Por José Joacir dos Saantos, jornalissta e psicanalista
Mesmo antes da pandemia o brasileiro, de forma geral, já estava doente. Uma das doenças é a obesidade. A causa é bem simples: a alimentação errada. Desde os anos 1960 começou o êxodo das famílias para as cidades, empurradas pela necessidade de educação, conforto, as secas e o abandono dos pequenos agricultores por parte do governo. Outro ponto importante foi a ilusão de emprego fácil. O conjunto daquelas forças contribuiu para a decadência dos hábitos alimentares e a desvalorização das nossas tradições familiares do campo. Não só porque a cidade oferecia maiores opções de guloseimas, mas, também, pela qualidade dos alimentos disponíveis. Não foi só a necessidade de produzir mais que fez a qualidade cair. Foi uma mistura de ganância, desonestidade e descaso das autoridades de saúde ao longo da história do país, pós 1964. Um litro de leite passou a virar quatro, isto é, mais água que leite puro. As indústrias estrangeiras trouxeram suas mazelas e o país pode ter ganhado emprego, mas perdemos a saúde. E qualidade da água que colocam no leite?
A abundância do açúcar no Brasil favoreceu à esperteza. Se antes alimentou a escravização do africano, agora o faz com a alimentação. Quanto mais açúcar nos alimentos mais a clientela compra. Até a abundância de cacau não foi um motivo para o país produzir chocolate de qualidade. Fomos acostumados a comer algo com cheiro de chocolate e cheio de açúcar. Quando fui à Suíça pela primeira quase fiquei bêbado ao comer um chocolate puro. Advinha de onde aquele país importava grande parte de seu cacau para a fabricação de chocolate? A Suíça não tem plantação de chocolate. A falta de educação básica na alimentação também é um grande problema: nas famílias mais pobres, há sempre uma reserva para comprar balas e doces para crianças porque elas dormem. A açúcar deprime. Enquanto dormem, a casa descansa.
Há outras desinformações na alimentação, especialmente a ilusão de que carne é sustança. Famílias preferem comprar um quilo de carne a encher a cozinha de legumes, verduras e frutas produzidas na vizinhança. Viajando certa vez pelo interior da Paraíba, parei em na beira da estrada para comprar frutas da época. Puxei conversa com a mulher que vendia caju, com a cabeça coberta para se proteger do sol. Como vai a vida? Ela respondeu que estava difícil, só tinha mandioca e caju para comer. A expressão facial dela ao responder era como se mandioca e caju não fossem, por si, alimentos ricos. De longe vi o pé de jaca da propriedade daquela mulher carregado de frutos. Lembrei que havia na região a crença de que, se não houver carne na mesa, a família está passando fome.
Parece que tem alguma coisa errada no DNA do povo brasileiro. Hoje em dia, se você fala que a mata está pegando fogo, tem gente que precisa entrar na mata e tocar no fogo para chegar à conclusão de que, sim, tem fogo. Mesmo assim, tende a dizer que se trata apenas de foguinho. Se o fogo for longe de onde está, a pessoa tende a dizer que é mentira da imprensa ou a fingir que aquilo não é um problema para o planeta inteiro. Isso, infelizmente, se alastra na sociedade brasileira como um todo. Como podemos chamar isso? O autojulgamento, baseado nos achados pessoais, influenciado por ideologias religiosas, é lei. Vale muito mais que a constituição do país. Esse comportamento cresceu muito desde meados do governo Dilma, quando as forças contrárias, internas e externas, se uniram para derrubá-la e, consequentemente, deter o crescimento do país. Não interessa à direita internacional que o Brasil e a América Latina se desenvolvam e se eduquem. Quanto mais ignorância, melhor.
No momento em que escrevo este artigo, a imprensa internacional noticia a prisão de um poderoso assessor do presidente Trump, por corrupção. Sim, é aquele que defendeu e arrecadou fundos para a construção do muro da vergonha que divide mexicanos e norte-americanos. A desculpa da construção do muro, pelo governo Trump, foi para impedir a entrada de mexicanos e latinos, que ele chama de estupradores, bandidos e traficantes. O que mais impressiona na notícia é que o mesmo cidadão é tido como uma espécie de “conselheiro” do presidente brasileiro de antes, durante e depois das eleições em 2018 — que a imprensa e a justiça dizem terem sido recheada de notícias falsas, manipuladas e tendenciosas. Até o nazismo ressurgiu no país.
Quantidade exagerada de açúcar, cordura trans (transfat), corantes e tudo o que não é saudável inunda a alimentação industrializada no Brasil, especialmente a partir de 2018, quando o novo governo instalou a militarização e a pastorização dos cargos públicos federais. Miliares têm uma excelente educação, mas direcionada para as suas especificas finalidades, não para administrar a pasta de saúde. Evangélicos, infelizmente, estão presos à bíblia e ao antigo testamento, isto é, distante da realidade de um país multicultural e laico. É como aquela antiga história entre o gato e o rato: quando o gato não está em casa, o rato se aproveita. E há quem reclame de negligência do governo federal.
Com a destituição de civis de cargos importantes da saúde e do meio-ambiente, os aproveitadores de plantão colocaram fogo na Amazônia e no centro-oeste. Na maior pandemia da humanidade, o sistema de saúde brasileiro foi largado nas mãos de prefeitos e governadores, nem sempre preparados e honestos. O Rio Grande do Sul, por exemplo, passou do status de estado com baixo nível de contaminação do Covid-19 para um dos mais contaminados, graças à incompetência de prefeitos e governador, preocupados, apenas, com a marcação política e territorial. O povo gaúcho foi largado à própria sorte. O sistema de bandeiras de mais alerta ou de menos alerta, além da briga constante pela abertura do comércio e dos frigoríficos, foi um grande fracasso. Como esperado, o tiro saiu pela culatra e o estado mergulhou em agosto de 2020, na pandemia sem controle, com inúmeras mortes e contaminados, mesmo que o governador e os prefeitos desmintam o tempo inteiro.
Voltando mais diretamente à questão da alimentação errada, o Dr. Peter Liu, de Campinas/SP, diz, em suas transmissões pelo Youtube, que a família brasileira começa o dia se envenenando. Ele aponta seis grandes erros alimentícios logo no café da manhã e detalha cientificamente: salsicha e todos os embutidos, leite, queijo cheio de lactose, mel de supermercado, cereais de maisena, suco de caixinha, margarina falsamente vegetal etc. Médicos alopatas quase sempre estão muito ocupados com suas fortunas e não se pronunciam com coisas que afetam a população. Mas, o fato, cientificamente comprovado, é que açúcar é energética e inflamatória. Tira o sabor dos alimentos e dá a falsa sensação de prazer. Frutas contém a açúcar que o corpo precisa, mas ninguém acredita.
De embutidos a medicamentos, a lactose é encontrada em todos eles. Quando as vacas comiam só capim, milho e viviam soltas no pasto, ninguém sofria de intolerância à lactose. Até os 60 anos de idade eu não sofria desse mal, que contraí no primeiro ano que morei na Espanha, comendo aqueles queijos deliciosos. Hoje nem se sabe a quantidade de pessoas afetadas. Tudo tem lactose, inclusive a margarina que a maioria da população come com o pãozinho no café da manhã. E não é só a lactose. Margarina é cheia de algo que a população não se preocupa muito: a gordura artificial chamada trans. Sim, o pãozinho da padaria não vem com manteiga, aquilo lá é margarina.
O leite atual é cheio de prolactina. Queijo tem 10 vezes mais lactose que leite. A lactose tem aumentado o número de asmáticos. Nos últimos anos, os hospitais gaúchos têm ficado lotados de pessoas com doenças respiratórias e até agora ninguém levantou a bandeira de que uma das causas pode ser o queijo, muito apreciado naquela população, todas as épocas do ano. Embutidos faz parte da dieta diário do povo gaúcho, onde a obesidade está alarmante. O hormônio do crescimento injetado nas vacas serve para aumentar a produção de leite, assim como nos alimentos artificiais que eles comem, podem estar contribuindo para o aumento da prolactina nos derivados de leite. Aqueles hormônios também estão associados à proliferação de câncer, das deficiências respiratórias etc.
A prolactina é uma enzima produzida, também, pela hipófise. A prolactina é quem estimula a produção de leite na mulher. O excesso da enzima da prolactina no ser humano provoca: falta de libido; menstruação irregular (oligomenorréia) ou ausência da menstruação (amenorreia); produção de leite sem gestação (galactorreia); disfunção erétil; osteoporose; tumor da hipófise. Perguntei a um fazendeiro quantas vezes por ano a maioria de suas vagas tinham relações sexuais e ele disse: nenhuma. Mas, produzem muito leite…
Outro veneno é o mel barato, que dizem ser de abelha e sequer tem cheiro de mel ou de abelha. Agora compramos açucarados que parecem mel de abelha. A frequência da internet está matando as abelhas e os inescrupulosos vendem açucarados como se fossem mel. E assim, o açúcar que o mel já tinha naturalmente toma uma forma piorada.
Aquele biscoito barato que se compra na feira do mês só tem açúcar. Cereais de maisena, cheios de açúcar e conservantes, estão destruindo a natural flora intestinal já na infância dos humanos. E os produtos integrais custam cada vez mais, proibindo o cidadão comum de dar atenção a eles por causa do preço.
Todos esses produtos estão diariamente no café da manhã dos brasileiros, de uma forma ou de outra, especialmente na boca de crianças filhas de pais irresponsáveis que não educam seus filhos a se alimentarem de frutas, vegetais e cereais naturais. Isso se perpetua de uma geração para outra. E assim a indústria alimentícia enriquece, a capacidade dos hospitais públicos diminui, a indústria de medicamentos fica mais milionária, o povo fica obeso, doente, e a qualidade de vida no planeta diminui. Só ricos e políticos ganham. O agronegócio aparece como desculpa para acabar com as florestas. O que eles não sabem é que sem floresta não há chuva. Sem chuva não há lavoura. Sem lavoura há fome, empobrecimento e miséria. Com fome, empobrecimento e miséria há violência e a violência já explode em todos os cantos do país. Está na hora de voltarmos ao campo.