado para arriscar a perder o que amava.” E acrescenta: “Isso quase me leva ao suicídio”.
Sua experiência se torna atual porque a marca mais popular de cerveja escura, a Guinness, a escolheu como argumento para seu último anúncio. Já é conhecido que a tendência da moda na publicidade é o storytelling (contar uma história): as empresas se recusam a divulgar os benefícios de seus produtos, agora tudo é relato. Histórias de cervejeiros espanhóis que viajam ao sudeste da Ásia (San Miguel), de músicos de rock que evocam suas primeiras cervejas em Madri (Mahou) ou de jogadores de rugby que estiveram à beira do suicídio por medo de serem proibidos de sentir o prazer de chutar uma bola oval, o que Gareth mais gostava de fazer.
“Eu estava com medo de que todo mundo me virasse as costas”, diz ele no anúncio com cara de quem tirou um peso das costas. Com um estádio vazio no fundo, seu discurso é salpicado por imagens violentas de rugby e suave música de piano. “Eu não conseguia dormir, não conseguia fechar meus olhos, sentia pânico da escuridão”. No final de um jogo em que sentiu que não tinha rendido ao máximo, desabou na frente de seu treinador. “Não conseguia parar de chorar”, lembra. Felizmente, o técnico o apoiou. “Essas pessoas te amam”, disse ele, referindo-se a seus companheiros de equipe. Apesar de tudo, soltar a bomba para eles foi, para Thomas, “a coisa mais difícil que já fiz na minha vida”.
A batalha que tive que travar como pessoa foi dez vezes pior que as batalhas no campo. Eu era forte fisicamente, mas mentalmente fraco e com medo”, revela o atleta
Os maus presságios de Gareth não se cumpriram. Colegas de equipe e fãs apoiaram o jogador de 1,92 metros, no momento que ele mais precisava. “Quero agradecer a todos pela resposta incrível que recebi, em meu nome e no de minha família e amigos”, disse ele dias mais tarde. Robert Norster, presidente dos Cardiff Blues, onde jogava na época, dedicou palavras de elogio a ele: “É uma honra para esta equipe, alguém que contribuiu com honra para esta camiseta como um grande jogador e líder sólido. Sua vida privada só diz respeito a ele”. Isso não evitou que Gareth sofresse anos de angústia por esconder sua sexualidade porque achava que atrapalharia sua carreira.
Se a vida de Thomas serve para vender cervejas, também poderia ser utilizada para vender entradas de cinema. Embora com Mickey Rourke por trás do projeto nunca se sabe. O filme está há quatro anos dando voltas sem que, por enquanto, pareça que vai realmente ver a luz. Agora em 2015 Rourke tentou vendê-lo em Cannes, e fala dele em entrevistas, antecipando pérolas como que, caso ele interprete Thomas, “vai tirar os dentes postiços” para as cenas íntimas. As últimas notícias de Hollywood sugerem que Rourke está pensando, já que nos Estados Unidos a maioria das pessoas não sabe o que é rugby. Os planos de filmagens no País de Gales foram mudados para a Irlanda e a trama, longe de biográfica, seria baseada em um conceito mais amplo da homossexualidade no esporte (o filme poderia ser chamado Irish Thunder – Trovão Irlandês).
Em 19 de fevereiro os sofrimentos de Thomas chegaram ao teatro. Naquele dia estreou em Cardiff (País de Gales) a obra Crouch, touch, pause, engage (as instruções que dá o árbitro de rugby antes da formação inicial das jogadas, conhecida como scrum), baseada em sua vida e escrita sob sua supervisão. Depois da estreia, a obra percorreu o resto do País de Gales e Inglaterra. Aos 41 anos, Thomas, que ainda é conhecido em sua terra natal como Alfie (por sua semelhança com Alf, o personagem da popular série de TV) tornou-se um exemplo de integridade e resistência por seu sofrimento injusto, em um ícone gay (o primeiro grande atleta britânico a sair do armário) e uma celebridade que participa na versão britânica do Big Brother VIP ou posa nu para Attitude, a revista gay na qual falou de seu namorado, Ian Baum, dez anos mais velho: “Sinto que é a peça final do quebra-cabeça”.
observação: a foto que ilustra este artigo foi copiada da internete e não identifica a pessoa.