Eles se alimentam da nossa autoestima, querem destruir qualquer um que esteja ao seu alcance. São psicopatas emocionais e é aconselhável interromper o relacionamento com eles
Por Inmaculada Ruiz, Jornal El País
ELE (ou ela) NÃO QUER comer o seu fígado: se alimenta da sua autoestima, da sua vitalidade e da sua segurança até destruí-la psicologicamente. Age sabendo o que está fazendo, sem remorso: ele não o tem porque é incapaz de sentir. É um psicopata integrado e você é a presa. Até 4% da população tem esse perfil predatório em diferentes graus; a maioria são homens.
Quando imaginamos um perturbado como esse, pensamos em Hannibal Lecter, o cruel assassino de O Silêncio dos Inocentes. Mas não é necessário assistir a filmes para encontrar alguém com essas características: estamos cercados deles. Os psicopatas não-criminosos têm o mesmo sangue frio e o mesmo objetivo daqueles que o são: destruir quem estiver ao seu alcance. Seu modus operandi é procurar uma presa, examiná-la, detectar suas fragilidades e seduzi-la com uma isca difícil de evitar. Ele vai te mimar como um pai se você perdeu o seu quando criança, dirá que você é sexy se você se sente complexada por causa do seu corpo, será engraçado se você se acha uma pessoa chata… Não existe melhor sedutor, é irresistível, enche você de atenções, seu WhatsApp é uma efervescência de corações, é o seu melhor confidente, te entende perfeitamente, vocês concordam em tudo… São almas gêmeas.
Mas tem algo no seu corpo que lhe dá um alerta, vagas sensações de inquietação; não pode ser tão ideal, suas palavras de amor sob medida soam falsas. Na verdade, o são: eles não as sentem, eles as aprendem. Você intui que algo não se encaixa, mas você não sabe o quê. Ele é perfeito! Você se entrega imediatamente: na cama é o melhor, você é o que importa, faz você transgredir seus próprios padrões. Outra isca, o sexo intenso e sem tabus. O relacionamento vai de vento em popa, as duas metades da laranja se encaixam perfeitamente… até que ele começa a fazer a destruir você. De um dia para o outro, desaparece sem avisar. Você se lembra de suas últimas conversas e eram de novela. Não entende nada. Você procura por ele, você o chama, mensagens sem resposta, o vazio e o silêncio como castigo. Você pede explicações e recebe, no melhor dos casos, respostas frias e curtas; você insiste. Ele faz você sentir que o está assediando, que está louca, que é ridícula, humilha você, nega que haja um conflito, evita o confronto. Agora você se sente culpada: você pergunta se talvez tenha sido muito impertinente, se não deveria ter ido tão rápido. Então começam os transtornos da vítima: pensamentos obsessivos, apego patológico, insônia, problemas de alimentação, de concentração. O psicopata, além disso, costuma agir isolando sua presa das relações familiares e de suas amizades, de modo que, quando tem a vítima dominada mentalmente, esta não sabe onde se agarrar.
Não procure mais explicações: você não o diverte mais, você já está presa sem resistência e ele está distraído seduzindo outra presa. Provavelmente já a rondava antes, pois são muito promíscuos e infiéis. E vai deixar você saber: irá com ela aos lugares que frequentava com você, será abertamente carinhoso com ela nas redes sociais ou mandará notícias de sua nova conquista. Você assume, aceita a derrota. Com a autoestima em frangalhos, você entra todos os dias nas redes sociais para saber dele, mas você ainda tem dignidade para colocar um ponto final. É comum que esse tipo de pessoa se dedique a destruir sua reputação, a mentir sobre você, a dizer a todos que você está louca… Mas depois de alguns dias sem contato, seu celular pisca: “Sinto falta de você” ou “Estou ouvindo nossa música…, sem você não sou nada”. Ele não vai deixar você escapar até que ele queira. O que fazer? Sobre este aspecto, os especialistas concordam com o conselho categórico de uma das maiores especialistas em predadores emocionais, a psicanalista Marie-France Hirigoyen: “Fugir, interromper completamente a relação, zero contato”. Bloqueie seu número no telefone e não permita nenhuma aproximação. Você se sente tentada a pensar que ele pode mudar, você sente pena dele e acha que ele voltará a te amar: esqueça-o, você é completamente indiferente para ele, nunca a amou, são incapazes de sentir. Para ele você é um mero objeto. O retrato dos especialistas é definitivo: esse predador não tem empatia, remorso, sentimentos, o resultado de sua crueldade o satisfaz.
Clinicamente, os psicopatas não são doentes, não podem ser curados: sofrem de um transtorno de personalidade para o qual não há tratamento. Eles tampouco o procuram: enquanto têm uma vítima, não sofrem. Quando o jogo acaba, o vazio que experimentam os devolve à caça. Acreditam serem seres superiores em inteligência e consideram que os sentimentos são uma fraqueza. Nunca sentiram, mas estudam os padrões humanos e se apropriam deles: sabem se mostrar tristes ou apaixonados, mas é puro teatro.
Embora agora você pense nisso, você não é uma pessoa frágil: ao contrário, essas pessoas desfrutam seduzindo pessoas inteligentes com personalidade forte que representam um desafio, que tenham as qualidades de que carecem para se alimentar delas. Você precisa de um terapeuta para lhe ajudar a descobrir por qual fenda emocional ele entrou. Ele a destruiu, mas, ao contrário dele, você tem saída.
Nota do editor: O artigo se refere a ELE mas essa situação emocional não depende do sexo ou do gênero.